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Micareta pode causar desmatamento em área de Mata Atlântica, em Fortaleza, denuncia vereador

Micareta pode causar desmatamento em área de Mata Atlântica, em Fortaleza, denuncia vereador

Chamado de Fortal (abreviação de Fortaleza), o Carnaval fora de época da capital cearense, o mais tradicional do Nordeste e um dos maiores do país, é realizado, desde 1993, na última semana de julho. A micareta costuma reunir cerca de 600 mil pessoas em quatro dias de folia liderados por artistas como Ivete Sangalo, Leo Santana, Bell Marques, Claudia Leite e Chiclete com Banana, entre outros. 

Mas, este ano, o evento está envolvido em grande polêmica ambiental devido ao espaço onde será realizado: terreno do Aeroporto Internacional Pinto Martins

mudança foi anunciada em abril pela empresa que organiza a festa, que, na época, destacou que a escolha foi feita com base em meses de estudos e planejamento de diferentes órgãos. 

No entanto, de acordo com denúncia do vereador Gabriel Aguiar – biólogo eleito em 2022 – e outros ambientalistas, os responsáveis pelo evento esqueceram de dizer que a área faz parte do bioma Mata Atlântica e terá 20 hectares de floresta desmatados para a construção do projeto arquitetônico (imagem de destaque, acima) que abrigará a festa.  

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“Esta é uma zona de floresta, de mata fechada, de grande porte, com árvores adultas com décadas de idade, que se concentram nessa região do aeroporto e abrigam uma riqueza de fauna muito grande”, alerta o vereador Gabriel Aguiar
Foto: divulgação

Abaixo-assinado

Em suas redes sociais o parlamentar destaca que a área é protegida pela Lei Federal da Mata Atlântica(criada em 2006 para assegurar direitos e deveres dos cidadãos e de órgãos públicos sobre a exploração consciente dos recursos do bioma) e proíbe o desmatamento de mata primária ou secundária em estado avançado de recuperação

Há cinco dias, Aguiar foi bloqueado pelo perfil do Fortal no Instagram por denunciar a gravidade da situação – logo devem começar as obras e a derrubada da mata – e lançar, em parceria com o movimento Fortaleza pelas Dunas, o abaixo-assinado online Salvem a Mata Atlântica; diga não ao desmatamento para o Fortal 2024. Participe! 

“A minha fala é de profunda revolta, alarme e alerta diante do novo local do Fortal. E temos uma dupla preocupação pois, no terreno onde hoje está instalado o aeroporto, existe uma grande floresta [de Mata Atlântica] de mais ou menos 20 hectares de mata fechada, com árvores de grande porte e uma rica biodiversidade de animais silvestres. E o Fortal está achando razoável desmatar essas centenas ou milhares de árvores para fazer um evento que tem quatro dias”, declara ele, em vídeo.

“Esta é uma zona de floresta, de mata fechada, que podemos entender como mais de 20 campos de futebol. Se trata de uma floresta densa, de grande porte, com árvores adultas com décadas de idade, que se concentram nessa região do aeroporto e abrigam uma riqueza de fauna muito grande”. 

Aguiar ainda destaca que a área oferecida ao Fortal é “um dos últimos reservatórios da biodiversidade de Fortaleza”, que garante grandes benefícios à cidade como diminuição da temperatura, manutenção da fauna e da flora, redução de alagamentos e aumento da ventilação. Por isso, o evento “pode e deve acontecer em outro local da cidade sem esse gigantesco impacto”. 

E acrescenta: “A megaestrutura do Fortal, uma festa de quatro dias, precisaria desmatar essa floresta e perderíamos de vez a sucessão ambiental que levou décadas para chegar no ponto em que está. Não consideramos isso razoável. Não é nada contra o evento em si, mas a alegria do Fortal não combina em nada com o terror do desmatamento, sobretudo diante dos extremos climáticos que a gente tem visto no Brasil”, alerta o vereador.

Outros riscos

Além dos impactos ambientais, a realização do Fortal trará outros riscos à população por estar em local próximo a pistas de decolagem e pouso de aeronaves. 

Canhões de luz, com fogos de artifício e drones, que geralmente voam nesses locais, podem prejudicar a segurança pública. Além disso, são previstos engarrafamentos e conflitos para a gestão dos voos, entre outras preocupações”, destaca Aguiar, que ainda relata que diversos órgãos públicos foram oficiados para prestar esclarecimentos sobre os problemas apresentados. 

De acordo com o jornal O Estado de SP, a Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma) afirmou, em nota, não ter recebido “nenhum ofício referente ao assunto mencionado”. 

Também informa que a Fraport, empresa responsável pela administração do aeroporto, garantiu que “o Fortal está em contato com os órgãos competentes para obtenção das licenças e autorizações necessárias para a atividade”, e que segue “rigorosamente todas as normas e legislações ambientais”. 

Em nota, a organização da festa destacou que a escolha do novo local foi feita com base na busca por “um espaço possível e adequado, sempre respeitando a legislação ambiental e urbanística em vigor e com todas as licenças necessárias”. 

“A área escolhida é privada, não está inserida em zona de preservação, porém, tendo sido uma preocupação da organização do evento, a recuperação e a revitalização do local, respeitando as características da região, onde será mantido o Patrimônio Verde nativo do terreno”, acrescenta.

No comunicado, organizadores ainda afirmam que mantêm “agenda constante de alinhamentos com órgãos públicos, como a Secretaria de Segurança Pública, a Polícia Rodoviária Estadual (PRE), o Detran, a AMC (Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania), Sema (Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Mudança do Clima), Seuma, Semace (Superintendência Estadual do Meio Ambiente) e o cumprimento de um cronograma de reuniões que estão sendo agendadas com as demais instituições de impacto direto”. 

Resta saber se os artistas que se apresentarão nos quatro dias de Fortal e animarão mais de 500 mil pessoas não se importam de ter seus nomes ligados a um evento que pode causar tanta destruição ambiental…

A micareta Fortal, em 2023
Foto: divulgação

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Imagem (destaque): divulgação/Fortal

Fontes: Gabriel Aguiar, Estadão, perfil do Fortal no Instagram, notas públicas

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Alguém
Alguém
4 meses atrás

Atualmente a política enfrenta uma onda de negacionismo científico muito grande, ou melhor, uma onda maior que as demais. Estamos a instantes de uma aniquilação global por causa do aquecimento global, mas o desmatamento continua desenfreado. Até quando irá ocorrer negacionismo apenas por poder político? São falas clichês, mas são clichês porque necessitam ser repetidas. Infelizmente

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