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Descoberta inesperada traz esperança para espécie de perereca brasileira considerada extinta

Descoberta inesperada traz esperança para espécie de perereca brasileira então considerada extinta

O traço delicado e perfeccionista da ilustradora Jamie Hefley traz à vida a perereca-de-fímbrias (Phrynomedusa fimbriata), uma espécie da Mata Atlântica brasileira, declarada oficialmente extinta em 2004. Esse anfíbio foi encontrado apenas uma vez, em 1898, na região de Paranapiacaba, no município de Santo André, no estado de São Paulo. Desde então, ele nunca mais foi visto, apesar de várias pesquisas de campo terem sido realizadas naquela área.

Jamie faz parte da equipe do projeto “Extintos: Revealing the Beauty of Extinct Frogs from Brazil”, sobre o qual escrevi nesta outra reportagem, no final do ano passado. A iniciativa idealizada pelo biólogo e fotógrafo brasileiro Pedro Peloso, especialista em anfíbios e professor da Cal Poly Humboldt, universidade politécnica na Califórnia, está criando um banco de dados – com ilustrações -, de espécies brasileiras em risco de extinção ou já extintas.

É o caso da perereca-de-fímbrias, reproduzida na ilustração acima, uma das duas espécies brasileiras de anfíbios já declaradas extintas nas últimas décadas (a outra é a Boana cymbalum, que não é vista desde 1962).

Todavia, há uma bem-vinda reviravolta na história. Ao analisarem alguns frascos contendo antigas coleções de pererecas no acervo do Museu de Zoologia de São Paulo, os pesquisadores Délio Baêta e José Pombal Jr. encontraram um segundo exemplar da espécie Phrynomedusa fimbriata. Contudo, ele foi coletado na região da Serra da Pedra Branca do Araraquara, no estado do Paraná, ou seja, a cerca de 350 km de distância de Paranapiacaba.

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“O fato de que esse espécime da perereca-de-fímbrias foi encontrado a uma distância considerável de onde acreditávamos ser a única localidade em que a espécie havia ocorrido historicamente traz uma esperança de que a ela não esteja de fato extinta”, diz Baêta, pesquisador associado ao CBioClima – Universidade Estadual Paulista, e ao Museu Nacional – UFRJ.

Descoberta inesperada traz esperança para espécie de perereca brasileira então considerada extinta
Exemplar da perereca-de-fímbrias encontrado na coleção do Museu de Zoologia de São Paulo
Fotos: Délio Baêta (esquerda) e MZSP (direita)

Agora, com essa descoberta inesperada, suspeita-se que a área de ocorrência da espécie pode ser muito mais ampla e existem alguns fragmentos florestais bem preservados na região onde os biólogos acreditam que ela possa ter sobrevivido.

“Peloso e eu estamos iniciando os trâmites legais para realização de expedições nesta localidade. Nossa expectativa é que a primeira delas já ocorra em janeiro do próximo ano”, revela o pesquisador.

Descoberta inesperada traz esperança para espécie de perereca brasileira então considerada extinta
Délio Baêta analisando um pote com exemplares de Phrynomedusa
Foto: Ariadne Sabbag

A descoberta de um segundo exemplar da perereca-de-fímbrias foi relatada em um artigo científico divulgado recentemente no jornal Ichthyology & Herpetology. E o desenho, feito por Jamie, ilustrou a capa da publicação.

Jamie Hefley trabalhando na ilustração de mais um anfíbio brasileiro
Foto: Kellie Brown

Arte e ciência unidas na conservação dos anfíbios

O Brasil é o país com a maior diversidade global de anfíbios. Entretanto, 59 dessas espécies brasileiras são consideradas ameaçadas de extinção em algum grau, sendo 15 classificadas como ‘criticamente em perigo’, ou seja, um estágio antes de desaparecem por completo da natureza.

Acontece que muitas delas nem sequer foram fotografadas, por isso é tão importante o trabalho que está sendo realizado pelo projeto “Extintos”, com a criação do banco de ilustrações.

“O processo para a criação de uma imagem como essas é intenso. Para trazer maior realismo aos
retratos, nós analisamos espécimes de museu e as descrições originais”, explica Peloso. “Quando
entramos em contato com o Délio, maior especialista nas pererecas do gênero Phrynomedusa, ele
nos contou sobre esse segundo exemplar da espécie, que nos ajudou muito a entender melhor sobre
a espécie e conseguir elaborar o desenho.”

A estagiária Dani Cafaggi, do México, trabalha em uma das ilustrações para
o projeto “Extintos”, sob supervisão de Pedro Peloso
Foto: Kellie Brown

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Ilustração de abertura: Jamie Hefley

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