Nascido em 1950, em Minas Gerais, Orlando Brito chegou ainda menino em Brasília, no início da construção da nova capital do Brasil, no começo de 1957. Começou a trabalhar com 14 anos, como laboratorista da sucursal do jornal carioca “A Última Hora”. Dois anos depois, já era fotógrafo. E ao longo dos últimos quase 60 anos, se tornou um dos mais importantes nomes na documentação da história de nosso país. Na madrugada desta sexta-feira, ele faleceu, aos 72 anos, em decorrência de complicações de uma cirurgia no intestino.
Brito passou pelas redações dos principais jornais e revistas brasileiros. Trabalhou para Veja, O Globo e Jornal do Brasil. E depois abriu sua própria agência de notícias, a ObritoNews.
Para muitos, o fotógrafo ia muito além de simplesmente registrar fatos ou acontecimentos. Suas imagens faziam relatos contundentes da nossa história, muitas vezes de maneira sutil, outras com uma força brutal. Em algumas, havia poesia e sensibilidade. Um olhar que enxergava não só o objeto a ser fotografado, mas o contexto em que ele estava inserido.
Orlando Brito fotografou os grandes personagens da política brasileira. Para isso, sempre soube manter sua imparcialidade profissional. Sua câmera também registrou nomes do universo dos esportes, como Pelé, e da causa indígena e ambiental.
Em 1979, foi o primeiro brasileiro a ganhar o World Press Photo, na categoria de sequência cinematográfica, pelas fotos de um exercício militar. Por onze vezes recebeu o Prêmio Abril de Fotografia, inclusive o de Hors-Concours. Participou de mais de quarenta exibições coletivas no Brasil e no exterior, em cidades como Londres, Nova Iorque, Paris, Tóquio e Madri.
Um dos seus registros mais famosos: Ulisses Guimarães, na rampa do Congresso, alguns dias antes de morrer numa acidente de helicóptero
Autor de seis livros, seu mais recente projeto era “O Brasil de Castello a Bolsonaro, do Marechal ao Capitão”, uma coletânea com fotos em preto e branco. “São imagens de momentos importantes e personagens marcantes da História do Brasil. Retrata os períodos da censura e o fechamento do Congresso. O AI-5 e o Pacote de Abril. A cassação de mandatos, a presença da CNBB e dos artistas. Vai das Diretas-Já à Anistia. À Constituinte. Dos planos econômicos aos impeachments, à Operação Lava-jato”, escreveu Brito.
Há pouquíssimos dias havia sido lançada também uma plataforma com o seu acervo para comercialização.
Jair Bolsonaro, de costas, no meio de seu séquito militar
Nas redes sociais, políticos de todos os partidos lamentaram a morte de Brito.
“Nessa madrugada o Brasil perdeu um dos seus maiores fotojornalistas: aos 72 anos, Orlando Brito, dono da credencial nº 0001 do Palácio do Planalto, faleceu após complicações de uma cirurgia. Brito foi testemunha ocular de fatos históricos acontecidos no país nas últimas cinco décadas. Dono de um olhar apurado, colecionava fotos icônicas que ajudam a explicar as transformações pelas quais passamos, especialmente na política. Além de presidentes, fotografou também o povo brasileiro e a nossa exuberante natureza. Desde minha chegada ao Senado em 2011 me habituei a encontrá-lo pelos corredores. A câmera estava sempre preparada e ele atento a tudo que acontecia, registrando com sensibilidade ímpar os bastidores do poder. Fica o legado de um grande profissional e a lembrança de um ser humano fantástico. A historiografia política brasileira não seria a mesma sem a sua divina contribuição. Nossa solidariedade aos familiares e amigos deste que é um dos ícones do jornalismo nacional. Descanse em paz, Brito!”, escreveu o senador Randolfe Rodrigues.
Já a Associação Brasileira de Imprensa chamou Orlando Brito de “Incansável guerreiro em defesa da atividade jornalística no Brasil”. Em nota, a entidade afirmou: “Com a sensibilidade de suas lentes, narrou os principais fatos de nossa história política nas últimas décadas, ajudou a formar gerações de jornalistas fotográficos e colaborou para a modernização da linguagem do fotojornalismo”.
Registro recente em um dos muitos protestos de indígenas
na Esplanada dos Ministérios, em Brasília
Fotos: reprodução Facebook Orlando Brito