Elas são quase mágicas. Um dos seres vivos mais impressionantes dos nossos mares. Conhecida popularmente como “jamanta ou raia-manta”, a espécie Manta birostris é um gigante marinho. É um dos maiores peixes dos oceanos. Encontrada em águas mornas de regiões tropicais e subtropicais de todo o planeta, ela tem o corpo em forma de losango e pode chegar a ter até oito metros de envergadura e pesar mais de duas toneladas.
Todavia, até hoje, um mistério rondava a espécie. Era dificílimo encontrar raias gigantes jovens e os cientistas não tinham ideia da localização de seus “berçários”.
Mas graças ao trabalho do pesquisador Josh Stewart, da Scripps Institution of Oceanography da Universidade da California e seus colegas do NOAA Office of National Marine Sanctuaries foi descoberto um berçário de raias gigantes no Golfo do México, entre a costa dos estados americanos do Texas e da Louisiana.
Em 2016, Stewart, que já viajou o mundo estudando a Manta birostris, se deparou com vários indivíduos jovens, algo raríssimo, quando mergulhava no Flower Garden Banks National Marine Sanctuary. Todavia, ele foi informado que o fato era comum no local. A partir daí, o biólogo concentrou seu foco ali.
Agora, em um estudo científico divulgado na publicação Marine Biology, Stewart revela que este pode ser o primeiro viveiro da espécie localizado no mundo.
“O estágio de vida juvenil das mantas oceânicas tem sido uma espécie de caixa preta para nós, já que raramente conseguimos observá-las”, afirma. “Identificar essa área como uma creche destaca sua importância para a conservação e o manejo, mas também, nos dá a oportunidade de nos concentrar nos filhotes e aprender sobre eles. Esta descoberta é um grande avanço na nossa compreensão das espécies e na importância de diferentes habitats ao longo de suas vidas. ”
“Esta é uma notícia empolgante para as arraias-mantas no noroeste do Golfo do México”, diz Emma Hickerson, coordenadora de pesquisa do Flower Garden Banks National Marine Sanctuary e co-autora do artigo. “Em nenhum outro lugar do mundo foi reconhecido um viveiro de jovens mantas gigantes, o que aumenta nossa compreensão de quão importante é o santuário para essas espécies icônicas.”
Stewart mergulhando ao lado de um filhote de raia gigante
Stewart espera que o achado possa auxiliar futuros projetos na melhor compreensão e proteção da espécie nos bancos e áreas circunvizinhas ao santuário.
“Há tantas coisas que não sabemos sobre as mantas e isso é excitante do ponto de vista científico, porque significa que há muitas perguntas ainda esperando para serem respondidas”, revela. “Do ponto de vista da conservação, isso significa que muitas das perguntas que você pode responder serão realmente significativas e terão impacto na gestão.”
Estudo de uma possível nova espécie na costa brasileira
Inofensiva ao homem, a jamanta é um animal dócil e curioso. Nada lenta e pacificamente, ao lado de mergulhadores. A reprodução da espécie acontece, em geral, a cada dois anos. Na gestação, que dura em média 12 meses, dá à luz somente a um filhote. A expectativa de vida deste gigante marinho gira em torno de 20 anos.
São justamente as manchas e pintas encontradas no ventre de cada animal que o tornam único, como impressões digitais, servindo para diferenciar um indivíduo do outro.
No costa brasileira, estas raias gigantes são normalmente avistadas durante o inverno, entre maio e agosto, especialmente no Parque Estadual Marinho da Laje de Santos, Parcel Dom Pedro e Ilha da Queimada Grande, no litoral de São Paulo.
Entretanto, no litoral do Espírito Santo, Rio de Janeiro, Bahia e no arquipélago de Fernando de Noronha, as raias observadas apresentam a cara branca e o dorso negro com manchas arredondadas, diferentemente da Manta birostris. Os biólogos acreditam que os indivíduos observados nestes outros estados são menores do que as jamantas, atingindo, no máximo, quatro metros de envergadura, talvez por serem mais jovens.
A suspeita dos cientistas brasileiros é que, ainda que pertençam à mesma espécie já descrita (Manta birostris), a coloração diferente destas últimas pode resultar na redescrição das características da espécie, tal qual como ela é conhecida atualmente.
Por isso, pesquisadores do Projeto Mantas do Brasil começaram um estudo inédito para mapear a presença das raias gigantes e tentar achar evidências da existência de uma possível nova espécie do gênero em águas brasileiras.
“Nosso trabalho consistirá na ampliação de equipe e de esforços por meio de parcerias nas regiões de interesse, visando coletas e análises do material genético da população com características distintas daquelas já descritas em estudos científicos e, com isso, determinaremos a qual espécie pertencem”, explica o biólogo Leo Francini, coordenador de pesquisas do projeto (leia mais aqui).
A jamanta tem o corpo em forma de losango e pode chegar a ter até oito metros de envergadura
e pesar mais de duas toneladas
Fotos: Projeto Mantas do Brasil (abre) e divulgação NOAA