Apesar da aparência inofensiva e “fofa” dos coalas (Phascolarctos cinereus), diferentemente de outros animais que convivem em grupos, como lobos, golfinhos ou primatas, esses marsupiais da Austrália têm hábitos de vida solitários. Adultos da espécie, com exceção de quando estão acasalando, não costumam apresentar um comportamento sociável. Pelo contrário. Algumas vezes, na disputa por uma fêmea, os machos podem se tornar bastante violentos.
Mas um biólogo da Universidade de Deakin conseguiu fazer um registro surpreendente: documentar a interação afetiva entre jovens machos, com gestos de carinho e afeição entre eles (assista ao vídeo no final desse texto). Durante três semanas, Darcy Watchorn observou o comportamento de coalas na floresta de Cape Otway, a pouco mais de 200 km ao sul de Melbourne, uma área densamente povoada pela espécie, algo muito raro nos dias de hoje.
Todo dia, entre 9h da noite e 2h da madrugada, horário em que os coalas estão mais ativos, Watchorn ficava atento às suas ações, como eles agiam.
“Depois de muitas noites e muitos goles de chá, testemunhei algo realmente inesperado: coalas machos se envolvendo em comportamentos afetuosos uns com os outros, como brincar e se limpar. Fiquei chocado. Coalas adultos são normalmente solitários, então observações como essa são extremamente raras”, contou ele em um artigo ao site The Conversation – e na publicação científica no Australian Mammalogy.
Segundo o biólogo, durante esses registros, os animais ainda cheiraram os órgãos genitais um do outro e pareciam “conversar”, produzindo chamados suaves e agudos, semelhantes aos sons que os filhotes fazem. “Eles também pareciam estar brincando. E gentilmente, mas talvez provocativamente, mordiam um ao outro no braço e na orelha, um pouco como filhotes atrevidos fazem. Essas interações não eram breves. Observei os coalas por duas horas antes de finalmente cair no sono. Quando voltei na hora do almoço no dia seguinte, eles ainda estavam lá”, acrescenta.
O biólogo explica que esse comportamento é inesperado porque, em geral, coalas raramente interagem, cara a cara. Quando o fazem é através de vocalizações ou a deixar seu cheiro e farejando outros indivíduos na floresta.
Watchorn menciona, entretanto, que algo similar já havia sido observado há mais de 30 anos, em florestas com grandes populações de coalas e envolvendo também animais juvenis, entre os três e cinco anos de idade. Apesar de ocorrer um pico hormonal nessa faixa etária, a suspeita do pesquisador é que essa interação possa ser resultado da enorme quantidade de indivíduos. Normalmente há menos de dois coalas encontrados por hectare na maioria das regiões da Austrália. Em Cape Otway, a média é de 15 coalas por hectare.
“Essa alta densidade significa que as áreas de vida dos coalas têm mais probabilidade de se sobrepor e suas interações serão mais frequentes. Isso também significa que a competição por comida, espaço e parceiros pode ser especialmente alta”, sugere. “Então, os machos jovens podem usar comportamentos afetuosos, como limpeza e brincadeiras, para reduzir conflitos e administrar o estresse. Pode ajudar ainda os indivíduos a se familiarizarem com seus vizinhos, estabelecer hierarquias e evitar encontros agressivos.”
Outra hipótese levantada é que há uma menor diversidade genética entre eles, ou seja, há uma maior chance de existir parentesco e tolerância no grupo.
Apesar de Cape Otway abrigar uma grande população de coalas, Watchorn lembra que, infelizmente, em 2022, a espécie foi declarada oficialmente ameaçada de extinção em várias regiões da Austrália. Entre suas principais ameaças estão a perda de habitat, as mudanças climáticas e a clamídia.
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