Com a chegada de ministros de várias partes do mundo a Cali, na Colômbia, para participarem da COP16 – Conferência das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica, mais de 70 líderes globais aproveitaram a oportunidade para divulgar carta aberta (o texto, na íntegra, está no final deste post) endereçada aos presidentes Gustavo Petro, da Colômbia, e Lula, do Brasil.
Os autores acreditam que, como anfitriões de COPs da Biodiversidade (Colômbia) e de Mudanças Climáticas (Brasil, em 2025), os presidentes “podem forjar uma parceria duradoura que guiará o mundo ao demonstrar a interconexão do clima e da natureza“.
E acrescentam: “Juntos, vocês podem defender ações ousadas para garantir que nossos esforços para proteger a natureza estejam alinhados com a ação climática, ao mesmo tempo em que colocam a transformação urgente de nossos sistemas alimentares no centro de nossa missão compartilhada por um futuro sustentável“.
Pesquisa lançada em 29/10, na COP16, pela organização Nature4Climate – Rastreador 2024: apenas 33% das políticas relacionadas à natureza publicadas desde o Acordo de Paris têm orçamentos alocados –, que avaliou mais de 1.300 políticas governamentais publicadas desde o Acordo de Paris, em 2015, “revela que, embora tenha havido progressos, a lacuna entre os compromissos políticos e a alocação orçamentária para a natureza, a alimentação e a ação climática continua muito grande”.
Na carta, os signatários destacam três áreas prioritárias para a referida ação unificada:
1) Fortalecer os planos nacionais de clima e biodiversidade;
2) Ampliar investimento para transformar sistemas alimentares e de natureza; e
3) Apoiar a participação efetiva de agricultores, povos indígenas e comunidades locais em políticas, decisões e monitoramento.
O documento reúne grande diversidade de vozes: de especialistas em políticas públicas e líderes empresariais a representantes indígenas e de organizações não governamentais. “Somos uma rede de empresas, investidores, cientistas, povos indígenas, jovens e organizações da sociedade civil que estão firmemente comprometidos em apoiar e trabalhar com vocês neste “um ano de ação unida sobre clima, natureza e alimentos”.
A lista completa você pode ver aqui, mas, a seguir, destacamos alguns nomes notáveis:
ESPECIALISTAS EM POLÍTICAS PÚBLICAS
Mary Robinson, ex-presidente da Irlanda; Christiana Figueres, ex-secretária da UNFCCC; Juan Manuel Santos, ex-presidente da Colômbia;
LÍDERES INDÍGENAS
Cristiane Julião Pankararu, Juan Carlos Jintiach, Joseph Itongwa, Alfredo Nurinkias, Enrique Salazar, Hindou Oumarou Ibhrahim;
CIENTISTAS
Carlos Nobre, climatologista brasileiro, especialista em Amazônia; Dr. Sylvia Earle, renomada oceanógrafa marinha; Johan Rockström, cientista climático;
LÍDERES JOVENS
Paloma Costa e Xiye Bastida, algumas das principais vozes do movimento jovem climático no Brasil e nos EUA.
NEGÓCIOS E FINANÇAS
Marina Grossi, Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), os ativistas e empresários Paul Polman e Richard Branson; David Atkin, PRI; Eva Zabey, Business For Nature; Frannie Leautier, Southbridge; Leah Seligmann, The B Team, além de empresas como Nestlé, IKEA Group, Danone e Salesforce.
LÍDERES DA SOCIEDADE CIVIL E ONGS
Coalizão Brasil Clima Floresta Agricultura; Marcia Hirota, da SOS Mata Atlântica; Virgílio Viana, da Fundação Amazônia Sustentável (FAZ); Martin Harper, Birdlife International; Lawrence Haddad, GAIN; Sherry Maderal, CDP.
A seguir, leia a carta dos líderes globais para Petro e Lula, na íntegra.
