
Nas últimas décadas o governo da Flórida tem lutado contra um inimigo gigantesco. Literalmente. Nativa de países do sudeste asiático, como Índia, Nepal, Tailândia e Vietnã, a píton birmanesa (Python molurus bivittatus), uma das maiores cobras do mundo, que pode atingir cerca de 6 metros de comprimento e pesar 100 kg, se tornou uma espécie invasora no estado, mais especificamente, na região do Parque Nacional de Everglades, uma área de alta biodiversidade, onde a serpente não tem predadores naturais.
Embora a píton não seja venenosa, ela mata suas presas através da constrição – sufocando-as e quebrando seus ossos. Para isso, ela conta com mandíbulas flexíveis, já que o maxilar inferior não é fundido na frente. Além disso, biólogos explicam que sua pele é tão macia e elástica que elas conseguem ingerir presas seis vezes maiores do que outras espécies de cobras de tamanho semelhante. Com isso, desde que chegou a Everglades, a espécie já dizimou populações de raposas, linces, guaxinins e até crocodilos e veados, inteiros, como você confere no vídeo impressionante ao final deste texto.
O que pesquisadores da Universidade de Cincinnati descobriram mais recentemente é que a píton pode consumir animais ainda maiores do que se acreditava até agora, isso porque medições do tamanho da boca das três maiores cobras capturadas na Flórida revelaram que sua mandíbula pode atingir dimensões ainda mais surpreendentes.
Ao analisar a circunferência da boca das três pítons – de 4, 5 e 6 metros -, chegou-se à conclusão de que ele pode alcançar até 26 centímetros, em comparação ao máximo de 22, estimado anteriormente. “Isso não parece muito, apenas 18% maior”, diz Bruce Jayne, professor da universidade e principal autor do estudo. “Mas a área total da abertura aumentou em incríveis 40%. Com isso, as cobras maiores apresentaram uma circunferência de abertura de mais de 81 centímetros”, explica.
Para os pesquisadores, conhecer o tamanho das presas que essas cobras têm capacidade de ingerir pode facilitar a compreensão e a previsão do seu impacto ecológico.
“Observar um predador invasor engolir um veado de tamanho normal na sua frente é algo que você nunca vai esquecer”, afirma Ian Bartoszek, pesquisador da organização Conservancy of Southwest Florida e um dos co-autores do estudo. “O impacto que a píton birmanesa está tendo na vida selvagem nativa e no ecossistema do Greater Everglades não pode ser negado.”

Foto: Ian Bartoszek/Conservancy of Southwest Florida
Caça à píton birmanesa
Quando eclode, uma píton birmanesa tem aproximadamente 60 centímetros e pesa pouco mais de 100 gramas. Contudo, biólogos destacam que essas serpentes crescem rapidamente e com um ano costumam dobrar seu tamanho.
“Pítons grandes com mais de 4,8 metros são muito raras. Das mais de 9 mil capturadas na Flórida, menos de 1% eram desse tamanho extremo”, esclarece Jayne. Entretanto, ele acredita que podem existir indivíduos com essas proporções descomunais no estado. “É quase certo que ainda não capturamos a maior píton birmanesa na Flórida.”
Não se sabe ao certo como as pítons chegaram ao Parque Nacional de Everglades. A principal suspeita – e a mais provável -, é que elas tenham sido soltas ali por colecionadores ou pessoas que as tinham como bichos de estimação e desistiram de criá-las, descartando-as de maneira completamente irresponsável na região.
Uma vez introduzidas no parque, elas se proliferaram sem controle. Quando atingem a maturidade sexual, por volta dos cinco anos, as fêmeas chegam a colocar até 100 ovos por ano.

Foto: Ian Bartoszek/Conservancy
Desde 2013, o governo da Flórida realiza um programa para a captura das pítons, através da contratação de profissionais especializados, e também, com uma temporada anual de caça, o Florida Python Challenge. conforme escrevi nesta outra reportagem. Durante dez dias do mês de agosto, caçadores pré-cadastrados e obrigados a participar de um curso de reconhecimento da espécie e técnicas de abate, participam do desafio.
A competição, que conta com o apoio de diversas outras entidades, como a Comissão para a Conservação da Pesca e da Vida Selvagem da Flórida (FWC, na sigla em inglês), oferece quatro grandes premiações: US$ 2,5 mil para o time ou pessoa que matar o maior número de cobras, US$ 1,5 mil para o segundo lugar e US$ 1 mil para o caçador que abater a maior píton. Já o prêmio principal, de US$ 10 mil vai para quem bater o número máximo de todas as categorias.
Nos últimos onze anos, só a Conservancy of Southwest Florida já capturou 770 pítons birmanesas no sul do estado.
Abaixo o vídeo da cobra que comeu um veado inteiro:
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*Com informações e entrevistas contidas no texto de divulgação da Universidade de Cincinnati
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Traficada para o Brasil, cobra píton albina apreendida em casa em Goiás era usada como atração em festas
Foto de abertura: Bruce Jayne