Este texto foi escrito por Dario Vitorio Kopenawa Yanomami, jovem liderança de seu povo, filho do xamã e grande líder Davi Kopenawa Yanomami, para o blog ‘Jovens Cidadãos da Amazônia’, e ilustrado por desenhos feitos pelos indígenas sob coordenação da Hutukara Associação Yanomami/ISA
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Hoje, nós temos 1.202 casos confirmados de Covid-19 e 23 mortes na Terra Indígena Yanomami (TIY). Os dados são do relatório da Rede Pró-Yanomami e Ye’kwana e do Fórum de Lideranças da TIY. Estamos muito preocupados porque essa doença está cada vez mais aumentando na nossa população.
Os fatores que transmitem essa doença na TI Yanomami são os invasores de garimpos ilegais, que cada vez mais vêm aumentando. A Covid-19 é transmitida pelos garimpeiros ilegais. Os parentes estão próximos desses garimpos.
Está agravando na TI Yanomami também o aumento da malária. Estamos com mais de 20 mil casos confirmados este ano. Estamos muitos preocupados a respeito disso, com a falta de assistência e a precariedade da saúde.
A gente está monitorando os avanços da Covid-19 na TI Yanomami. e lançou, este mês, o relatório Xawara: rastros da Covid-19 na Terra Indígena Yanomami e a omissão do Estado (com 106 páginas), elaborado pela Rede Pró-Yanomami e Ye’kwana e pelo Fórum de Lideranças da TIY, que mostrou aumento de 250% dos casos nos últimos três meses: de 335, em agosto, para 1.202 infectados em outubro.
São 37 regiões no Território Yanomami e, em 23 delas, há casos confirmados da doença.
É muito difícil a gente conseguir dados de novos casos porque nosso território é quase 10 milhões de hectares e tem que andar muito. Temos 380 comunidades e população geral é 27 mil Yanomami e Ye’kuana. A TIY está localizada entre os estados de Roraima e Amazonas, e temos grupos isolados.
Então, por isso, a gente está trabalhando através da comunicação via radiofonia, pegando informações com os profissionais que trabalham na TI Yanomami. Pegando as informações e os dados de boletim do Dsei (Distrito Sanitário Especial Indígena) Yanomami e da Casai (Casa de Atendimento da Saúde Indígena), do Ministério da Saúde.
É assim que monitoramos esses avanços da Covid-19 na TI Yanomami.
Essa ação do monitoramento da Covid-19 parte da Hutukara Associação Yanomami com parceria do Instituto Socioambiental.
Monitorando os parentes
O enfrentamento é muito complexo porque nós temos problemas sérios que estão acontecendo também. Os garimpeiros ilegais estão cada vez mais subindo, pousando aviões e helicópteros. Esses garimpeiros ficaram doentes e houve contaminação em suas comunidades, onde há proximidade com os Yanomami.
O garimpo fica perto [das aldeias] e é mais fácil de contaminar nossos parentes. Isso é muito complexo e a gente está falando na radiofonia com as lideranças. Não pode ficar muito próximo com o garimpo, não pode ir lá onde tem acampamento de garimpeiros.
Todo dia estamos monitorando os parentes na radiofonia. Outras comunidades, onde não tem garimpo, não chegou ainda a contaminação de Covid-19. Mas onde tem garimpo muito próximo, muitos Yanomami já foram contaminados.
Por outro lado, estamos tentando mostrar aos nossos parentes a compreender a não ficar muito perto das outras pessoas que ficaram contaminadas. Não pode visitar, não pode andar onde tem garimpo, não pode ficar perto do posto de saúde porque o profissional chega contaminado e transmite a Covid-19.
Nós, da Hutukara, também estamos ajudando o povo Yanomami dando apoio emergencial, comprando terçado, facão e equipamentos como anzol, redes, sandálias, sabonetes e sabão para lavarem as mãos e suas roupas. Junto com o ISA, estamos dando esse apoio emergencial na TI Yanomami. Isso é muito importante para que eles não saiam do território para a cidade.
A Hutukara produziu também informações sobre a prevenção da Covid-19 na língua Yanomami. Fizemos cartilhas de orientação para informar como é a transmissão e a prevenção. Escrevemos em quatro línguas – – para distribuir no território. Quem sabe ler vai depois orientar as outras pessoas para dizer o que é o coronavírus, o que significa Covid-19.
Dario nasceu na comunidade do Watoriki (Serra do Vento), também conhecida como Demini, no Amazonas. É professor de educação intercultural, bilíngüe e cursa Gestão Territorial Indígena na Universidade Federal de Roraima (UFRR). É diretor da Hutukara Associação Yanomami, da qual seu pai é presidente. Em 2019, participou como palestrante da ‘2a. Oficina Jovens Cidadãos da Amazônia Real’, quando falou aos estudantes como é o papel de uma liderança nas redes sociais. Escreva pra ele: dario@amazoniareal.com.br
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Imagens: Hutukara Associação Yanomami/ISA (as ilustrações deste texto fazem parte da série de materiais produzidos pelos Yanomami sobre a Covid-19)