Na vida selvagem, muitos animais, como ursos, elefantes e até aves, fazem uso de plantas ou outras substâncias naturais para tratar lesões causadas por parasitas ou problemas intestinais. No começo deste ano, por exemplo, biólogos fizeram um registro inédito de chimpanzés usando insetos para tratar feridas de outros membros do grupo. Agora, um novo estudo revela que no fundo dos oceanos animais marinhos também fazem tratamentos em “clínicas naturais”. O comportamento foi registrado em golfinhos, que esfregam seus corpos em certas espécies de corais e esponjas.
Acontece que a grande maioria das pesquisas sobre os hábitos dos golfinhos é feita pela superfície da água. Mas como a bióloga marinha Angela Ziltener também é uma mergulhadora ela conseguiu ver mais de perto algo que até então não tinha sido notado.
Ao estudar uma espécie de golfinho encontrada no Mar Vermelho, na costa do Egito, a Tursiops aduncus, a pesquisadora da Universidade de Zurique, na Suíça, reparou que por diversas vezes, logo cedo pela manhã e no final do dia, antes de dormir, esses animais esfregam partes do corpo – barriga, ventre e costas -, em corais.
“Eu não tinha visto esse comportamento de fricção de coral descrito antes e ficou claro que os golfinhos sabiam exatamente qual coral eles queriam usar. Pensei então: ‘Deve haver uma razão”, relembra ela. “É quase como se eles estivessem tomando banho, limpando-se antes de dormir ou levantar para o dia”.
Após conquistar a confiança do grupo dos golfinhos, Angela e seus colegas perceberam que após esses cetáceos esfregarem seus corpos, minúsculos pólipos liberavam um tipo de muco. Os cientistas coletaram amostras então dessas substâncias e descobriram em análises de laboratórios que elas possuíam propriedades antibacterianas, antioxidantes e hormonais.
“A fricção repetida permite que essas substâncias entrem em contato com a pele dos golfinhos. Elas podem ser úteis para profilaxia ou tratamento auxiliar contra infecções microbianas da pele”, explica a química Gertrud Morlock, autora principal do artigo em que os cientistas descrevem o comportamento até então desconhecido desses animais.
É por esta razão que os pesquisadores ressaltam ainda mais a importância da proteção e preservação de recifes de corais, que nas últimas décadas têm sido muito impactados pela crise climática, mas também, pelo turismo.
Uma mãe golfinho ensina o filhote a se esfregar em corais medicinais
(Foto: Angela Ziltener)
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Foto de abertura: Oleksandr Sushko on Unsplash