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Com ironia e inteligência, Barbie faz manifesto pelos direitos das mulheres, mas vira alvo de críticas

Com ironia e inteligência, Barbie faz manifesto pelos direitos das mulheres, mas vira alvo de críticas

Pra começar, é preciso deixar bem claro para aqueles que ainda não assistiram ao longa-metragem ou não leram nada sobre ele. Barbie, que acaba de ser lançado nos cinemas, definitivamente não é um filme infantil. Apesar da história girar em torno da boneca mais famosa do mundo, o tema central aqui não foi concebido para agradar a criançada.

Dito isso, vamos à razão deste texto. Assisti Barbie ontem. Já tinha lido várias reportagens a respeito do filme e estava curiosa sobre ele. Meu marido e meu filho adolescente me acompanharam.

Adoramos! Os três. Talvez eu bem mais do que eles. Como mulher, em meio a risadas, vi muitas das minhas frustrações e angústias representadas na tela.

Dirigido por uma mulher, a talentosa Gerta Gerwig, Barbie é co-produzido pela própria Mattel, fabricante da boneca, e também por Margot Robbie, que interpreta a personagem principal. Ken, que sofre uma reviravolta no meio da história, ganha vida com Ryan Gosling.

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Parece difícil imaginar que o enredo centrado na boneca criticada durante décadas por ser um estereótipo da beleza feminina conseguisse se tornar uma espécie de manifesto sobre os direitos das mulheres.

Todavia, foi assim que enxerguei o filme. Com dezenas de referências ao universo machista e muita ironia, ele é uma sátira sobre a sociedade que vivemos e a luta das mulheres em ocupar mais espaços e serem respeitadas. Seja em que área elas escolherem atuar. Inclusive, se decidirem ser “apenas” mães.

A mea culpa da Mattel

Criada em 1959, durante anos a boneca Barbie foi duramente criticada. E a Mattel. Para muitos, ela fortalecia e disseminava o conceito da “beleza estereótipo”, vendida pela publicidade como a da “perfeição”: mulheres loiras, magérrimas, de seios grandes e cintura finíssima. Apesar de ser o sonho de consumo de milhões de meninas ao redor do mundo, ela simplesmente não refletia a realidade, nem a diversidade das pessoas.

Foi somente quase uma década depois de seu lançamento, em 1968, que a Mattel colocou no mercado a primeira Barbie negra, Christie, por exemplo.

Nos últimos anos, entretanto, a marca se deu conta de seu papel social e mudou seu marketing, retratando as diferenças e a pluralidade das mulheres.

Hoje existem personagens da coleção Mulheres Inspiradoras, que incluem, entre outras, a artista e ativista mexicana Frida Kahlo; a primeira aviadora a atravessar o Oceano Atlântico, a americana Amelia Earhart; e a física, cientista espacial e matemática da Nasa, Katherine Johnson.

Há ainda bonecas cadeirantes e com prótese na perna; uma série completa com mais opções de modelos negros, com aparelho auditivo, corpos menos marombados e até, uma namorada da Barbie (leia mais aqui).

No filme, a Mattel ganha espaço para fazer sua mea culpa. Com tiradas engraçadas, a empresa reconhece que fez várias escolhas erradas ao longo do tempo e admite que ainda há machismo dentro da companhia.

Margot Robbie, como Barbie: no mundo real a personagem descobre que deixou de ser
um modelo para a geração atual
(Foto: divulgação Warner Bros. Pictures)

Barbie: fundo ideológico e político?!

Hoje pela manhã, ainda encantada com o filme, decidi recomendá-lo para amigos e familiares. Foi então que descobri que no Brasil há grupos criticando o “fundo ideológico e político” de Barbie.

Nos Estados Unidos, também houve aqueles que numa teoria pra lá de estapafúrdia denunciaram, entre outras coisas, que um mapa que aparece de relance seria uma “propaganda subliminar da China”. Melhor nem perder tempo comentando essa bobagem.

Agora, fundo ideológico e político?!

Mas pensei bem, e acho que realmente pode ser verdade. Afinal, defender a maior presença feminina na sociedade é uma bandeira, sem dúvida nenhuma! Fala contra o machismo e os homens dominarem e subjugarem o trabalho feminino. Algo que talvez, por mais inacreditável que pareça ser, ainda incomoda muita gente. Principalmente aqueles que defendem o “patriarcalismo”, como Ken adora repetir o tempo todo depois de descobrir que a vida real nem tudo não é tão cor de rosa…

Em Barbieland, o mundo fictício onde todas as Barbies vivem felizes e sem preocupações, são elas que dão as cartas. Os homens são meros coadjuvantes. Nada mais distante da nossa realidade, com a qual a personagem da Margot Robbie será brutalmente apresentada.

Se Barbie tem um fundo ideológico para chamar a atenção sobre essa questão, ótimo então! E o filme faz isso com maestria e leveza.

Foto de abertura: divulgação Warner Bros. Pictures

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