
Ele ficou desaparecido por 132 anos. Ou melhor, sem ser avistado por cientistas. E não foi por falta de procura. O sapo-de-peito-espinhoso-de-malleco (Alsodes vittatus) foi descoberto e coletado em 1893 pelo entomologista francês Philibert Germain, na província de Malleco, na região da Araucanía, no Chile. Mas só foi alguns anos mais tarde, em 1902, que esse anfíbio foi oficialmente descrito para a ciência, pelo naturalista alemão Rudolph Philippi.
Essa pequena rã tem como principal característica uma linha amarela ou branca que percorre sua espinha e que lhe dá o nome (vittatus significa “portador de uma faixa ou listra”). Todavia, a dificuldade em encontrá-la durante tanto tempo se deu porque Rudolph a descreveu quando já tinha mais de 90 anos, e não deixou nem imagens e nem uma localização exata de onde ela tinha sido observada, na Fazenda San Ignacio de Pemehuena, que ocupava uma área enorme.
Entre 1995 e 2002, vários pesquisadores tentaram encontrar novamente o sapo-de-peito-espinhoso-de-malleco, mas sem êxito.

listra branca no meio das costas
Foto: Edvin Riveros
Mas há cerca de dez anos, o pesquisador Claudio Correa, professor do Laboratório de Sistemática e Conservação de Herpetozoários da Universidade Concepción, no Chile, estuda alguns desses anfíbios desaparecidos, especificamente os Alsodes, gênero nativo tanto do Chile como da Argentina. E foi ao ser procurado por outro acadêmico, Edvin Riveros-Riffo, que realizava sua tese de mestrado e havia encontrado uma população desses animais, que a busca finalmente foi bem-sucedida.
“O que fizemos foi procurar dados e informações sobre um lugar que não estava bem descrito, e nós os encontramos”, diz Correa. Segundo ele, até agora, há duas localidades onde a espécie foi documentada, em nascentes das bacias dos rios Lolco e Portales.
“Nas poucas horas que estivemos lá vimos que é uma população com muitos indivíduos. Temos que lembrar que esses animais são muito apegados à água e, acompanhando o curso do riacho, vimos muitos girinos e vários adultos”, acrescenta o pesquisador.
O cientista ressalta a importância da redescoberta porque desde a década de 80 há um declínio nos números de anfíbios no mundo todo. Correa alerta que a maioria das espécies do gênero Alsodes estão ameaçadas de extinção.
“A redescoberta dessa espécie nos permitiu obter, mais de um século após sua descrição, os primeiros dados biológicos e ecológicos sobre ela. Observações de campo também indicam que esse anfíbio enfrenta diversas ameaças significativas e que pode ser considerado ameaçado de extinção”, dizem os autores do artigo cientítico que relata o achado. “Em um contexto mais amplo, esta redescoberta demonstra o limitado conhecimento biológico, evolutivo e biogeográfico dos anfíbios que habitam o cone sul da América do Sul, enfatizando a urgência de seu estudo e conservação.”

Foto: Edvin Riveros
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Foto de abertura: Edvin Riveros (imagem da fêmea da espécie)