A americana Angela Pozzi foi criada em torno da arte. A mãe era pintora e o pai, diretor de um museu. Sempre acreditou que a arte poderia mudar o mundo. Nada mais natural, então, que seguisse a mesma carreira dos pais. Durante 30 anos foi professora de artes em escolas públicas e universidades no Oregon, estado na costa noroeste dos Estados Unidos.
No final dos anos 90, além de dar aulas, Angela decidiu produzir esculturas de animais marinhos com material reciclado comprado em brechós. Mas a morte do marido, vítima de um tumor cerebral, mexeu com a artista. Ela começou a questionar qual era o propósito de seu trabalho. Em uma longa caminhada pela praia, encontrou a resposta para sua angústia.
Ao se deparar com montanhas de lixo na areia, a americana decidiu que nunca mais compraria nenhum material para produzir suas esculturas. Ali estava tudo o que ela precisa.
Nascia então a Washed Ashore, organização não-governamental, que tem como missão educar e conscientizar crianças e adultos, através da arte, sobre o descarte de resíduos, principalmente plástico, nos oceanos.
Com a ajuda da comunidade local, a Washed Ashore coleta lixo das praias do Oregon. Segundo a organização, 90% dos resíduos são feitos com matéria-prima produzida a partir do petróleo: plástico e nylon.
Graças à criatividade e ao entusiasmo de Angela, praticamente tudo o que é recolhido da areia se transforma em arte: enormes e impressionantes esculturas de animais marinhos. São focas, pinguins, peixes, polvos, águas-vivas e muito mais (veja as esculturas ao final deste post).
Todavia, a artista não executa o trabalho sozinha. Ela faz o desenho das peças e junto com uma assistente desenvolve as partes mais difíceis, como a cabeça dos animais. As demais são feitas por voluntários – de crianças a idosos -, que participam de workshops. Durante as aulas, eles se deparam com objetos do seu dia a dia, que acabaram indo parar no mar: sandálias, escovas de dentes, potes plásticos.
A artista Angela Pozzi e uma de suas esculturas feita com lixo recolhido da praia
Mas não é só esculturas o que a Washed Ashore faz. As obras participam de exposições itinerantes ao redor do país, em que o principal objetivo é alertar sobre a poluição de nossos mares. A organização bate na tecla de que é fundamental a prática dos “5 R’s”: reduzir, recusar, reutilizar, recriar e reciclar.
Hoje, além de Angela, a Washed Ashore conta com uma grande equipe de profissionais e centenas de voluntários. Tem o apoio e patrocínio de diversas entidades, como por exemplo, a Agência Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA). Desde 2010, já foram produzidas 66 enormes esculturas (medem entre 3,5 e 4,5 metros de altura), que utilizaram 17 toneladas de lixo coletados no mar.
Estima-se 260 mil toneladas de partículas plásticas estejam flutuando pelos oceanos do planeta. Muitos desses resíduos acabam sendo engolidos por animais e pássaros, que acabam morrendo. Nos últimos 30 anos, a produção de plástico no mundo aumentou em mais de 500%.
Este mês, algumas das esculturas da Washed Ashore estão participando de uma exposição em Melbourne, na Austrália. “Sempre pensei na exposição como sendo uma espécie de epidemia de arte. Ela vai em algum lugar e inspira mais pessoas a querer fazer algo muito semelhante e desta forma, conseguimos tirar mais lixo de nossas praias, aumentando assim a conscientização internacional. Esse é o nosso objetivo final”, diz a artista.
Confira abaixo algumas das esculturas criadas pela Washed Ashore:
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Fotos: divulgação Washed Ashore
Fantásticas, as esculturas, como também a iniciativa de utilizar resíduos sólidos descartados, para produzir arte.