Há um imenso e desconhecido mundo invisível para os olhos humanos. E fundamental para a nossa sobrevivência e do planeta no qual vivemos. Uma minúscula fração desse universo surpreendente nos é revelada uma vez por ano, quando são divulgadas as imagens vencedoras do concurso internacional Nikon Small World, que em 2024 chega à sua 50a edição.
Lançada na década de 70, a competição reúne imagens feitas pelas lentes de microscópios, que revelam a beleza e a complexidade de criaturas, que muitas vezes não medem mais do que poucos milímetros. O objetivo é também reconhecer o importantíssimo trabalho de pesquisadores ao redor do planeta que utilizam estes registros para seus estudos e descobertas.
Este ano o prêmio principal para as imagens de fotomicrografia – técnica que utiliza uma câmera com uma lente poderosa, acoplada a um microscópio, para fotografar objetos diminutos ou mesmo invisíveis a olho nu -, foi para os cientistas Bruno Cisterna e Eric Vitrio, da Universidade de Augusta, nos Estados Unidos, que conseguiram capturar em detalhes as células de um tumor cerebral em um rato.
“Um dos principais problemas com doenças neurodegenerativas é que não entendemos completamente o que as causa”, diz Cisterna. “Para desenvolver tratamentos eficazes, precisamos descobrir o básico primeiro. Nossa pesquisa é crucial para revelar esse conhecimento e, finalmente, encontrar uma cura. Células diferenciadas podem ser usadas para estudar como mutações ou proteínas tóxicas que causam Alzheimer ou ELA alteram a morfologia neuronal, bem como para rastrear potenciais medicamentos ou terapias genéticas destinadas a proteger neurônios ou restaurar sua função.”
Para conseguir a imagem minuciosa das células tumorais, os profissionais precisaram de três meses para aperfeiçoar o processo de coloração e garantir uma visibilidade clara.
“Depois de esperar cinco dias para que as células se diferenciarem, tive que encontrar o campo de visão certo onde as células diferenciadas e não diferenciadas interagiam. Isso levou cerca de três horas de observação precisa sob o microscópio para capturar o momento certo, envolvendo muitas tentativas e inúmeras horas de trabalho”, revela Cisterna.
A imagem que pode ajudar no desenvolvimento de novos tratamentos foi publicada também em um artigo científico no Journal of Cell Biology, tal sua importância.
Entre as outras diversas fotos premiadas estão a de um aglomerado de ovos de polvos (Octopus hummelincki) – em destaque na abertura desta reportagem -, de autoria de Thomas Barlow e Connor Gibbons, pesquisadores da Universidade de Columbia, em Nova York.
As fêmeas desses cefalópodes põem ovos uma única vez na vida e podem passar muitos anos sem se alimentar enquanto cuidam deles. Elas se enrolam e ficam quietas chocando e protegendo os ovos. Finalmente, quando eles nascem, elas morrem.
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Foto de abertura: Thomas Barlow & Connor Gibbons/Nikon Small World