
Lançada em junho deste ano pelos povos Yanomami e Ye’kwana para pedir ao governo federal a retirada imediata de garimpeiros ilegais e o combate à pandemia na Terra Yanomami, em Roraima, a campanha #ForaGarimpoForaCovid foi encerrada ontem com ações em Brasília, que tiveram o apoio do Instituto Socioambiental (ISA) e de outras organizações.
Pela manhã, Dário Yanomami e Mauricio Ye’kwana, representantes do Fórum de Lideranças Yanomami e Ye’kwana, participaram de reunião da Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas, coordenada pela Deputada Federal Joênia Wapichana.
Durante o encontro – que também contou com lideranças Munduruku e Kayapó para denunciar o garimpo ilegal em suas terras -, os dois líderes entregaram, aos deputados federais, as 438 mil assinaturas coletadas em petição online, além do relatório Xawara – o avanço da Covid-19 na Terra Indígena Yanomami e a omissão do Estado, recém-lançado, e encaminhado também para autoridades do Executivo e do Judiciário.
O ato reforçou o pedido para que o governo federal aja e cumpra a lei e retirada os invasores dos territórios indígenas, para impedir que a disseminação da Covid-19 entre as comunidades provoque ainda mais mortes.
A transmissão da reunião online foi feita pelo Facebook da Frente Parlamentar.
Os Xapiri na Casa do Povo

A partir das 19h, de ontem também, a campanha levou “os espíritos da floresta – os xapiri para os Yanomami – para soprar pelos céus” do Planalto Central, na forma de uma intervenção artística na fachada do Congresso Nacional.
Projeções dos desenhos belíssimos do artista Joseca Yanomami e palavras de ordem ilustraram as cúpulas e as torres do Senado e da Câmara dos Deputados.

Joseca é artista e xamã da aldeia Watoriki, localizada na Terra Yanomami. Seu trabalho retrata animais, mitos, os hábitos do povo Yanomami e o universo xamânico com variados grafismos e cores.
O artista participou de duas exposições no Museu de Arte de São Paulo (MASP): Yanomami, o espírito da floresta (2004) e Histórias Mestiças (2014). Há três anos, realizou uma oficina de desenho no mesmo museu, para crianças e adultos.
Vejamos mais alguns de seus desenhos animados, produzidos especialmente para esta intervenção em Brasília:



A Covid-19 na Terra Yanomami
O governo ignorou os apelos da campanha. E, assim, sem resposta, a presença dos garimpeiros aumentou e se consolidou como um dos principais vetores de transmissão do novo coronavírus nas comunidades.
Hoje, um em cada três Yanomami pode ter tido contato com a doença e menos de 5% desse povo foi testado. Entre agosto e outubro, o número de casos confirmados no território saltou de 335 para 1.202, ou seja, o aumento foi de mais de 250%. E, de acordo com monitoramento da Rede Pró-YY, até o final de outubro, foram registrados 23 óbitos por Covid-19, entre casos confirmados e suspeitos.
Para saber mais, leia Tragédia Anunciada: contaminações por covid-19 disparam na Terra Yanomami.

Vale destacar ainda que, em agosto, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) manteve liminar deferida pelo ministro Luís Roberto Barroso em uma ação judicial que pedia a “implementação de medidas para a proteção de indígenas durante a pandemia provocada pela Covid-19”. Entre tais medidas, ele determinou que não-indígenas presentes sete terras indigenas – entre elas a Yanomami – fossem contidos.
Segundo Barroso, o STF não pode determinar, “na canetada”, a execução das desintrusões porque estas exigem “planejamento adequado e diálogo institucional entre os Poderes”. Ele chegou a alegar que era preciso lembrar que garimpeiros estão acompanhados por suas famílias, nesses acampamentos, portanto, há mulheres e crianças presentes. Mas a fala do ministro gerou confusão.
Para saber mais, leia o artigo dos advogados Juliana de Paula Batista e Luiz Henrique Reggi Pecora, do ISA: A posição do STF sobre retirada de garimpeiros da Terra Indígena Yanomami: o que ficou decidido?

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Fonte: Instituto Socioambiental (site e Instagram)
Foto (destaque): Adriano Machado para o ISA (reprodução do Instagram)