A baleia cachalote (Physeter macrocephalus) é o maior mamífero com dentes do planeta. Os machos deste animal, da subordem Odontoceti, podem alcançar até 20 metros de comprimento e pesar 45 toneladas. Entre suas principais características está a enorme cabeça, que representa até 35% de seu corpo. O cérebro da cachalote é o maior em tamanho de um ser vivo.
Mas nem este gigante dos oceanos está protegido de uma das maiores pragas ambientais da civilização moderna: o plástico.
A equipe do Centro de Recuperación de Fauna Silvestre El Valle encontrou 29 quilos de plástico dentro do estômago de uma baleia cachalote encontrada morte na costa sudeste da Espanha. Durante a autópsia do animal, que media 10 metros, foi retirada uma quantidade enorme de sacolas plásticas, além de uma lata e diversos pedaços de redes de pesca.
Segundo os pesquisadores, a baleia morreu porque não conseguiu expelir todo esse lixo. Eles acreditam que o bloqueio do sistema digestivo provocou uma infecção no abdômen, responsável por sua morte.
Baleia morta pela ingestão de plástico
O governo da região da Murcia, onde a baleia foi achada, decidiu aproveitar a tragédia para lançar uma campanha de conscientização ambiental sobre o despejo de lixo nos oceanos. “A presença de plástico nos mares e oceanos é uma das maiores ameaças para a conservação da fauna silvestre no mundo, já que muitos animais ficam presos no lixo ou ingerem grandes quantidades de plástico, que acabam provocando sua morte”, alertou Consuelo Rosauro, diretora do Medio Natural.
Vida marinha em risco
Em fevereiro deste ano, mostramos aqui, neste outro post, que um estudo publicado na revista Trends in Ecology and Evolution já revelava o impacto da poluição provocada pelo descarte de plástico nos oceanos nos grandes animais marinhos. De acordo com o artigo, espécies que se alimentam através do sistema de filtragem, como tubarões-baleia e algumas arraias, estão sendo expostas a substâncias tóxicas ao engolirem micropartículas plásticas.
Animais aquáticos como estes possuem a capacidade de retirar o alimento da água, por isso, são considerados filtradores. O que tem acontecido é que, juntamente com suas presas naturais – crustáceos, krills, plânctons e outros peixes pequenos – eles têm ingerido o plástico.
São minúsculos pedaços do material, muitas vezes esferas menores do que a ponta de um alfinete, praticamente invisíveis a olho nu, com menos de 5mm.
Os pesquisadores alertam que a ingestão de plástico – não somente pedaços grandes, mas também nanopartículas – pode comprometer a absorção de nutrientes destes animais e provocar sérios danos ao sistema digestivo.
Além disso, os cientistas ressaltam que ainda há pouco conhecimento sobre como as toxinas liberadas pelos resíduos plásticos afetam a saúde de baleias, tubarões e arraias, e consequentemente, seu sistema hormonal e reprodutivo.
Entre 1970 e 2012, houve uma redução de 50% das espécies marinhas que habitam os oceanos do planeta.
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Fotos: Inf-Lite Teacher/Creative Commons/Flickr (abre) e Dirección General de Medio Natural. Consejería de Turismo, Cultura y Medio Ambiente (Región de Murcia, España)