No Brasil, país com a maior diversidade global de anfíbios, acredita-se que 26 espécies desses animais já foram extintas nas últimas décadas e outras 189 estão ameaçadas, segundo um levantamento da União Internacional para a Conservação das Espécies da Natureza (IUCN). E muitos desses sapos, rãs ou salamandras, por exemplo, sequer foram fotografados antes de desaparecem da natureza. Todavia, um novo projeto traz eles de volta à vida, pelo menos, através de ilustrações científicas, como é o caso do Boana cymbalum, mais acima, um sapo endêmico da Mata Atlântica, avistado pela última vez em 1963.
A iniciativa idealizada pelo biólogo e fotógrafo brasileiro Pedro Peloso, especialista em anfíbios e professor da Cal Poly Humboldt, universidade politécnica na Califórnia, une ciência e arte, e faz parte de um projeto maior, o DOTs – Documentando Espécies Ameaçadas*.
O objetivo principal de “Extintos: Revealing the Beauty of Extinct Frogs from Brazil” é criar um banco de dados com as espécies brasileiras em risco de extinção ou já extintas, que eventualmente podem ser redescobertas, e assim, contribuir não apenas com a pesquisa científicas, mas também levar esse conhecimento para o público mais leigo, como comunidades locais e estudantes.
“Nossa missão é devolver um pouco da vida a estes anfíbios perdidos. Através de pesquisa e colaboração com artistas, nosso objetivo é criar representações modernas e cientificamente precisas de espécies extintas ou presumivelmente extintas do Brasil”, explica Peloso.
Para produzir as ilustrações dos sapos brasileiros, Peloso lançou um programa de estágio em parceria com o Departamento de Artes da instituição. Jamie Hefley, formada no Programa de Ilustração Biológica e Pré-Medica da Universidade Estadual de Iowa, é a primeira estagiária do novo projeto.
Com o trabalho de Jamie, é possível colocar um rosto e um corpo em algumas espécies que até agora só tinham nomes e descrições científicas. Para isso ela se baseia nas características físicas relatadas por biólogos, indivíduos preservados em coleções de museus e imagens de espécies similares. É um trabalho detalhado, minucioso e que exige muita pesquisa.
“Embora pertençam a um dos grupos de animais mais ameaçados do mundo, elas continuam a ser largamente ignoradas”, diz a ilustradora. “Ao criar retratos destes belos animais que a Terra pode perder ou já perdeu, esperamos chamar a atenção para os anfíbios do nosso planeta”.
Outrora uma espécie comum no Parque Nacional de Itatiaia, no Rio de Janeiro,
a rãzinha-verrugosa-do-itatiaia (Holoaden bradei) foi observada pela última vez em 1976
(Ilustração: Jamie Hefley)
Entre as principais ameaças enfrentadas pelos anfíbios estão a perda de habitat, a crise climática e a quitridiomicose, provocada por um fungo letal que tem devastado populações inteiras.
“Vejo o potencial deste projeto para educar e inspirar, complementar a pesquisa, evocar emoções e aumentar a conscientização sobre a importância da conservação da biodiversidade”, ressalta Jamie.
Após o término do estágio, a ilustradora irá expor seu trabalho no campus da universidade e ele poderá ser usado em publicações.
Muito utilizadas no passado, ilustrações científicas sempre tiveram um papel importantíssimo no estudo e descrição de novas espécies para a ciência. Até hoje, desenhos feitos há séculos atrás ainda contribuem para a pesquisa da flora e da fauna.
Jamie Hefley trabalhando na ilustração de mais um sapo brasileiro
(Foto: Kellie Brown)
*Desde a sua criação, o projeto DOTs já promoveu onze expedições científicas no Brasil para documentar espécies raras e ameaçadas de sapos.
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Ilustração de abertura: Jamie Hefley