No Japão, a venda de produtos alimentícios em máquinas automáticas já foi maior (em 2000, eram 5,6 milhões delas; em 2020, esse número caiu para 4 milhões, sem, contudo, tirar a liderança mundial do país), mas continua sendo um bom negócio, que se diversifica a cada dia: vai de bebidas quentes e frias a hambúrgueres, insetos comestíveis e… carnes de animais selvagens!
No início deste ano, na cidade portuária de Yokohama, perto de Tóquio, foi aberta uma loja que não tem funcionários, apenas máquinas automáticas, e é especializada em carne de baleia (daí seu nome, Kujira Whale Store) em formatos variados: sashimi, bacon, pele e bife, além de carne enlatada.
O fato revoltou conservacionistas que garantem que a carne de baleia não faz mais parte da dieta diária japonesa, especialmente dos mais jovens. Mesmo assim, os legisladores apoiam a caça comercial e o consumo como parte da tradição cultural do país.
Mas, antes da carne de baleia, uma outra já estava sendo comercializada nessas máquinas, na província de Akita, no norte do Japão, desde o final do ano passado: a carne de urso!
Isso aconteceu depois que o restaurante Soba Goro incluiu no cardápio receitas produzidas com essa carne para atrair turistas. O porta-voz do estabelecimento disse que ela tem sabor leve, “não fica dura”, é comparável à do veado, e costuma ser servida em ensopado.
De acordo com a mídia local, a novidade foi muito bem recebida pelo público e a empresa responsável pela comercialização nas máquinas tem atendido pedidos de Tóquio para entregas por correspondência.
A carne vendida até agora é de ursos capturados nas montanhas por membros de um clube de caça local que tinham permissão para matar um número limitado desses animais durante a temporada de caça anual, conta o jornal britânico The Guardian.
Apesar de os ursos negros asiáticos estarem entre os animais vulneráveis na lista mundial da IUCN, a classificação não chega a ser crítica e, por isso, a caça e o consumo da carne são permitidos por lei.
Mas claro que os ativistas dos direitos dos animais não gostaram nada dessa história e protestaram contra a empresa das máquinas, além de pedir o fim da caça de ursos para consumo. “Isso parece mais um golpe baixo para a vida selvagem”, declarou Nick Stewart, diretor de campanhas da organização World Animal Protection (Proteção Animal Mundial), ao The Guardian.
“Os ursos são de grande importância para o ecossistema mais amplo em que vivem. São animais selvagens, não alimento de conveniência. Deixe-os na selva para viver uma vida selvagem!”.
Incidentes com ursos
O sucesso da carne de urso se deve, certamente, ao fato de que seu consumo é comum na região e qualquer inovação é bem-vinda. Mas há um outro dado que pode ter influenciado para que ela se tornasse uma iguaria apreciada.
Nos últimos anos, cada vez mais os japoneses têm se deparado com ursos próximos a suas residências, em áreas urbanas e terras agrícolas (cerca de 40% em 2020). Isso se deve à escassez de alimentos em seu habitat natural – por causa do impacto das mudanças climáticas? E eles saem de seus limites à procura de comida.
Segundo o Ministério do Meio Ambiente, em 2009, foram registradas 4.800 aparições; em 2020, foram mais de 20 mil, ano em que duas pessoas foram mortas e 158 ficaram feridas.
O caso mais terrível – que permanece na memória de todos – se deu em 1915, na ilha principal de Hokkaido, no norte do país, e ficou conhecido como o incidente de Sankebetsu. Nele, um urso marrom de 2,7 metros e mais de 300 kg matou sete pessoas e feriu outras três. O animal foi localizado e morto por um caçador.
Fonte: The Guardian, NBC News
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