Cali para Belém: Ação unida sobre clima, natureza e transformação alimentar – para nossos povos
“Vossas Excelências Presidente Petro e Presidente Lula,
A sociedade está nas garras de uma crise socioeconômica, climática e de biodiversidade. As pessoas na linha de frente já estão vivendo o pesadelo de um planeta em aquecimento e mudança.
Hoje, temos uma oportunidade histórica de mudar de rumo. Sua liderança na transição ecológica pode fazer a diferença decisiva. O mundo precisa urgentemente abandonar os combustíveis fósseis, interromper e reverter a perda da natureza, garantir a segurança alimentar e atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Como anfitriões da COP16 e da COP30, a Colômbia e o Brasil podem forjar uma parceria duradoura que guiará o mundo ao demonstrar a interconexão do clima e da natureza.
Juntos, vocês podem defender ações ousadas para garantir que nossos esforços para proteger a natureza estejam alinhados com a ação climática, ao mesmo tempo em que colocam a transformação urgente de nossos sistemas alimentares no centro de nossa missão compartilhada por um futuro sustentável.
Os governos atualizarão suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), que vencem em fevereiro de 2025. Com sua liderança, podemos fazer da “paz com a natureza” o princípio que dá forma a esses planos nacionais de ação climática.
Somos uma rede de empresas, investidores, cientistas, povos indígenas, jovens e organizações da sociedade civil que estão firmemente comprometidos em apoiar e trabalhar com você neste “um ano de ação unida sobre clima, natureza e alimentos”.
Já temos as bases para a ambição necessária: os compromissos assumidos sob o Quadro Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal, o Acordo de Paris e seu Global Stocktake — incluindo a Declaração sobre Agricultura Sustentável, Sistemas Alimentares Resilientes e Ação Climática e a Declaração Conjunta sobre Clima, Natureza e Pessoas — servem como nossos projetos coletivos.
Estamos prontos para apoiar sua liderança na mobilização de todos os atores para entregar esses três resultados para proteger o que amamos:
● Fortalecer os planos climáticos nacionais para entregar uma vitória tripla para as pessoas, a natureza e a segurança alimentar, alinhando as NDCs que definem a década e as estratégias nacionais de biodiversidade (NBSAPs) e integrando os caminhos dos sistemas alimentares nacionais em ambos – com políticas e ações claras para interromper e reverter a perda de biodiversidade, incluindo o gerenciamento sustentável dos oceanos e acabando com o desmatamento até 2030;
● Aumentar o investimento para a transformação da natureza e do sistema alimentar alinhando os fluxos financeiros com o Acordo de Paris e o Quadro Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal, cumprindo seu compromisso de financiamento da biodiversidade e pelo menos triplicando o financiamento até 2030, priorizando o acesso direto ao financiamento para agricultores, povos indígenas e comunidades locais; e
● Apoiar a participação plena e efetiva de agricultores, povos indígenas e comunidades locais no desenvolvimento, tomada de decisões e monitoramento de políticas climáticas, de sistemas alimentares e de natureza, garantindo que os direitos e contribuições desses agentes de mudança para desbloquear o desenvolvimento sustentável, a prosperidade econômica e a proteção do nosso planeta estejam em primeiro plano.
A COP16 e a COP30 — ambas tendo como pano de fundo as paisagens naturais mais biodiversas do mundo — são nosso lembrete mais poderoso de que precisamos agir agora para proteger e restaurar o que é sagrado para nós, a fim de garantir sociedades e economias prósperas.
Este é um momento de possibilidade e um momento de decisão. Vocês são a primeira geração de líderes a realmente entender a crise dupla do clima e da natureza, mas também a última geração de líderes capaz de lidar com isso em tempo hábil.
Se a COP16 e a COP30 farão história ou não, agora está ao seu alcance. Estamos unidos a vocês para aproveitar este momento”.
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Foto: Ricardo Stuckert/PR