Para celebrar o Dia Mundial da Água e contribuir para o debate sobre este tema tão urgente, o Instituto SOS Pantanal, que, desde 2009 se dedica à preservação do bioma sul-mato-grossense, lançou o programa Águas do Pantanal voltado ao monitoramento dos recursos hídricos da Bacia do Alto Paraguai.
A primeira ação dessa iniciativa é a expedição Águas que Falam, realizada em parceria com a Chalana Esperança, que percorrerá municípios como Campo Grande, Aquidauana, Miranda e Corumbá.
“A ideia é aprofundarmos a compreensão de que o Pantanal depende da água, assim como é moldado pelo fogo. A gente já trabalha com o fogo, por meio das Brigadas Pantaneiras, e decidimos dar esse passo a mais. Precisamos entender a qualidade da água que está chegando ao Pantanal e se o volume, que está diminuindo, impacta na sua preservação”, explica o biólogo Gustavo Figueirôa, diretor de Comunicação e Engajamento do instituto.
“A ideia desta primeira expedição é investigar essas questões porque ainda não há muitos trabalhos perenes sobre essa pesquisa. Ela terá a função de entender qual é o cenário, para que a gente possa montar as melhores estratégias, agir e reverter os quadros atuais e fazer previsões sobre o futuro do bioma”, completa.

Além da medir a qualidade da água em diversos pontos do Pantanal Sul, a iniciativa também dialogará com as comunidades locais para registrar depoimentos de moradores que vivem próximos aos rios, dando voz a quem lida com os problemas causados pela poluição e pela diminuição do volume de águas.
“A gente vai conversar com as pessoas que vivem e dependem dos rios para entender qual é a visão delas sobre a água e o que mudou nos últimos anos: se diminuiu o estoque pesqueiro e a quantidade de água ou se aumentou a poluição e como isso tem afetado a vida deles”, destaca Figueirôa.
Sobre a escuta aos moradores, Daniella França, coordenadora de Educação para Conservação e cofundadora da Chalana Esperança, acrescenta: “Entendemos que não existe conservação sem participação popular. Por isso, é de extrema importância a decisão de envolvermos as comunidades em todo o processo e de utilizarmos da ciência cidadã para entender o que acontece no bioma”.

O projeto inclui a distribuição de materiais educativos, além da capacitação de diferentes comunidades “para que elas possam protagonizar o monitoramento e momentos de troca de saberes, em que a visão para o futuro e a conservação das águas do Pantanal poderá ser construída em conjunto”, explica.
E a educadora ainda destaca que a união dos conhecimentos científico e tradicional permite não só o envolvimento das pessoas que habitam o bioma e são as mais afetadas pelos seus problemas, como também, que sejam traçadas – em conjunto – estratégias de longo prazo para a conservação do Pantanal.
Além da Chalana Esperança, outra parceira importante da expedição é a organização SOS Mata Atlântica que, por meio do programa Observando Rios, realiza o monitoramento da qualidade da água em diferentes bacias de domínio da Mata Atlântica.
(ontem, no Dia Mundial da Água, a ONG divulgou uma triste notícia: menos de 7% dos rios situados no bioma, onde mais de 70% da população brasileira vive, apresenta boa qualidade da água, e o que o Rio Pinheiros, na capital paulista, é o mais poluído entre os 120 monitorados: contamos aqui)
Para os organizadores, a transferência da tecnologia e experiência desse programa é crucial para o resultado da expedição pioneira.
Diálogo, fogo, informação e restauração
Há quatorze anos, o Instituto SOS Pantanal vem desenvolvendo ações em quatro frentes de atuação:
- a promoção de políticas públicas que facilitem o diálogo entre sociedade e poder público, de modo a gerar ações que beneficiem tanto o meio ambiente quanto o desenvolvimento econômico da região;
- o combate a incêndios, por meio do programa Brigadas Pantaneiras, que estrutura operações incisivas contra queimadas naturais ou decorrentes de ações criminosas;
- a produção de informações sobre o Pantanal, por meio de monitoramentos remotos e territoriais, agregando e divulgando conhecimentos relevantes sobre o bioma; e
- a restauração socioambiental, com ações desenvolvidas em áreas degradadas e em locais de segurança, com incentivo a pesquisas e projetos locais.
E essa experiência acumulada pela equipe da organização, na análise de Gustavo FIgueirôa, torna a missão do programa Águas do Pantanal mais fluída e menos desafiadora.
“Este projeto difere de nossas outras ações, mas envolve o que a gente faz estruturalmente: a compreensão de um problema a fundo. Da mesma forma que fizemos com a questão do fogo, quando estruturamos um programa de brigadas para ser uma das soluções para o problema, vamos agora fazer o mesmo com o projeto de águas, para, em campo, entendendo o que está acontecendo para propor à sociedade civil melhores propostas de gestão para políticas públicas”, conclui.
“Água é sinônimo de vida, e vida é sinônimo de Pantanal!”, declara o SOS Pantanal, que conta com o patrocínio da Fundação Toyota Brasil para a realização de mais este projeto.
Foto (destaque): Gustavo Figueirôa/SOS Pantanal