Atualizado em 31/5/2022, para incluir a data de lançamento da fotonovela, que ainda não estava marcada quando este texto foi escrito
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“Vem aí o mais novo mega sucesso da web dramaturgia brasileira! A saga de famílias antológicas que têm a sobrevivência e a perpetuação da espécie como fio condutor de uma longa história. Nele, veremos esses animais fantásticos lutando continuamente por sua vida, em busca de alimento, água e segurança para suas famílias. Uma trama de relacionamentos, disputas, traições e morte!”.
Foi assim que a pesquisadora Patrícia Médici (foto abaixo), a maior especialista em antas do mundo, premiadíssima, e a Incab (Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira), organização que ela dirige, começaram a divulgar, em 4 de abril, o mais novo projeto de comunicação criado por ela e pesquisadores de sua equipe.
Trata-se de uma novela – “uma espécie de fotonovela” – que vai apresentar histórias verídicas (e divertidas) de antas que vivem na região da Fazenda Baía das Pedras, no Pantanal da Nhecolândia, Mato Grosso do Sul, estudadas por por eles há mais de dez anos.
É nessa região remota, no interior do país, num “cenário paradisíaco” que a “trama” de Pantanal: uma saga antológica vai se desenrolar, inspirada pela novela Pantanal, da TV Globo.
Entre as estrelas estão Rita, Benjamin, Justine, Felippe Lyon, Duda, Caio, Wie, Ariel Jamie e Gabriela, que vivem “encontros e desencontros, amores e desamores, acontecimentos inesperados e grandes reviravoltas” e você pode conhecer, neste post, logo após a entrevista abaixo com a Patrícia, que já conta:
“A gente sempre fica tentando colocar a anta na boca do povo, então, de vez em quando, saímos com alguma ideia louca, assim”. A intenção dos pesquisadores é disseminar conhecimento sobre a espécie, tornando-a mais popular, e sua importância para a biodiversidade e a conservação. “Além de acabar com o estigma de que ela é um animal bobo” (a campanha Anta é Elogio!, sobre a qual já contamos aqui, faz parte desse movimento).
O lançamento da novela foi em 16 de maio, no Facebook do INCAB/IPÊ. Em breve, no Instagram.
Como surgiu a ideia?
Foi inspirada na novela Pantanal da Globo. Fala-se do remake desde 2019 e, finalmente, foi lançada. Ela fala de um dos biomas nos quais a gente trabalha, do qual a gente mais tira informação, é o nosso laboratório a céu aberto. E, em conversa com a equipe, fiquei pensando que a gente conhece tão bem os nossos animais de estudo, na Fazenda Baía das Pedras, no Pantanal.
A gente tem tanta informação sobre as interações entre esses bichos, a reprodução, quais são os pares reprodutivos, quem é filhotinho de quem, quem trocou de par reprodutivo, enfim, a gente conhece as histórias de todos eles, que dão uma novela. Então, pensamos que poderia ser bacana lançar algo assim, simultâneo à novela da Globo: a nossa novela ‘pANTAnal: uma saga ANTológica‘, com o trocadilho do artista Ronald Rosa, que desenhou nossa vinheta (abaixo).
Quem propôs o projeto?
Foi uma ideia da equipe, em grande parte do biólogo Felipe Fantacini, que é um cara muito criativo para tudo que se refere à comunicação. Ele vive dando ideias fantásticas que, às vezes, a gente tem como colocar em prática e, outras vezes, não. E pensamos que essa novela poderia ser muito preciosa, neste momento em que está rolando Pantanal na TV.
De qualquer forma, a gente sempre fica procurando barulho pra fazer, sempre fica tentando colocar a anta na boca do povo, então, de vez em quando, a gente sai com alguma ideia louca, assim.
E como foram escolhidos os personagens?
A gente partiu das antas que a gente conhece mais. São os animais que monitoramos há mais tempo, como a Rita e o Benjamin, desde 2009, 2010, bem no comecinho do nosso trabalho no Pantanal.
