Dunkerque não é o primeiro centro urbano da Europa a oferecer transporte público gratuito para seus moradores, mas é o segundo maior do continente a ter se comprometido com a iniciativa.
Desde o mês passado, os 200 mil habitantes da cidade da costa noroeste da França – e turistas – podem pegar qualquer um dos ônibus que circulam por suas ruas sem pagar nada.
A medida faz parte das propostas de governo do prefeito Patrice Vergriete, que colocou na balança o peso sobre o orçamento municipal de bancar o custo do transporte público contra os benefícios sociais gerados pela ação. Um mês após o começo do projeto piloto, garante que tomou a decisão certa.
Desde 2015, como teste, os ônibus já funcionavam sem cobrança nos finais de semana e feriados. Mas foi só a partir de setembro de 2018, que se tornaram “gratuit” todos os dias. Todavia, não foi só isso. A prefeitura também aumentou a frota, de 100 para 140 veículos, com modelos mais modernos e coloridos, alguns inclusive, com Wi-Fi público, e expandiu as vias exclusivas para ônibus.
Muitos moradores afirmaram que a medida os estimulou a deixar o carro em casa. Pesquisa revela que houve 50% de aumento de passageiros em algumas rotas e 85% em outras.
Jovem francês embarcando em ônibus gratuito
Por trás do projeto do prefeito Vergriete, não está apenas a meta de melhorar a mobilidade e diminuir a poluição de Dunkerque, mas também, aumentar o poder aquisitivo de seus cidadãos, ao deixar de gastar parte do orçamento com transporte público, e ainda, atrair novos moradores para a cidade portuária francesa, que ficou famosa no ano passado, depois de virar título do filme Dunkirk sobre a Segunda Guerra Mundial e conquistar vários Oscars.
Uma análise sobre o projeto implementado na cidade francesa foi feita por Henri Briche e Maxime Huré, especialistas que estudam a questão da política de transporte público na Europa e no mundo.
Mas como Dunkerque está conseguindo absorver o custo adicional dos ônibus gratuitos? Não é a prefeitura que ficou com a conta mais alta, mas empresas e repartições públicas com mais de 11 funcionários, que já pagavam uma taxa para ajudar nesse custeio. Dividindo a sobrecarga com a iniciativa privada, foi possível não aumentar os impostos sobre a população.
Em 2013, Tallinn, na Estônia, com 440 mil habitantes, foi a primeira cidade europeia a oferecer transporte público grátis, depois do plano ser aprovado em um referendo. Lá, os usuários precisam se registrar com a prefeitura e pagar uma taxa de apenas 2 euros por ano, que dá direito a utilizar ônibus, trolleys e trams (bondes) sem nenhum custo extra. A medida fez com que 25 mil novos residentes fossem registrados pela prefeitura e com isso, conseguisse aumentar a arrecadação de impostos e cobrir o dinheiro adicional gasto (leia mais sobre o caso da Estônia aqui).
Certamente, não é toda cidade do mundo que conseguiria viabilizar uma inovação como esta, mas os exemplos de Tallinn e Dunkerque mostram que há uma noção pré-concebida que tais novidades são dadas ao fracasso, entretanto, em alguns casos, elas se mostram mais do que viáveis.
*Com informação do Metro Politics Europe
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Fotos: divulgação prefeitura de Dunkerque – Facebook