Hussam al-Attar tem 15 anos, é palestino e até 7 de outubro de 2023 estudava no Colégio Jabel Mukaber, em Beit Lahia, no norte da Faixa de Gaza. Nesse dia, com sua família, teve que deixar sua casa para trás e iniciar uma cruel jornada – em meio a bombardeios e tempestades de inverno – basicamente a pe, que os levaria à região de Al-Nasr, depois à Khan Yunis até chegarem em Rafah, última cidade de Gaza, que faz fronteira com o Egito.
É lá que ele e cerca de 1,5 milhão de palestinos se refugiam e se amontoam sob ameaças constantes dos soldados de Israel, seus tanques e mísseis.
Logo no início do deslocamento, devido à situação de total privação de condições de sobrevivência, Hussam, sua mãe, seu pai, seus irmãos e outros parentes passaram 20 noites em total escuridão.
“Olhei para meus sobrinhos gêmeos e só vi medo em seus olhos. Sentiam-se sozinhos no escuro da tenda”, recordou Hussam à rede Quds Press. “Então pensei que, para trazer alegria para todos, precisava fazer luz”.
Foi assim que ele teve a ideia de criar um gerador de eletricidade captando energia dos “ventos de inverno, que causam cansaço e doenças nas crianças. Minha família me inspirou a criar uma fonte de calor e esperança.
Para produzir a engenhoca, Hussan usou peças rudimentares que coletou em um mercado de sucatas e que também encontrou pelo caminho.
De posse das peças e de um fino pedaço de madeira compensada, conectou ventiladores a fios, interruptores e lâmpadas para fazer o gerador funcionar. E deu certo.
“Apesar da falta de ferramentas, consegui utilizar hélices para gerar eletricidade, mesmo que só um pouco, através de nossos geradores então parados”.
Ele explicou: “Quando os ventiladores giram, geram atrito dentro do dínamo magnético, de modo que geram corrente elétrica que passa pelos fios e vão para a tenda”.
Foi assim que ganhou o apelido de “Newton de Gaza”, com o qual se sente muito honrado.
Ao jornal alemão DW, contou que “Newton estava sentado embaixo de uma macieira quando uma maçã caiu na cabeça dele e ele descobriu a gravidade. E nós, aqui, estamos vivendo na escuridão e em uma tragédia, com foguetes caindo sobre nós, portanto, pensei em criar luz e fiz isso”.
E completou: “Pensei em criar isto para aliviar o sofrimento pelo qual estamos passando durante a guerra”.
Orgulhosa, a mãe de Hussan conta que ele “sempre foi talentoso. Amava brincar com tudo a seu alcance e construir coisas úteis do nada. Todo mundo pedia a Hussam para consertar seus aparelhos eletrônicos”.
Mesmo em meio à violência perpetrada diariamente pelos soldados israelenses, ela diz ter esperança de que o filho estude para usar seu talento em benefício de sua comunidade. “Essa geração palestina não será derrotada. É uma geração que encontra vida no meio das trevas, no meio da morte”, diz.
E Hussam confirma: “Eu amo a vida, eu amo todos os detalhes. Quero inventar e descobrir coisas e é impossível matar a Palestina dentro de mim”.
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Fontes: DW, Monitor do Oriente, Quad Press
Foto: reprodução Facebook