
Poucos pássaros do mundo têm uma plumagem tão colorida e esplendorosa como as aves-do-paraíso. Essas 45 espécies da família Paradisaeidae são encontradas em áreas da Indonésia, Papua Nova Guiné e Austrália. Sua beleza estonteante gerou lendas contadas pelos povos nativos daquelas regiões que acreditavam que essas “aves nasciam no paraíso, planavam apenas usando suas penas, alimentavam-se do orvalho das nuvens e do néctar vindo da luz do sol”. Quando morriam, elas viriam para a terra, como anjos caídos, mas continuariam vivas junto aos deuses no paraíso. E é daí que vem esse nome popular.
Séculos após essas aves encantarem os primeiros europeus que desembarcaram naquele lado do mundo, cientistas acabam de revelar que elas são biofluorescentes.
“Os rituais de acasalamento e exibições únicas das aves-do-paraíso fascinaram os cientistas e estimularam uma miríade de estudos focados na evolução de características e seleção sexual”, diz Rene Martin, professora assistente na Universidade de Nebraska-Lincoln (EUA). “Parece apropriado que esses pássaros brilhantes estejam provavelmente sinalizando uns aos outros de maneiras chamativas.”
O fenômeno da biofluorescência ocorre quando um organismo absorve luz, a transforma e a emite em uma cor diferente. A suspeita é que esse mecanismo sirva para os machos determinarem níveis de hierarquia e se exibirem durante a época de reprodução.
O estudo, conduzido durante o pós-doutorado de Rene, no American Museum of Natural History, de Nova York, analisou diversos espécimes de aves-do-paraíso pertencentes a coleções de museus. Usando uma técnica especial de fotografia, com luzes ultravioleta e azul e filtros de emissão, a pesquisadora conseguiu detectar a biofluorescência em 37 espécies dessas aves.
“Apesar de existirem mais de 10 mil espécies de aves descritas, com vários estudos que documentaram sua plumagem brilhante, elaboradas exibições de acasalamento e excelente visão, surpreendentemente muito pouco foi investigado sobre a presença de biofluorescência”, afirma John Sparks, curador do museu e co-autor do artigo científico, publicado na quarta-feira (12/02).

mostrando o topo da ave (à esquerda) e sua plumagem (à direita)
Foto: Rene Martins
De acordo com os pesquisadores, a biofluorescência nas aves-do-paraíso é especialmente proeminente em machos, sobretudo na plumagem, mas também na parte interna da boca e do bico, pés e penas na cabeça, pescoço e barriga. Nas fêmeas, o fenômeno geralmente se restringe à plumagem do peito e da barriga.
“Essas aves vivem perto do Equador, onde há abundância de luz solar brilhante o ano todo, e vivem em florestas onde a complexidade da luz é significativamente afetada por diferenças no dossel e onde os sinais biofluorescentes podem ser aprimorados”, destaca Emily Carr, outra autora do estudo.

Foto: JJ Harrison, CC BY-SA 4.0 via Wikimedia Commons
*Com informações divulgadas pelo American Museum of Natural History
——————–
Acompanhe o Conexão Planeta também pelo WhatsApp. Acesse este link, inscreva-se, ative o sininho e receba as novidades direto no celular
Leia também:
Quando chega o crepúsculo, sapos usam a biofluorescência para se comunicar
Cogumelo brilhante é descoberto por artistas em floresta da Suíça
Pesquisadores descobrem lagartixa fluorescente que vive no deserto da Namíbia
Foto de abertura: David Cook/Creative Commons/Flickr (ave) e Rene Martins (biofluorescência)