Num dia frio e ensolarado, em Padilla Bay – baía localizada no estado de Washington, entre as ilhas de San Juan e o continente, nos Estados Unidos -, uma turista canadense de dez anos brincava com seu baldinho de areia na praia do Bay View Park, em Mount Vernon, quando viu um polvo gigante encalhado.
Não titubeou. Imediatamente, parou a brincadeira e foi buscar água na beira do mar para molhá-lo e permaneceu dedicada à essa tarefa até a chegada de uma equipe de resgate.
Assim que viu os esforços da garota para salvar o polvo, sua família avisou o guarda-florestal Brandon Hoekstra, que estava próximo ao local e rapidamente acionou a Padilla Bay National Estuarine Research Reserve (Reserva Nacional de Investigação Estuarina da Baía de Padilla).
Minutos depois, as pesquisadoras e educadoras Annie England e Mira Lutz, além do voluntário Sean Petersmark, chegaram ao local e ficaram surpresos com o bom estado do animal.
Tratava-se de um polvo gigante do Pacífico – a maior espécie de polvo do mundo, que pode chegar a 9 metros de largura e 250 quilos! -, comum perto de recifes rochosos na área, mas raros em planícies de maré e que, devido a seu tamanho e peso, não conseguia voltar para o mar.
Pior: a maré estava cada vez mais baixa, tornando seu retorno (sozinho) impossível.
“Eu não esperava encontrar um polvo tão vivo, saudável e vibrante”, declarou England a uma TV local. “Quando chegamos, a garota estava pegando água com seu balde de areia, enchendo e despejando em cima do polvo. Ela fez o que pode nesse cenário e sua ação foi crucial porque os polvos não conseguem sobreviver por mais de alguns minutos fora d’água. Isso destrói suas brânquias”.
E a educadora ainda acrescentou: “Nós nunca encorajaríamos o público a tentar mover um polvo ou tocá-lo, mas derramar água sobre ele e ligar para um aquário ou organização local que você conhece, que trabalha com animais marinhos, é imprescindível para salvar os animais”.
O que menina canadense fez é um belo exemplo de como ajudar, respeitando a natureza de cada ser e seu habitat.
Maré
“Este polvo não estava progredindo muito porque seu peso corporal é muito pesado fora de seu ambiente aquático habitual”, contou a reserva de pesquisa em seu Instagram.
England, Lutz e Petersmark conseguiram colocar o polvo – que provavelmente era uma fêmea, devia pesar entre 40 e 45 quilos e medir cerca de 2 a 2,5 metros de comprimento (da ponta de um braço à outra) -, em uma caixa de plástico e transportá-lo até o mar. “Tivemos que ser muito conscientes de onde colocamos nossas mãos enquanto o movemos”.
Depois de soltar o polvo e vê-lo nadar para longe – “rastejou lentamente e voltou ao oceano” -, o grupo celebrou.
“As famílias (no parque) ficaram superanimadas e eu dei um ‘toca aqui’ para todas elas, todas as crianças”, contou Mira Lutz, autora do vídeo e das imagens que ajudaram a viralizar o acontecimento. “Fiquei muito feliz o resto do dia”.
Os educadores do Padilla Bay National Estuarine Research Reserve não souberam dizer por que o animal chegou até a praia, tão longe da água, e encalhou, mas especularam que talvez tenha sido pego de surpresa pela maré.
Velhice
Encontrar um polvo encalhado não é incomum na região, mas este foi o primeiro resgate de Annie England e sua equipe.
Em março de 2021, um polvo gigante do Pacífico encalhou na mesma baía, mas não teve a sorte de encontrar uma garotinha dedicada e engenhosa como a turista canadense: era um macho – com cerca de 3 metros de largura – e já foi encontrado morto.
Na ocasião, o instituto de pesquisa contou que, devido a algumas características identificadas em seu corpo, ele pode ter morrido de velhice.
A seguir, o vídeo publicado pela Padilla Bay Reserve que mostra um dos educadores “hidratando” o polvo – liberando a garota canadense da missão -, enquanto não o levam para o mar.
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Foto (destaque): reprodução de vídeo produzido por Mira Lutz