Por ser um dos países com o maior números de espécies endêmicas, ou seja, que só existem lá e em nenhum outro lugar do mundo, a Austrália também é um dos locais onde ocorre a maior quantidade de extinções do planeta. Só nos nos últimos 200 anos, mais de 50 animais e 60 plantas deixaram de ser observados, como foi o caso, em 2019, do ratinho (Melomys rubicola), que habitava a ilha de Bramble Clay, ao noroeste de Queensland (leia mais aqui).
No caso dos roedores, especialistas apontam como uma das principais causas das extinções o ataque de gatos selvagens, raposas e outras espécies de animais invasoras, introduzidas pelos colonizadores europeus na Austrália.
Todavia, sempre há espaço para boas surpresas. E foi isso o que aconteceu com uma equipe de pesquisadores da Australian National University recentemente. Após realizar diversos testes e comparações de sequenciamento genético entre diversas espécies, os cientistas descobriram que um pequeno roedor que era considerado extinto por mais de 150 anos ainda existe. O rato de Gould, que agora ganhou um novo nome científico – Pseudomys gouldii -, foi redescoberto na Baía de Shark, na ilha de Bernier, na costa oeste australiana.
O ratinho, que é chamado pelos indígenas de Djoongari, pesa cerca de 45 gramas. Onívoro, ele se alimenta de uma variedade de flores, folhas, fungos, insetos e aranhas. Também constrói túneis e caminhos para se locomover à noite e usa ninhos acima do solo como refúgios durante o dia.
Entretanto, como infelizmente algumas boas notícias vêm acompanhadas de uma má, o ratinho Djoongari não está totalmente a salvo. Sua população é muito pequena e vive numa área de 42 km2.
“A falta de diversidade genética nas populações remanescentes significa que os Djoongari são menos resistentes às mudanças de ambiente, incluindo as mudanças climáticas. Não podemos deixar esta espécie morrer – desta vez, não haverá volta”, diz Emily Roycroft, pesquisadora de pós-doutorado da Australian National University.
Desde 1788, quando os europeus chegaram à Austrália, mais de 30 espécies de roedores foram extintas. “Em menos de 150 anos, o equivalente a mais de 10 milhões de anos de história evolutiva foi perdido para sempre. Não basta apenas estabelecer populações seguras para salvar espécies. Precisamos controlar predadores selvagens, proteger e restaurar habitats e reduzir as emissões, para que mais espécies não sofram uma extinção rápida”, alerta a cientista.
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Foto: divulgação Australian National University
Bonitinho ele é, mas ainda que seu direito de ser redescoberto seja sagrado, não sei o que eu faria se descobrisse um Djoongari na estante da sala, degustando as folhas do meu livro predileto com casca e tudo.