São as antas monitoradas por telemetria, que carregaram colares de monitoramento por mais tempo e acabaram gerando um monte de informações. São as mais registradas pelas armadilhas fotográficas.
Estamos com um gread de 100 câmeras na nossa área de estudo no Pantanal! Você não faz ideia da quantidade de dados e informações que estão entrando por meio desse gread.
Então, alguns animais acabam se sobressaindo, são mais fotografados e, por isso, temos mais informação de suas interações, além de historinhas interessantes que a gente consegue transformar nessa linguagem novelística, que vamos adotar com este projeto.
(até ontem, 26/4), sete antas foram apresentadas nas redes: Rita, Benjamin, Justine, Caio, Duda, Felippe Lyon e Wie, que mostramos no final desta entrevista)
Qual o formato da novela? Será uma fotonovela?
Sim, estamos pensando em fotonovela porque a maior parte do material que vamos usar provém das armadilhas fotográficas. Temos muita foto. Em alguns casos, a gente também tem vídeos feitos nessas armadilhas. Ainda estamos selecionando o material.
Tentamos criar um projeto do qual sabemos que podemos dar conta. Então, não vai ser nada super editado, materiais que requeiram muito tempo de dedicação porque a gente não tem esse tempo.
Em resumo, vamos usar as fotos e os vídeos das armadilhas e contar cada capítulo por escrito, em posts nas mídias sociais.
As antas são os únicos personagens ou os pesquisadores vão aparecer na trama também?
A gente dirige horas e horas de caminhonete, pelo meio do mato, e é nesses momentos que conversamos. E falamos disso ontem. As antas são as protagonistas da trama, mas a gente quer que as pessoas compreendam que os animais apresentados são monitorados por pesquisadores.
Em algumas das chamadinhas que temos feito sobre os personagens, nas redes sociais, já falamos um pouco sobre isso: “Felippe é o terror dos pesquisadores”, por exemplo, porque, quando ele é capturado, a gente tem que lidar com sua braveza. Quando estivermos escrevendo os capítulos, vamos deixar claro que existe uma equipe de pesquisa por trás da novela e de toda a informação divulgada.
Respondendo de forma mais curta: os personagens serão as antas e suas histórias reais, coletadas através de pesquisa cientifica. E, além de indicar isso em todos os posts, em alguns capítulos, os membros da equipe podem contar histórias, por voz, por meio de uma gravação, como um pseudo podcast pra enriquecer o material. Mas isso só em alguns capítulos.
Atropelamentos em rodovias, caça e outras ameaças serão temas da saga antológica?
A gente vai procurar abordar um pouquinho de tudo, com certeza, e se adaptar ao que acontece no Pantanal. Vamos falar de fogo porque tivemos um incêndio de grandes proporções na nossa área de estudo, no Pantanal, em 2019. Vamos falar disso, sim! E também abordar a caça, mas destacando que, na realidade, esta não é uma ameaça tão importante para a anta.
Vamos falar dos agrotóxicos no entorno do Pantanal, que descem para a planície alagável através das águas e dos rios que nascem fora do bioma. Enfim, a gente vai tratar de tudo, mas contextualizando de forma bem precisa, com as informações cientificas que a gente tem.
Todos os membros da equipe estão assistindo a novela Pantanal – é nossa lição de casa – porque precisamos ver como a novela fala de meio ambiente e conservação. E está falando bastante, está abrindo uma super janela para o bioma aqui no Brasil.
Os personagens falam sobre os temas durante suas conversas e de forma bem contextualizada do que é o Pantanal e o que não é. Então, a gente vai emular isso.
Qual a frequência dos capítulos?
Pensamos em lançar um novo capítulo a cada quinze dias, que é um intervalo de tempo no qual a gente consegue, entre os membros da equipe, dar conta de um texto bacana, uma história, uma apresentação.
Cada capítulo é dedicado a um personagem ou a um tema?
A ideia é que cada capítulo seja dedicado a um tema, a uma história, na verdade. Temos várias historinhas sobre as nossas antas de Baía das Pedras, e cada capítulo vai tratar de uma dessas histórias.
