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Espanhóis conseguem fertilização inédita de ovos de atum-azul em cativeiro, mas notícia gera temor entre especialistas

Espanhóis conseguem fertilização inédita de ovos de atum-azul em cativeiro, mas notícia gera temor entre especialistas

O atum-azul (Thunnus thynnus), também conhecido como atum-rabilho ou bluefin do Atlântico, é considerado o peixe mais caro do mundo. Sua carne é muitíssimo utilizada no preparo de sushi. Com o aumento do consumo da culinária japonesa em todos os continentes, a espécie começou a sofrer com a sobrepesca. Em algumas regiões, suas populações foram reduzidas em 80%.

Mas uma aparente boa notícia foi divulgada por pesquisadores da Espanha, que anunciaram a reprodução inédita desse atum em cativeiro. A equipe do Centro Oceanográfico de Murcia del Instituto Español de Oceanografía, que pertence ao governo do país, pretende agora vender ovos fertilizados e filhotes de atum para empresas de piscicultura.

Até então, essas companhias faziam a retirada de atuns jovens dos oceanos para engordá-los em fazendas (gaiolas) no mar ou em tanques em terra. Com o sucesso da fertilização de ovos em cativeiro, os cientistas espanhóis afirmam que a demanda por atum de vida livre irá ser reduzida e diminuir assim o impacto da sobrepesca nos oceanos.

Algumas empresas demonstraram interesse na compra dos ovos e filhotes produzidos na planta de Murcia, entre elas a Next Tuna, que investe na produção sustentável da espécie e é co-financiada pela União Europeia.

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Espanhóis conseguem fertilização inédita de ovos de atum-azul em cativeiro, mas notícia gera temor entre especialistas

Os ovos fertilizados do atum-azul
(Foto: Instituto Español de Oceanografía (IEO) – Centro Oceanográfico de Murcia)

Outras espécies de atum já são reproduzidas em cativeiro no Japão e na Austrália, por exemplo. Mas essa é a primeira vez que a fertilização do caríssimo atum-azul dá certo.

Todavia, especialistas em vida marinha levantam questões sobre a futura produção em grande escala. Pra começar, essa espécie de atum é migratória, ou seja, percorre grandes distâncias no mar para encontrar alimento e se reproduzir. Como ela irá se comportar dentro de tanques? Isso afetará sua saúde?

Outro ponto é que animais criados em cativeiro recebem antibióticos para controlar doenças, pois muitas vezes esses peixes apresentam uma imunidade mais baixa justamente por viverem fora de seus ambientes naturais.

Nortuna, uma empresa norueguesa que já fechou contrato com o centro oceanográfico de Murcia, afirmou que o uso de antibióticos seria mínimo, apenas empregado caso houvesse algum surto.

Entretanto, além de antibióticos, organizações de proteção animal também alertam que hormônios sintéticos são injetados nas fêmeas para que elas liberem os ovos a serem fertilizados.

“Sabe-se muito pouco sobre os requisitos [do atum] para seu bem-estar adequado, pois essa é uma espécie altamente migratória com comportamentos de caça e padrões de migração complexos”, ressaltou Catalina López, veterinária e diretora da Aquatic Animal Alliance, em entrevista ao jornal The Guardian. “Sem uma extensa investigação científica sobre o bem-estar do atum, é irresponsável cultivá-lo intensivamente e pode levar a muitos problemas, como estresse, frustração e, em última análise, baixa imunidade”.

Espanhóis conseguem fertilização inédita de ovos de atum-azul em cativeiro, mas notícia gera temor entre especialistas

Um atum-azul juvenil: maior dentro de todas as espécies de atum,
ele pode chegar a mais de 5 metros e pesar até 700 kg
(Foto: Instituto Español de Oceanografía (IEO) – Centro Oceanográfico de Murcia)

Outro projeto polêmico envolvendo a criação em cativeiro de animais marinhos na Espanha é a abertura da primeira fazenda no mundo para a criação de polvos, apesar de alertas de biólogos. A espécie, que na natureza tem hábitos solitários, não vive bem em cativeiro, onde se torna agressiva, com casos de auto-mutilação e canibalismo.

Uma petição online promovida pela Avaaz já tem, até este momento, quase 1 milhão de assinaturas contra o empreendimento. Você também pode participar do protesto digital neste link.

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Foto de abertura: Instituto Español de Oceanografía (IEO) – Centro Oceanográfico de Murcia

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Bruno Barcelos
Bruno Barcelos
1 ano atrás

Boa reportagem. Só atentar para a grafia da palavra “piscicultura”.

UBIRATA DA SILVA
UBIRATA DA SILVA
1 ano atrás
Responder para  Suzana Camargo

O leitor deste artigo precisa entender que existe uma disputa comercial entre a pesca e a aquicultura para conquistar os consumidores de peixes e outros organismos aquáticos, portanto ficar atento quanto a possibilidade de manipulação. Sou professor de Engenharia da Aquicultura da UFPR, e sei que os alimentos produzidos pela aquicultura são saudáveis e podem ser produzidos de forma sustentável. Todas as restrições que foram levantadas neste artigos são conhecidas e já foram fartamente refutadas. Não existe nenhuma má notícia no desenvolvimento de formas de produção de alimentos que não dependam da simples extração da natureza. A forma como a aquicultura é descrita neste texto é diretamente proveniente de uma “deformação” profissional que desconfia de qualquer forma de intervenção humana na natureza. O cultivo de alimentos é a base da nossa civilização. O reconhecimento de que o mar não pode sustentar a população humana tem que acontecer assim como a caça em terra também já foi reconhecida como insustentável.

Victor Pontes
Victor Pontes
1 ano atrás
Responder para  UBIRATA DA SILVA

Gostei bastante da matéria e achei muito apropriado seu comentário. Eu encaro como uma excelente notícia tudo isso, mas consigo imaginar que para uma gama de empresas que vivem de pesca desse atum a notícia não é boa. E talvez tenham, em médio ou longo prazo, que se adaptar a novas atividades.

Marcelo Mendes
Marcelo Mendes
1 ano atrás

Vi e li a reportagem, como Engenheiro de Aquicultura, não vejo nada de errado. Pois para produzir qualquer animal em cativeiro é necessário capturá-los. O que se deve fazer é ter exemplares em cativeiros e de tempos em tempos renovação do plantel ou renovar 50%. Tbm produzir algumas espécies para alimentá-los em cativeiro.

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