
Análise sobre perdas e ganhos da vegetação nativa relacionada à data de efetivação do Código Florestal (2018) mostra que, entre todos os municípios presentes na Mata Atlântica, 45% apresentaram algum ganho entre 2008 e 2023. Por outro lado, 18% perderam área de vegetação nativa no mesmo período.
Vale lembrar que, em 2008, foi publicado o Decreto nº 6.514, que estabeleceu regras para a regeneração de Áreas de Preservação Permanente (APPs) e de Reserva Legal (RL). E, em 2012, novas alterações foram feitas no texto do Código Florestal – reduzindo a proteção ambiental das versões anteriores – e aprovadas pelo Congresso Nacional em 2012.
Hoje, 60% dos municípios possuem menos de 30% de vegetação nativa e mais da metade (53%) dos municípios apresenta mais de 50% de vegetação nativa e tem alguma Unidade de Conservação dentro dos seus limites (sem considerar as APAs – Áreas de Proteção Ambiental).
É o que revelam os mais recentes dados do MapBiomas, obtidos a partir de mapas de cobertura e uso da terra no Brasil (Coleção 9*), divulgados hoje (26).
Desmatamento e regeneração na Mata Atlântica
Com apenas 31% de cobertura vegetal nativa, a Mata Atlântica é o bioma brasileiro que mais sofreu transformações nos últimos séculos.
Embora 67% de sua área tenha uso antrópico, a perda de vegetação nativa entre 1985 e 2023 foi de 3,7 milhões de hectares, ou 10% do total. E, nos últimos 39 anos, apenas três estados tiveram aumento na área de vegetação nativa: Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e São Paulo.
Em relação ao desmatamento no bioma em 2023, e importante destacar que, quando comparada com o que foi desmatado em 2000, a área desmatada diminuiu 49%. A supressão aconteceu principalmente em áreas de formação florestal e mais da metade ocorreu em áreas de vegetação secundária, ou seja, que já foram desmatadas anteriormente e estavam em processo de regeneração.
Nas áreas naturais, a floresta foi o tipo de cobertura com maior queda entre 1985 e 2023: 2,7 milhões de hectares a menos. Essa classe – que inclui áreas de formação florestal, formação savânica, mangue e restinga arbórea -, passou de 33,92 para 31,06 milhões de hectares em 2023.
O tipo de vegetação que, proporcionalmente, mais perdeu área em 39 anos – principalmente para a conversão em áreas de agricultura e pastagem – foi a formação campestre: redução de 27% em relação a 1985, quando ocupava uma área de 2,45 milhões de hectares. Em 2023, essa área passou a ser 1,79 milhão de hectares.
A diminuição na área de formação campestre foi observada em todos os anos da série histórica, porém, entre 2003 e 2019, essa perda foi mais acentuada, com média de 28 mil hectares a menos por ano.
“A Mata Atlântica convive simultaneamente com o desmatamento e a regeneração, mas em regiões que não coincidem. Ainda perdemos matas nas regiões onde ainda há uma proporção relevante de remanescentes e ganhando onde a devastação ocorreu décadas atrás e sobrou muito pouco”, explica Luís Fernando Guedes Pinto, diretor executivo da Fundação SOS Mata Atlântica.
“O desmatamento zero e a restauração em grande escala vão garantir o futuro do bioma, contribuir para enfrentar as crises globais do clima e da biodiversidade, garantir serviços ecossistêmicos e evitar tragédias localmente”, acrescenta o especialista.
O bioma concentra 51,5% de toda a área urbanizada no Brasil, com aumento de 2,5 vezes da área ocupada em 1985, cerca de 1,3 milhões de hectares a mais.
Os estados com maior expansão em área foram São Paulo, Paraná e Minas Gerais, com 707 mil hectares, 294 mil hectares e 227 mil hectares de áreas urbanizadas em 2023, respectivamente.
Agricultura avança sobre pastagens
Entre 1985 e 2023, a área agrícola na Mata Atlântica teve um salto de 91%, passando de 10,6 milhões de hectares para 20,2 milhões de hectares – ganho de 9,5 milhões de hectares.
De toda a área de agricultura no Brasil, um terço (33%) encontra-se na Mata Atlântica.
Nos últimos 39 anos, a agricultura teve o maior aumento proporcional no Rio Grande do Norte, Mato Grosso do Sul e em São Paulo.
Se a agricultura foi a atividade antrópica que mais cresceu no bioma desde 1985, a pastagem foi a que mais perdeu, em especial devido à conversão para cultivos agrícolas. Mas, em 2023, a atividade ainda representou o principal uso antrópico do território: 26,23% de toda a área do bioma ou 29,02 milhões de hectares.
As áreas de agropecuária, incluindo pastagem, mosaico de usos, agricultura e silvicultura (cultivo, manejo e conservação de florestas com o objetivo de produzir madeira e derivados, além de promover seu uso racional) passaram de 69,81 milhões de hectares em 1985 para 71,99 milhões de hectares em 2023. No ano passado, a agricultura predominou em 28% dos municípios da Mata Atlântica.
Supressão por atividade
A soja e a cana-de-açúcar somam 87% da área de lavoura temporária do bioma.
Em 39 anos, o cultivo da cana-de-açúcar cresceu 225%, um ganho de 4,2 milhões de hectares. De toda a área de cana-de-açúcar do país em 2023, 66% ocorrem na Mata Atlântica e têm no estado de São Paulo seu maior destaque, com 71% de todo cultivo no bioma.
A soja apresentou aumento de 4,5 vezes na área cultivada, passando de 2,4 milhões de hectares em 1985 para 10,6 milhões de hectares em 2023. Paraná e Rio Grande do Sul concentram 76% dessa cultura na Mata Atlântica. As lavouras temporárias incluem, além da soja e cana-de-açúcar, arroz, algodão e outras lavouras temporárias. A Mata Atlântica abriga 33% desse tipo de cultivo no Brasil.
A silvicultura teve sua área quadruplicada em 39 anos, passando de 900,39 mil hectares em 1985 para 4,51 milhões em 2023. Isso equivale a 50% da área de florestas plantadas em todo o país. Santa Catarina, Paraná e Bahia somam mais de 60% da silvicultura da Mata Atlântica.
Todos os dados podem ser acessados gratuitamente por todos os públicos neste link.
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*Coleção 9: além de 39 mapas anuais de cobertura e uso da terra no Brasil de 1985 a 2023, essa coleção de mapas de cobertura e uso da terra no Brasil inclui mapeamento de recifes de coral, novos territórios como Áreas Prioritárias para Conservação da Biodiversidade (MMA, 2018), Florestas Públicas não Destinadas (MMA, 2022), Concessões Florestais (MMA, 2023) e limite da Zona Costeira e Marinha (IBGE, 2019), além de dados ambientais do IBGE (Fitofisionomias, Geomorfologia e Pedologia) e de terreno (hipsometria, orientação de vertentes e declividade) para relacionar com os dados de cobertura e uso da terra.
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Foto: Ana Carla Az / Wikimedia Commons