A contagem regressiva começou. São semanas de muita apreensão, após mais de dois anos de longa espera e uma pandemia no meio, que atrasou o cronograma inicial. No próximo dia 11 de junho serão soltas oito ararinhas-azuis no interior do Refúgio de Vida Silvestre criado especificamente para elas, uma unidade de conservação projetada para as reintroduções, em Curaçá, na Bahia.
Essas ararinhas nasceram em cativeiro na Europa, parte de uma parceria entre o governo brasileiro e um criatório particular, a Association for the Conservation of Threatened Parrots (ACTP), na Alemanha. Elas chegaram na Bahia em março de 2020, num grupo de 52 indivíduos (leia mais aqui).
Ao longo desses últimos dois anos, as aves passaram por um processo de adaptação ao clima e a alimentação da Caatinga baiana. Mais recentemente, foram transferidas para um enorme recinto ao ar livre, mas ainda fechado (que aparece no vídeo abaixo), de onde acontecerá a soltura.
Nessa primeira soltura daqui a poucas semanas será realizado o que é chamado de “soft release”, com fornecimento de alimentação suplementar. Além disso, as ararinhas-azuis serão acompanhadas por um grupo de araras maracanã, que têm hábitos semelhantes e foram capturadas na vida selvagem. “O tamanho do grupo é um fator determinante para o sucesso de reintrodução em psitacídeos”, explica Camile Lugarini, coordenadora do Plano de Ação Nacional para a Conservação da Ararinha-azul.
A bióloga revela ainda que as aves receberão anilhas e microchips, com transmissores para fazer o monitoramento da adaptação delas à natureza. E uma segunda soltura deverá ser realizada ainda em 2022.
Atualmente há no refúgio de vida silvestre 13 casais reprodutivos, dois casais não reprodutivos, 20 ararinhas sendo preparadas para a soltura e três filhotes nascidos já aqui no Brasil, em 2021 (contei sobre o nascimento do primeiro deles nesta outra reportagem).
Enquanto isso, na sede da ACTP, na Alemanha, eram 157 ararinhas-azuis. Apenas no ano passado, nasceram lá 52 filhotes. “Aproximadamente 20 indivíduos deverão ser trazidos ao Brasil ainda este ano”, conta Camile.
Espécie endêmica do Brasil, ou seja, ela só existe (ou melhor, existia) em nosso país e em nenhum outro lugar do mundo, a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) foi vítima do tráfico ilegal de aves e a cobiça de grandes colecionadores europeus. Fascinados pelo sua beleza e azul vibrante, eles não economizaram esforços (e muito dinheiro) para poder ter um exemplar da famosa arara brasileira.
Com isso, a ave acabou sendo extinta no país. O último indivíduo voando livre, na natureza, foi observado por volta do ano 2000.
Agora, todos estamos na torcida: que seja bem-sucedida a reintrodução e que as ararinhas-azuis voltem a colorir os céus da Caatinga baiana!
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Foto: reprodução Facebook ACTP/ICMBio