Mães costumam usar um tom de voz diferente quando se comunicam com seus filhos. É um traço natural dos seres humanos e em geral, fortalece a ligação afetiva entre ambos. Todavia, parece que nós não somos os únicos mamíferos no planeta a apresentar esse comportamento. Cientistas analisaram os assobios de golfinhos quando estavam sozinhos, com outros adultos e com os próprios filhotes e descobriram que ao lado de suas crias, o tom é mais alto e com alcance maior do que o normal.
“É realmente empolgante encontrar evidências dessa linguagem maternal em outra espécie de mamífero, mesmo que não possamos explicar necessariamente sobre sua função em golfinhos”, diz Laela Sayigh, bióloga do Woods Hole Oceanographic Institution, dos Estados Unidos.
A pesquisadora é a principal autora de um artigo científico sobre o tema publicado recentemente na Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
O estudo foi feito com 19 fêmeas de golfinho-nariz-de-garrafa (Tursiops truncatus) na Baía de Sarasota, na Flórida. Nas gravações realizadas, os cientistas conseguiram identificar exatamente os momentos em que as mães usavam um tom mais alto quando acompanhadas de seus filhotes.
“Essa alteração [no tom do assobio] pode funcionar para melhorar a atenção, o vínculo e o aprendizado vocal em filhotes de golfinhos, assim como em crianças humanas. Nossos dados se somam ao crescente corpo de evidências de que os golfinhos fornecem um poderoso modelo animal para estudar a evolução do aprendizado vocal e da linguagem”, explicam os autores do estudo.
A chamada child-directed communication (CDC), termo em inglês que se refere à comunicação direcionada à criança, é muito comum em diversas culturas humanas, todavia, muito limitada ou de pouco conhecimento ainda, no mundo animal.
O assobio é a marca registrada de cada golfinho. Ele é único. Por isso a descoberta é tão importante.
“Nossa descoberta tem o potencial de aprimorar os esforços de monitoramento da população”, diz Frants Havmand Jensen, um dos co-autores do estudo. “Estamos desenvolvendo ferramentas para ouvir os assobios únicos de animais individuais. Se pudéssemos detectar com segurança as mudanças sutis nos assobios característicos quando os filhotes estão presentes, podemos usar isso para entender o sucesso reprodutivo e a saúde geral da população de golfinhos selvagens”.
“Já é bem documentado que os golfinhos são capazes de aprender a produzir sons, o que é um aspecto fundamental da comunicação humana. Este estudo acrescenta novas evidências sobre semelhanças entre golfinhos e humanos. Dito isso, tenho esperança de que essa descoberta interessante possa aumentar a conscientização do público em geral sobre a proteção dessa espécie carismática”, ressalta, Nicole El Haddad, outra pesquisadora envolvida no estudo.
Assobios das mães se tornam mais altos e com maior alcance quando elas estão com seus filhotes
(Foto: divulgação Sarasota Dolphin Research Program)
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Foto de abertura: divulgação Sarasota Dolphin Research Program