Nos últimos dias, os primeiros dos encontros da Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (COP21), em Paris, muito se falou sobre os discursos das mais importantes economias do mundo: Estados Unidos, China, Inglaterra, França.
Mas desviando o olhar dos chamados “grandes”, vem justamente de um país pequeno, muito pequeno, um exemplo a ser levado em conta por todos. Tanto é, que esta história ganhou destaque em algumas das principais publicações internacionais, como o jornal britânico The Guardian.
Estou falando de um ensinamento que vem de longe, mais especificamente do sul da Ásia, na fronteira entre China e Índia, próximo às montanhas do Himalaia: de uma das menores monarquias do mundo, a do Reino do Butão. Sua população de cerca de 745 mil pessoas é majoritariamente budista. Vive principalmente da agricultura, do trabalho com a terra. A energia é gerada através de hidrelétricas e o excedente da produção é exportado para a vizinha Índia. O turismo local é restrito, paga-se uma taxa diária altíssima para visitar o país, com o intuito de preservar o meio ambiente.
Mas o governo, que cometeu muitos erros no passado, repensa – e planeja – seu futuro constantemente.
Na constituição do Butão, ratificada em 2008, entre os cinco primeiros artigos aparecem temas como cultura, herança espiritual e meio ambiente. De maneira clara, o governo se responsabiliza por proteger e preservar florestas e a biodiversidade do reino. Já no século passado, na década de 70, o Butão refutou o uso do indicador econômico global PIB – Produto Interno Bruto – que analisa as riquezas econômicas do país para avaliar seu desenvolvimento e progresso. Começou a utilizar então o conceito de Felicidade Interna Bruta (FIB) para analisar o bem-estar da população.
Mais recentemente, em junho deste ano, os butaneses entraram para o livro Guinness de Recordes ao plantar 50 mil mudas de árvores em apenas 60 minutos. Cerca de 75% do território do Butão é coberto por florestas. E está neste fato, exatamente, o exemplo deste pequeno reinado para a COP21.
Atualmente, o país absorve mais CO2 (dióxido de carbono, principal gás responsável pelas mudanças climáticas) do que o volume emitido por todos seus cidadãos. Suas florestas têm capacidade de absorver 6,3 milhões de toneladas de gases de efeito estufa, enquanto a população emite algo em torno de 1,6 milhão de toneladas de CO2 por ano. Para efeito de comparação, o Grão-Ducado de Luxemburgo (outra pequena monarquia localizada na Europa) libera mais de 10 milhões de CO2 na atmosfera a cada ano: seis vezes mais que a nação asiática.
Em carta à ONU, com suas Contribuições Voluntárias Nacionais (INDCs, na sigla em inglês), metas de redução de carbono apresentadas pelos países membros da organização, o governo butanês se comprometeu a continuar sendo carbono neutro e ainda adotar uma série de estratégias rígidas para diminuir suas atuais emissões. Entre elas estão a melhoria do sistema de transporte público (incluíndo aí o estimulo ao uso de veículos elétricos e híbridos), aplicação do conceito de lixo zero e gestão sustentável de resíduos, promoção das energias renováveis, práticas mais susutentáveis no setor agropecuário e desenvolvimento de tecnologias limpas para as indústrias.
Para os negociadores da COP21, fica então a dica. Que tal olhar além do próprio umbigo e enxergar adiante do horizonte, talvez nos exemplos deste pequeno paraíso sustentável?
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Foto: divulgação Buthan Foundation