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João Pedro e George Floyd. No Brasil e nos Estados Unidos, as duas mais recentes vítimas do racismo. Até quando esses crimes continuarão?

João Pedro e George Floyd. No Brasil e nos Estados Unidos, as duas mais recentes vítimas do racismo. Até quando esses crimes continuarão?

João Pedro Matos Pinto tinha apenas 14 anos. Morador do Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio de Janeiro, o adolescente brincava com amigos no quintal da casa do tio, no último dia 18 de maio. Por causa de uma operação contra o tráfico de drogas, integrantes da Polícia Civil e da Polícia Federal invadiram a casa. Os policiais dispararam mais de 60 tiros de fuzis… Sim, fuzis!

João Pedro morreu com um tiro nas costas. Seu corpo foi tirado do local rapidamente por um helicóptero e seus pais não foram informados para onde ele tinha sido levado. Foram 17 horas percorrendo hospitais para poder, finalmente, saber onde o filho – morto – estava.

Os três policiais envolvidos no crime foram afastados do serviço nas ruas após a realização da “operação”.

Exatamente uma semana depois do assassinato de João Pedro, no Brasil, no dia 25 de maio, em Powderhorn, um bairro ao sul de Minneapolis, maior cidade do estado de Minnesota, nos Estados Unidos, George Floyd, de 46 anos, foi parado na rua por policiais. Ele havia sido acusado de usar uma nota falsa para comprar um maço de cigarros. Algemado, foi mantido no chão, com o joelho de um policial, branco, em seu pescoço, durante 8 minutos e 46 segundos.

Apesar dos protestos de outras pessoas na rua e de Floyd suplicar insistentemente que “Eu não consigo respirar”, o policial não se mexeu.

O americano foi levado inconsciente para o hospital e mais tarde foi anunciada sua morte. Por asfixia.

Um procurador do estado já entrou com a acusação por homicídio culposo contra o responsável pela morte de Floyd, Derek Chauvin, que foi transferido para uma penitenciária de segurança máxima. O policial tinha em sua ficha outras 18 reclamações por sua conduta.

João Pedro Pinto e George Floyd têm uma coisa em comum. São negros.

Os dois são as mais recentes vítimas de racismo no Brasil e nos Estados Unidos, um crime que acontece há séculos e infelizmente, ainda em 2020, continua a ser perpetuado em nossas sociedades.

Protestos e manifestações nas ruas

No Brasil, a morte do adolescente carioca gerou muita revolta e protestos. Ontem, domingo (31/05), manifestantes do movimento “Vidas Negras Importam” foram para a frente do Palácio da Guanabara, sede do governo fluminense, para criticar a violência policial e cobrar medidas contra o racismo.

Nos Estados Unidos, o assassinato de Floyd provocou uma convulsão social. Há dias, apesar da pandemia do coronavírus, há manifestações e atos de violência, com depredações e saques, nas principais cidades americanas.

A súplica de Floyd pela vida foi o estopim para que negros e brancos fossem às ruas para pedir um basta à discriminação e ao racismo naquele país. Desde os protestos do grande líder do movimento negro, Martin Luther King, não se via algo parecido nos Estados Unidos.

Em mais de 40 cidades foi decretado toque de recolher durante a noite para tentar conter a onda de violência. Na frente da Casa Branca, sede do governo americano, em Washington D.C., também houve demonstrações e confrontos com policiais.

É preciso mencionar ainda que enquanto uma verdadeira guerra civil tomava as ruas, o presidente Donald Trump estava na Flórida, aplaudindo o lançamento do foguete SpaceX para o espaço, e no seu Twitter, com seu discurso extremista, inflamando ainda mais a violência dos protestos.

Guarda Nacional diante de barricadas para evitar violência e depredações no estado da Carolina do Norte

Negros morrem mais que brancos

A desigualdade racial é muito clara. Está estampada, por exemplo, nos números de mortes pela COVID-19 nos Estados Unidos. A doença matou três mais vezes negros americanos do que brancos. Isso significa que de cada 1.850 afro-americanos, um perdeu a vida. Entre os brancos, um a cada 4.400 morreu (leia mais sobre o levantamento, em inglês, aqui).