Por exemplo, sobre quando – atenção, spoiller! – o Benjamin largou a Rita e se juntou com a Wie. Vamos contextualizar com um pouquinho do passado, do presente, e acrescentar aspectos como se rolou fogo nesse momento, se tem um rio que passa ali perto e está contaminado. A história é o fio condutor e vamos inserir temas que consideramos importantes para disseminar.
Mas, durante todo o processo da novela, vamos soltar alguns vídeos, áudios, teasers, textos, que, necessariamente, não fazem parte dos capítulos. Vamos alimentar com outros materiais audiovisuais ao longo do ano: pode ser um vídeo bacana da Rita, ‘acabamos de fazer um vídeo do nosso personagem Felippe”, enfim… a gente está pensando numas coisas nessa linha também.
Quanto tempo vai durar a novela?
Talvez até o final do ano. Pensamos em seguir em paralelo com a novela. Não sei até quando vai Pantanal, na TV, mas queremos aproveitar esse momento em que está se falando tanto desse bioma, com todas as questões que estão sendo levantadas para o público, além da beleza do lugar.
A gente quer aproveitar essa visibilidade para embarcar nela, criando barulho para a anta, também. Creio que podemos lançar o último capítulo um pouco antes do Natal, mas ainda não falamos sobre isso.
Qual o principal objetivo do projeto? E a expectativa de vocês?
Como em todas as nossas atividades de comunicação, queremos popularizar conhecimentos sobre a anta, aproximar os brasileiros dessa espécie, acabar com o estigma que ainda a cerca: ela não é um bicho bobo! É tudo isso junto.
Queremos aproveitar este momento de visibilidade do Pantanal e colocar a anta na boca do povo pra que conheçam o animal, as ameaças que enfrenta, e como ela é importante para a biodiversidade, pra buscarmos fazer algo por ela.
Essa é a mensagem, de uma forma mais lúdica, de brincadeira, divertida, de uma forma mais leve.
Em geral, em muitas circunstâncias de comunicação a gente acaba falando das sombras: o animal está ameaçado de extinção, seu habitat está sendo destruído, os agrotóxicos, os atropelamentos…, tudo de uma forma mais pesada. Com a novela, essa comunicação será feita de uma forma mais legal. Vamos ver o que a gente consegue e como o público reage.
O elenco
Agora, conheça alguns dos personagens da ‘saga antológica’ da Incab. De qual história você mais gosta? Qual sua anta favorita?
RITA
Esta anta adulta e madura entra nesta história lá nos idos de 2009, com cerca de dez anos, casada com Benjamin. O monitoramento feito por colar-GPS e sua presença frequente em fotos e vídeos das armadilhas fotográficas dos pesquisadores que atuam na região, revelam que a enorme área de vida de Rita abrange as invernadas da Barragem e do Manduvi da Fazenda Baía das Pedras.
Calma e serena, é extremamente dedicada à criação de sua prole e carrega essa árdua tarefa praticamente sozinha, não se dando conta das aventuras extraconjugais do marido.
Apesar do enorme sofrimento pela perda de dois jovens filhotes, com muita luta e perseverança ela consegue criar dois de seus filhos até a idade adulta: o macho Dóinho e a fêmea Donna.
Entretanto, as dificuldades da luta pela sobrevivência no Pantanal deixarão marcas em seu corpo. E, após a morte de sua última cria, a pequenina Lindinha, o destino não será nada piedoso com Rita.
BENJAMIN
Este macho entra em nossa trama no início de sua vida adulta, aos cinco anos. Foi a primeira anta capturada pelos pesquisadores na Fazenda Baía das Pedras e vem sendo monitorada desde então.
Forte e charmoso, é um bon vivant, conhecido na região como o Don Juan do Pantanal. Casado com Rita, que mal sabe de suas escapadas com Kelly e Dora, Benjamin não defende território (assim como as demais antas), mas se considera o rei da invernada da Barragem!
