Foram dois anos sem o Galo da Madrugada para alegrar os foliões de Recife. Por causa da pandemia de covid, um dos mais famosos blocos de carnaval do Brasil não foi às ruas em 2021 e 2022. Mas este ano, ele retorna gigante e imponente, como sempre, para a felicidade dos pernambucanos. E como em edições anteriores, comprometido com a sustentabilidade.
Batizado este ano de “Galo Ancestral“, a escultura de 28 metros, reverencia através de suas cores e adereços o legado dos afrodescendentes para a cultura brasileira. A homenagem aos pretos e pardos ressalta como eles foram essenciais para o surgimento da tradição carnavalesca e do próprio frevo.
“O frevo e o maracatu são muito mais do que expressões culturais ou festa. São afirmações de luta, história, resistência e identidade, com a marca da paixão pela arte, a dança, a música, além de reconhecimento à ancestralidade. Assim nos encontramos com o Galo Ancestral”, diz Ricardo Mello, secretário de Cultura do Recife.
Este ano a prefeitura da capital também aproveita o carnaval para deslanchar a campanha Xô Preconceito, para combater todo tipo de discriminação, em especial o racismo. O tapume da base galeria tem a propaganda e traz ainda um QR Code para denúncias na plataforma online “Recife Sem Racismo”.
O asfalto da Ponte Duarte Coelho, em frente ao Galo Ancestral, está pintado com a mensagem
“Recife Sem Racismo”
(Foto: Uenni/ PCR/Fotos Públicas)
Um galo sustentável e reciclável
O artista plástico Leopoldo Nóbrega e arquiteta e designer Germana Xavier assinam o projeto do Galo Ancestral. Para a sua produção foram utilizados 7 toneladas de insumos e 90% deles são de resíduos recicláveis.
Entre os materiais usados para decorar a escultura do galo, cds e dvds descartados e sobras de tecidos, coletados em Caruaru, Toritama e Santa Cruz do Capibaribe, cidades do polo de confecções do Agreste de Pernambuco.
Segundo Nóbrega, a ponta das asas do Galo em dourado é uma referência a Oxum, divindade das águas, assim com uma gargantilha preta ao redor do pescoço. Já a cauda nas cores do arco-íris lembram que o carnaval também é diversidade. E manto da alegoria ganhou os tons da bandeira do estado, além de tonalidades que remetem ao movimento afro punk, como no rosto, que ganhou pinturas africanas em branco, cuja crista terá dreadlocks com fitas coloridas.
O trabalho de costura e a co-criação do galo têm ainda a parceria de mulheres artesãs de comunidades periféricas, como Bomba do Hemetério, Morro da Conceição, Santo Amaro e Ponto de Parada. É pelas mãos delas que a indumentária do Gigante da Ponte ganha vida.
“Em reconhecimento à história e toda riqueza do legado afrodescendente para a formação multiétnica nacional, evocamos a nossa ancestralidade africana e brindamos um novo tempo colorido, de paz, igualdade, inclusão e valorização das diferenças como potência cultural e estímulo ao fortalecimento das identidades através do empoderamento social, das narrativas humanistas e práticas sustentáveis presentes na escultura gigante do Galo da Madrugada”, afirma o designer.
Alegoria tem 28 metros de altura
(Foto: Weslley D’Almeida – PCR Imagem/Fotos Públicas)
Este ano o tema do desfile do Galo da Madrugada é “Viva a vida, viva o frevo, viva Enéas”.
Um dos co-fundadores do bloco e ex-presidente, Enéas Freire completado 100 anos de vida em 2021.
O Clube das Máscaras o Galo da Madrugada foi fundado em 1978. E em 1994, ganhou o título de Guinness World Records de o maior bloco de carnaval do mundo. Cerca de 1,5 milhão de pessoas acompanham o desfile, que sempre acontece no sábado, na Ponte Duarte Coelho.
Este ano, “o maior espetáculo da Terra”, como os organizadores o chamam, começa às 9h da manhã.
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Foto de abertura: Diego Nigro – PCR Imagem/Fotos Públicas