Já no Brasil, o relatório Um Rosto Familiar: A violência na vida de crianças e adolescentes, lançado em 2017 pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), apontava que os meninos brasileiros negros são os que mais morrem em nosso país. Em 2014, eles representaram 75% das vítimas de assassinatos.

Desde maio de 2019, três outras crianças morreram devido a conflitos policiais no Rio de Janeiro: Ágatha Félix, de 8 anos, Kauê Ribeiro dos Santos, de 12 anos, Kauan Rosário, de 11 anos, segundo levantamento da ONG Rio de Paz, com base em casos relatados na imprensa.

Todos eram negros.

De acordo com uma reportagem da BBC Brasil, apenas um desses casos resultou numa denúncia do Ministério Público, o de Ágatha.

Racismo é crime e os criminosos precisam ir para a cadeia

Foi só em 1989, que atos de discriminação por raça e cor começaram a considerados crimes no Brasil. Mas é preciso ir além. É necessário que os órgãos de justiça sejam rápidos nos processos de julgamento e na punição desses criminosos.

Não deve haver espaço para dúvida na sociedade: quem comete um crime de racismo precisa pagar por ele! A impunidade não pode ser admitida. Ainda mais, entre aqueles que deveriam ter como missão proteger a população, ou seja, a polícia.

Os responsáveis pela morte de João Pedro e tantos outros brasileiros, negros, que perderam suas vidas, precisam ser julgados o mais breve possível e cumprir suas penas.

E juntos, como sociedade, TODOS NÓS precisamos pressionar e denunciar qualquer ato de racismo, discriminação, preconceito ou injúria. Precisamos conversar com nossos filhos e mostrar nossa indignação perante à ignorância e à intolerância: SOMOS TODOS IGUAIS, independente da cor da nossa pele, das nossas crenças religiosas, políticas, da nossa opção sexual. É exatamente esta diversidade que nos faz sermos seres tão vibrantes, maravilhosos e únicos.

Denuncie o racismo

Se você for vítima ou presenciar algum ato de racismo, aprenda aqui o que fazer para denunciar. Em algumas capitais, como São Paulo, é possível prestar queixa em lugares especializados, como a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância. Em outros estados, a denúncia pode ser feita em qualquer delegacia. 

Há também o Disque 100, serviço do governo federal para receber denúncias de violações aos direitos humanos.

Infelizmente, as mídias sociais têm servido para “blindar” os racistas. Escondidos atrás das redes sociais, pessoas ignorantes e intolerantes acham que podem disparar suas baboseiras online sem serem acionadas criminalmente. Mas isto está mudando.

Para casos de discriminação ou injúria racial em sites da internet ou nas redes sociais, deve-se copiar o link da página, dar um print-screen na mesma (inclusive no perfil do usuários, nos comentários e nas imagens) e com este material em mãos, ir à delegacia prestar queixa.

Leia também:
Os negros nos livros didáticos
Aplicativo mapeia racismo e intolerância religiosa na Bahia
Célia Cristina da Silva Pinto, líder quilombola, diz que “racismo estrutural impede acesso a direitos”
Racismo: até quando mais conviveremos com o ódio, a ignorância e a intolerância?

Fotos: reprodução internet e Guarda Nacional do Exército dos EUA/Fotos Públicas

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Eloise Barros
Eloise Barros
3 anos atrás

Uma boa reportagem,mas uma lástima que o povo do mundo tenha que ler algo vergonhoso e ridículo como “A desigualdade racial é muito clara. Está estampada, por exemplo, nos números de mortes pela COVID-19 nos Estados Unidos. A doença matou três mais vezes negros americanos do que brancos.” O que um vírus tem a ver com desigualdade social?! Nunca em minha vida ouvi falar de um vírus racista,me perdoe,mas é uma falta de noção incluir uma doença na lista de ações de desigualdade social.

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