Esporadicamente, participa da criação de seus filhos Dóinho e Donna, mas com o envelhecimento de Rita, volta a percorrer suas trilhas noturnas em busca de novas aventuras e rabos de saia.
DUDA
É uma fêmea enorme, alta e linda, casada com Caio – um macho muito simpático e gentil – e o casal é sinônimo de harmonia. Vivem uma vida tranquila, pacata e feliz, criando seus muitos filhos às margens das baías ao longo da paradisíaca Invernada do Manduvi.
Apesar da trágica morte de sua primogênita, Gabriela, Duda terá seu coração preenchido com a chegada de seus netos, apesar do desgosto que lhe causa o casamento de sua caçula, a jovem Panqueca.
CAIO
Baixinho e simpático, é um exemplo de marido e pai! Só tem olhos para sua amada Duda e seus filhotes. Na juventude, foi grande explorador da região percorrendo algumas fazendas vizinhas em busca de um futuro melhor.
Quando conheceu Duda, foi amor à primeira vista e nunca mais saiu da Invernada do Manduvi!
Mas, quando perceber o desgosto de sua esposa com o casamento da filha caçula, Panqueca, Caio tentará colocar um ponto final na situação.
FELIPPE LYON
Ah, este rapaz compensa sua baixa estatura com sua notória impaciência e agressividade. Mesmo marrento, bronco, estouradinho e casca grossa, ele conquista o coração da jovem e bela Justine!
Felippe é o terror dos pesquisadores que atuam na região. Sempre que é capturado nas armadilhas de caixa, mostra os dentes e avança em todos, pula e bate as patas no chão, levanta poeira!
Apesar do escândalo habitual, Felippe é ótimo pai e defende seus muitos filhos com cascos e dentes! Embora tente negar, seu filho preferido é o do meio, Jamie, que escolheu para ser seu sucessor.
JUSTINE
Lindíssima e cheia de charme, Justine chegou à invernada da Barragem com dois anos. Muito independente e com passado misterioso, encontra em Felippe sua “cara-metade”.
O sonho de ser mãe de uma pequena fêmea perpassa muitas gestações. Devido a isso, não dá muita atenção a seus filhotes machos, logo deixando-os aos cuidados do pai!
Quando ela finalmente dá à luz uma antinha, a natureza selvagem na vastidão do Pantanal irá impor a ela desafios quase intransponíveis.
WIE
Jovem e provocante, ela jamais passa despercebida: é conhecida como a anta dos olhos de mel. Aos dois anos, decide caminhar para longe de sua família e chega sozinha à Fazenda Baía das Pedras. Nas primeiras semanas, conquista Brutus, um macho sub-adulto que também passava pela região.
Quatorze meses depois, Wie torna-se mãe de Ariel – uma linda “melancia”, como são chamados os filhotes por causa do desenho em sua pele – e acredita que viverá um casamento feliz. No entanto, o sumiço repentino de Brutus altera seus planos.
Abandonada e agora mãe solteira, Wie chora seus sonhos destruídos, mas logo sacode a poeira e sai em busca de um novo par para perpetuar seus genes.
Os olhos de mel e a jovialidade chamam a atenção dos machos da região e Wie começa a nutrir o ódio e a inveja das famílias das antas Rita, Duda e Justine! Para conseguir o que quer, Wie irá até o limite levando a muitas intrigas e traições.
ARIEL
A pequena é fruto do breve relacionamento amoroso entre Wie e Brutus. Com o sumiço do pai e a falta de atenção e cuidados da mãe, Ariel cresce raivosa e revoltada.
Geniosa e rebelde, busca na comida – em especial, marmelos! – uma forma de acalmar suas crises de nervos. Não aceita de forma alguma ser capturada ou equipada com colares de GPS.
Não é dotada de grande beleza ou simpatia, mas, apesar disso e de seu gênio forte, irá conquistar tudo aquilo que deseja, inclusive o coração de Jamie, filho do casal mais harmonioso do Pantanal: Justine e Felippe.
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Fotos: divulgação/Incab