Quem sabe se o sonho daquela casa de campo, num amplo terreno, não pode dar lugar a um novo conceito, mais barato, funcional e ambientalmente correto? Uma empresa paranaense desenvolveu modelos de casas móveis, inspiradas nas tiny houses americanas. São espaços compactos, com cerca de 39 m2, que reúnem quarto, sala, cozinha e banheiro em módulos únicos. E se engana quem pensa que não há lugar de sobra para conforto.
O modelo de construção idealizado pela Tiny Teke tem ganhado força em algumas regiões turísticas do Paraná, como no Distrito de São Luiz do Purunã, famoso pelo turismo e pela paisagem única, que reúne remanescentes de campos naturais, escarpas rochosas e áreas preservadas de floresta. O local, que já abrigava algumas pousadas e condomínios de luxo, foi o primeiro a receber um núcleo das pequenas casas nômades.
Já são nove delas instaladas em uma área de campo, de forma harmoniosa com a paisagem. A experiência acaba de completar dois anos desde a instalação da casa-piloto e é considerada um sucesso pelos empreendedores e pelos proprietários das unidades.
O prazo de instalação de cada unidade é de 60 dias. Após isso, a casa já está pronta para ser usada ou explorada com turismo. Com as locações, é possível ter o retorno do investimento em até 5 anos. Este foi apenas um dos motivos que levaram a designer de interiores, Katia Amaral, a investir na compra de duas unidades no Purunã.
“Toda a experiência foi muito boa, as casas são simples e extremamente aconchegantes. Tê-las no lugar que a gente quer é fantástico. Ver cada uma chegando pronta e sendo colocada é incrível. Ela é mais bonita e muito mais charmosa do que um contêiner. Dormir em um lugar desses, super confortável, no meio da mata ou num campo é extremamente satisfatório”, comenta Katia, que já fechou negócio para colocar mais duas casas em um terreno que acabou de adquirir em Piraquara, na região metropolitana de Curitiba.
Casas em São Luiz do Purunã: há uma preocupação com a integração ao meio ambiente
(Foto: divulgação/Raphael Sobania)
A ideia das casas nômades surgiu quando o biólogo e consultor de sustentabilidade Tom Grando fazia uma viagem de veleiro pelo Oceano Atlântico. Foram dois meses em alto mar, vivendo com grande limitação de espaço, água potável e energia. “Foi ali que percebi que é possível viver com pouco, mas com muita qualidade de vida”, afirma ele.
A proposta foi apresentada para o amigo e arquiteto Fábio Frari, que já desenvolvia diversos projetos com pegada sustentável e possuía uma empresa de stands para feiras e eventos. O sonho saiu do papel, em 2020, durante o período de pandemia de Covid-19, quando a fábrica de Fábio foi obrigada a suspender as atividades por tempo indeterminado, tornando incerto também o futuro de quase uma centena de funcionários.
Naquele momento os amigos decidiram fundar a Tiny Teke – Casas Nômades. “Famílias inteiras e profissionais das mais diversas áreas buscavam refúgios seguros para viver e trabalhar. A busca pela natureza nunca havia sido tão intensa”, relembra Fábio. “A experiência começou com a reforma de um baú de caminhão que estava sem uso na fábrica e que foi totalmente adaptado para se tornar a primeira tiny house, que hoje está em uso em Garopaba, Santa Catarina”, completa.
Decoração da casa da designer Katia Amaral
(Foto: arquivo pessoal)
Menos resíduos e matéria-prima sustentável
Entre as principais dificuldades enfrentadas para o desenvolvimento das casas estava o processo de impermeabilização, uma vez que são casas que ficam diretamente expostas a frio, calor, vento e chuva.
“Testamos materiais primando sempre pelo reaproveitamento do que já tínhamos e pela utilização de madeiras de reflorestamento. Foram muitos desafios técnicos enfrentados, pois a minha equipe, até então, trabalhava com construções temporárias como os stands de feiras. No caso das tinys, são equipamentos que precisam durar com padrões de uma residência, com instalação elétrica, hidráulica e conforto térmico”, comenta Fábio.
Quanto à escolha dos locais para receber as casas, a prioridade dos sócios sempre foi não perturbar a paisagem e aproveitá-la da melhor maneira possível, com o mínimo impacto. Como não se trata de uma construção convencional, não demanda licenciamento ambiental próprio. Toda a parte construtiva e de matéria-prima é 100% nacional.
“90% da construção é feita dentro da fábrica e a colocação dura em média 6 horas. A casa é posta sobre alicerces instalados previamente no local. São seis meses de obra trocados por 6 horas de instalação”, explica Tom.
Painéis solares garantem a autossuficiência energética das unidades
(Fotos: divulgação/Raphael Sobania)
Os empresários reforçam outras vantagens sobre as construções convencionais. “Há economia de matéria-prima, uma vez que não existe desperdício, não há necessidade de acompanhamento nem existe retrabalho, como ocorre nas obras. O metro quadrado é tão ou mais barato do que uma construção convencional, com um detalhe: qualquer tipo de problema construtivo, estético ou de funcionalidade é detectado na fábrica, antes da instalação”, garantem os sócios.
Não há necessidade de impermeabilização do terreno nem de montagem de canteiro de obras, o que deixa de gerar um impacto ambiental significativo na área. As casas são equipadas com biodigestores – tecnologia para tratamento dos resíduos da cozinha e do banheiro – e são autossuficientes em energia, pois possuem células fotovoltaicas.
“Há também a vantagem da flexibilização do uso do imóvel, pelo fato de não se comprometer o terreno com uma obra convencional feita de concreto. A qualquer momento a tiny house pode ser levada para outro local”, diz Tom.
Móveis, as casas têm um chassi de aço e podem ser retiradas a qualquer momento
(Fotos: divulgação/Raphael Sobania)
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Fotos: divulgação/Raphael Sobania
Bela matéria sobre viver confortável com sustentabilidade ambiental