No ano passado, pela primeira vez no Brasil, houve o registro de mais de 200 mil notificações de acidentes com escorpião – foram 20.243 a mais que em 2022, segundo dados do Ministério da Saúde, e 250% a mais do que uma década antes. E o número de mortes também aumentou, passando de 92 para 152.
O alerta sobre a ampliação da área de distribuição desses aracnídeos não é de hoje. Em 2016, pesquisadores do Instituto Butantan já demonstravam preocupação com o crescimento de casos. E na época, eles nem chegavam a 100 mil por ano, totalizando pouco mais de 74 mil.
Para especialistas, a alta em picadas e mortes causadas por escorpiões é resultado da expansão urbana sobre áreas antes ocupadas por matas, do acúmulo de lixo e entulho que atraem insetos que servem de alimento, e da capacidade desses animais de se adaptarem a ambientes variados, de florestas úmidas até desertos.
E não é só. As mudanças climáticas também fazem parte do conjunto de fatores que estão contribuindo para o aumento da população desses animais. Com a elevação das temperaturas, eles se tornam mais ativos, comendo e se reproduzindo mais.
Segundo o Instituto Butantan, das espécies de escorpião encontradas no Brasil, quatro geram maior preocupação. Dentre elas, a mais comum e observada em todas as regiões do país é o escorpião-amarelo (Tityus serrulatus) – na imagem que abre este texto -, de longe o que oferece mais riscos também, já que é considerado o mais perigoso da América do Sul.
As demais espécies são o escorpião-preto-da-Amazônia (Tityus obscurus), que ocorre na região Norte e no estado do Mato Grosso; o escorpião-amarelo-do-Nordeste (Tityus stigmurus), que também tem aparecido nos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Tocantins e o escorpião-marrom (Tityus bahiensis), frequente nas regiões do Centro-Oeste, Sudeste e Sul.
Em geral, o veneno do escorpião age sobre o sistema nervoso, causando dor intensa e dormência muscular no local da picada. Podem ser observados ainda vômitos, taquicardia, hipertensão arterial, sudorese intensa, agitação e sonolência. Mas em alguns casos, ainda mais quando a busca por atendimento demora a ser feita, sobretudo passando de 24 horas, o quadro pode se tornar mais grave e resultar em morte.
Maior produtor de soros antiveneno do país, o Butantan, alerta que, em caso de acidente com um animal peçonhento, deve-se procurar com rapidez o serviço médico mais próximo. “Mantenha a calma: não faça torniquetes, não corte e não tente “sugar” o veneno, nem aplique nenhum produto sobre a ferida, pois essas práticas podem piorar o quadro”, são as principais recomendações.
Um estudo publicado em maio deste ano alertou também que cobras peçonhentas devem migrar para novas áreas com aumento da temperatura global.
De acordo com a pesquisa, que tem como autor principal o professor do Departamento de Biologia da Universidade Federal de Sergipe, Pablo Martinez, prevê-se que as mudanças climáticas possam ter impactos profundos na distribuição de espécies de algumas das serpentes mais perigosas do mundo, incluindo reduções na biodiversidade e alterações nos padrões de envenenamento de seres humanos e animais domésticos.
*Com informações da Agência Brasil e AFP
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Foto de abertura: José Roberto Peruca/Creative Commons/Flickr