Ricardo Salles, o antiministro do meio ambiente, tanto fez que conseguiu nos transformar num pária ambiental e climático!
Em governos anteriores ao de Michel Temer, o Brasil manteve-se como protagonista nas discussões sobre mudanças climáticas e biodiversidade. Com Bolsonaro, como vimos noticiando desde sua posse, nossa imagem só piorou e, hoje, o país é ignorado e criticado nos dois temas.
Esta semana, tivemos mais uma prova da incompetência do governo e de sua recusa em compreender o desafio que a humanidade enfrenta com os efeitos do aquecimento global.
O país ficou de fora da lista de países que participarão da Cúpula Climática – ou Cúpula da Ambição Climática 2020, promovida pela ONU (Organização das Nações Unidas), amanhã e domingo, como preparação para a Conferência do Clima de 2021 (COP26), que deve acontecer no Reino Unido. A cúpula tem uma característica especial: celebra os cinco anos do Acordo de Paris.
Devido à pandemia da covid-19, o encontro será virtual e reunirá 80 países mais a União Europeia. Foram convidadas as nações que apresentaram metas ambiciosas e demonstraram que as estão cumprindo. O Brasil está longe disso. O negacionismo tem pautado suas decisões, então, o cenário não poderia ser diferente.
O país não foi convidado porque os organizadores do encontro consideraram insuficientes as metas de redução das emissões de gases de efeito estufa divulgadas esta semana por Salles.
Insuficiente e imoral
O antiministro apresentou a nova NDC – Contribuição Nacionalmente Determinada do país ao Acordo de Paris (firmado por mais de 190 países, na Conferência Climática de 2015, para limitar o aquecimento do planeta), que foi avaliada pelo Observatório do Clima (OC) – como noticiamos aqui – não só como insuficiente, mas imoral.
O estudo apresentado por Salles anuncia que o Brasil:
– vai reduzir “43% nas emissões do Brasil em 2030 em relação a 2005, tal como indicado pela então presidente Dilma Rousseff, em 2015″;
– e atingirá a “neutralidade em carbono em 2060, dez anos depois do anunciado pela maioria dos países do mundo, exceto a comunista China”.
Salles foi além: condicionou “a antecipação da meta de 2060 ao pagamento de US$ 10 bilhões de dólares por ano ao Brasil a partir do ano que vem”. Ou seja, chantageou os países ricos.
Veja a avaliação do OC:
“A redução de 43% nas emissões em 2030 não está em linha com nenhuma das metas do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a menos de 2°C ou a 1,5°C. Ela nos levaria a um mundo cerca de 3°C mais quente se todos os países tivessem a mesma ambição. Imoral porque, num momento em que dezenas de países começam a aumentar significativamente a ambição de suas metas, em linha com novas recomendações da ciência, o Brasil oferece um esforço adicional de apenas 6%, que já estava proposto antes mesmo de o Acordo de Paris ser adotado. O mundo mudou, mas as metas do Brasil não”.
‘Implorando’ pelo convite
Segundo reportagem do jornal O Estado de São Paulo, o governo brasileiro está tentando participar da Cúpula do Clima. Tanto que acionou diversos interlocutores para convencer os promotores do evento a nos incluir no encontro. E ainda diz que busca uma forma diplomática de resolver a questão. Que vexame!
O jornal destaca que representantes do Planalto e do Itamaraty acreditam que será possível contornar a situação. Um deles disse – in off – que “o jogo ainda está em andamento” e que “a lista de participantes divulgada é preliminar e pode ser ampliada”.
Outro, mais próximo do presidente, acrescentou que “esta é mais uma medida ‘política’, tomada em função de mobilizações de ‘setores da esquerda’ contra o governo”. Mais uma teoria da conspiração.
Os argumentos do governo para tentar participar da reunião da ONU incluem “ações que estão sendo desenvolvidas na área ambiental”. Quais seriam, de fato, mesmo?
O negacionismo entranhado neste governo define tudo.
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil