Desde criança Sascha Fonseca era fascinado pela vida selvagem. Já na infância, vivendo ao norte da Alemanha, seu contato com a natureza foi se intensificando. Mas foi apenas em 2013, durante uma viagem a Ruanda, na África, que ele começou a fotografar profissionalmente. “Desde então já fui a alguns dos lugares mais remotos do mundo para registrar a vida selvagem. Escalei o Himalaia na busca pelo leopardo-das-neves e pelo tigre-de-Amur nas florestas geladas do leste da Rússia”, conta ele.
E foi exatamente com o flagrante espetacular de um leopardo-das-neves que Fonseca conquistou o primeiro lugar do concurso Wildlife Photographer of the Year pelo voto popular.
A competição, promovida pelo Museu de História Natural de Londres, é considerada um “Oscar” da fotografia de natureza. O vencedor principal e os das demais categorias em 2022 foram anunciados em outubro (leia mais aqui).
Em seguida, o concurso divulgou as imagens que concorreriam à votação popular. No total, foram 39 mil inscrições, de fotógrafos de 93 países, que participaram dessa edição.
O registro do leopardo-das-neves conquistou a maioria dos votos dos mais de 60 mil internautas, número recorde até então.
“Estou incrivelmente orgulhoso de ser o vencedor do People’s Choice Award deste ano e agradeço a todos os apoiadores ao redor do mundo por fazer isso acontecer. A fotografia pode conectar as pessoas à vida selvagem e incentivá-las a apreciar a beleza do mundo natural invisível. Acredito que uma maior compreensão da vida selvagem leva a um cuidado mais profundo que, esperançosamente, resulta em apoio ativo e maior interesse público pela conservação”, afirmou Fonseca.
Não foi nada fácil conseguir o flagrante. Foi um projeto de mais de três anos. O profissional costuma trabalhar com armadilhas fotográficas para conseguir capturar imagens mais próximas dos animais. A câmera foi colocada na montanha de Ladakh, ao norte da Índia, na Cordilheira do Himalaia.
E pra chegar no alto da montanha o desafio é enorme, ainda mais carregando equipamento pesado e caminhando num terreno irregular, numa altitude onde há pouco oxigênio e temperaturas baixíssimas, assim como tempestades de neve. Nessa empreitada, Fonseca contou com a ajuda de guardas florestais e pesquisadores locais.
“Metade do sucesso se deve à boa preparação e os outros 50% sorte. Fotografar um leopardo-das-neves no seu habitat natural já é especial. Conseguir um close na neve é muito especial. E um ‘close up’ de um leopardo desses na neve, ao pôr do sol, em frente a uma paisagem montanhosa de tirar o fôlego é provavelmente o máximo”, diz o fotógrafo premiado.
No idioma local, os leopardos-das-neves são conhecidos como “Fantasmas das Montanhas” por causa de sua capacidade de se camuflar com o ambiente. “Sua incrível furtividade os torna provavelmente os grandes felinos mais difíceis de fotografar na natureza. E é esse mistério em torno do lindo leopardo-das-neves que sempre me fascinou”, confessa.
Originários das regiões central e sul da Ásia, no passado os leopardos-das-neves (Panthera uncia) eram observados em montanhas, em terrenos acidentados de penhascos, enseadas rochosas e ravinas de países como China, Butão, Nepal, Índia, Paquistão, Afeganistão, Rússia e Mongólia.
Infelizmente, esses felinos foram levados praticamente à extinção. Segundo a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), que avalia as condições de sobrevivência de milhares de espécies de animais e plantas no planeta, restam apenas entre 2.700 e 3.386 indivíduos da espécie na vida selvagem.
Em seu habitat natural, esse animal está bem preparado para enfrentar o frio intenso, que pode chegar a 20 graus negativos. Os leopardos-da-neve possuem um pelo grossíssimo, com mais de 10 centímetros de comprimento, e que cobre tudo, exceto o nariz. Sua cauda tem todo o comprimento do corpo e lhe confere equilíbrio e agilidade. Com sua patas traseiras conseguem pular de um penhasco para outro.
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Foto: Sascha Fonseca/divulgação Wildlife Photographer of the Year