A cena foi pra lá de incomum e ainda gera dúvidas entre os profissionais da Whale Watch Western Australia, uma empresa de turismo, que oferece passeios de observação de baleias e orcas naquele país. No começo do mês, um grupo que estava fazendo um tour pela Baía de Bremer, na costa sul do oeste australiano, avistou uma orca macho e nas imediações uma “mancha” branca, que a princípio parecia ser uma lula bastante grande. Mas na verdade, a mancha era uma jovem jubarte (Megaptera novaeangliae), que estava nadando de cabeça pra baixo.
Em geral, as orcas (Orcinus orca) se alimentam de peixes, lulas, focas, golfinhos e toninhas pinguins, tartarugas-marinhas e… grandes baleias!
E ao prestar mais atenção na jubarte, a equipe do Whale Watch Western Australia reparou que ela estava bastante debilitada, provavelmente porque tinha uma rede de pesca enroscada em sua cauda. Ou seja, ela seria uma presa fácil para a orca. E pra piorar ainda mais a situação, outras orcas se juntaram à caça.
Todavia, para a surpresa de todos, com movimentos muito rápidos – intencionais ou não, aí persiste a grande dúvida -, o grupo de orcas começou a rodear a jubarte, que tentava se proteger deles. Mas o que aconteceu em seguida foi inexplicável: logo após a fêmea mais velha do bando nadar abaixo da cauda da baleia, a corda se desprendeu.
“Será que a fêmea deliberadamente ou acidentalmente ajudou a desenredar essa baleia jubarte? Pouco depois desta última aproximação, as orcas se reagruparam e se afastaram da jubarte para nossa surpresa. Perderam todo o interesse e nadaram na direção oposta”, contou a equipe da companhia de turismo em sua página no Youtube. “Uma vez que as orcas foram embora, a jubarte se aproximou de nós, circulando de perto nossa embarcação, o que deu uma oportunidade perfeita para observar a gravidade dos ferimentos da corda e foi bom ver que a grande maioria dela não estava mais lá”.
Toda a ação foi filmada por um drone e abaixo há um vídeo, com uma edição das imagens:
O que também surpreende neste encontro inusitado é que a jubarte já não deveria mais estar em águas australianas. Em geral, a espécie passa os meses de verão no Hemisfério Sul, como é possível ver no litoral brasileiro, mas ao chegar no final do ano, entre setembro e novembro, elas voltam para a Antártica, onde se alimentam de krill. Talvez esta jovem baleia tenha ficado para trás porque teve os movimentos de sua cauda afetados pela corda da rede de pesca.
“Nos perguntamos sobre o futuro desta pequena baleia resiliente, será que ele será capaz de fazer a viagem de volta à Antártica para começar a se alimentar ou os cardumes de sardinhas e outras presas ao largo da costa a sustentarão até que sua população chegue ao nosso litoral nos próximos meses? O incrível fato de que a orca conseguiu retirar a maior parte da corda desta baleia antes de deixá-la nadar livremente foi realmente fascinante”, conjectura a equipe da Whale Watch Western Australia. “A orca resgatou deliberadamente essa jubarte ou foi a decisão tomada de que devido à sua saúde o esforço da caça não valeria a recompensa da energia no final? De qualquer forma, a orca decidiu que esta jubarte não deveria ser comida… Nossas mentes ainda estão rememorando os eventos de hoje, um passeio que ficará conosco para sempre. A atitude da orca foi verdadeiramente notável”.
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Fotos e vídeo: @Whale Watch Western Australia e NOAA (abertura – orcas)
Preferível pensar que as orcas foram altruístas e empáticas, porque já chega de desamor no mundo.