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Ativista presa no Irã, por lutar pelos direitos das mulheres, ganha o Nobel da Paz

Ativista presa no Irã, por lutar pelos direitos das mulheres, ganha o Nobel da Paz

“Mulheres. Vida. Liberdade”. Mais uma vez, o lema dos protestos que soaram pelas ruas do Irã no ano passado ganha o mundo. Foi com essas palavras, ditas em farsi – “Zan, Zindagi, Azadi“ -, que Berit Reiss-Andersen, presidente do Comitê do Nobel da Paz, anunciou que Narges Mohammadi tinha sido a escolhida para ganhar o título este ano.

“Narges Mohammadi é uma mulher, defensora dos direitos humanos e lutadora pela liberdade. A sua corajosa luta pela liberdade de expressão e pelo direito à independência acarretou enormes custos pessoais. Ao todo, o regime do Irã prendeu-a 13 vezes, condenou-a cinco vezes e sentenciou-a a um total de 31 anos de prisão e 154 chicotadas”, disse o comitê. “Ela é o símbolo do que significa ser um combatente pela liberdade no Irã”.

A ativista está presa atualmente, sem poder receber visitantes ou se comunicar. Ela foi uma das principais vozes no ano passado quando milhares de mulheres iranianas exigiram o fim da opressão e clamaram por liberdade. Inicialmente elas enfrentaram a polícia para protestar contra a morte da Mahsa Amini, de 22 anos, que apareceu morta em Teerã, após ser detida pela polícia da moralidade por não usar o lenço na cabeça para cobrir os cabelos, o hijab em público.

Mas as manifestações explodiram e tomaram uma proporção inimaginável.

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Mesmo que reprimidas com brutalidade pelo governo do Irã, elas continuaram a gritar. Em protesto, lenços foram queimados nas ruas e elas cortaram os cabelos. Centenas de mulheres foram mortas e milhares de outras pessoas foram presas durante as demonstrações, entre elas, Narges.

Entretanto, a ativista já tinha sido detida diversas outras vozes porque há décadas ela já lutava pelos direitos das iranianas e a abolição da pena de morte no país.

Na década de 90, quando ainda era uma estudante de Física, Narges começou a advogar pela igualdade de gênero. Depois de se formar, começou a escrever colunas em jornais sobre o tema, e em 2003 entrou para o Centro de Defensores dos Direitos Humanos do Irã, organização não governamental liderada por Shirin Ebadi, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz em 2003, e na qual era vice-diretora até 2022.

Em 2011 ela foi detida pela primeira vez, acusada de ajudar iranianos presos e suas famílias. Conseguiu ser liberada sob o pagamento de fiança. Nem por isso deixou de usar sua voz para lutar contra o uso de tortura e violência sexual contra presos políticos, especialmente, mulheres.

“Narges é uma defensora dos direitos humanos e uma pessoa que luta pela liberdade. Nós queremos apoiar sua luta corajosa e reconhecer milhares de pessoas que se manifestaram contra o regime teocrático de repressão e discriminação que tem como alvo as mulheres no Irã”, declarou Berit Reiss-Andersen, esta manhã durante o anúncio do Nobel da Paz, em Estocolmo, na Suécia.

Apesar das restrições na prisão, no mês passado a ativista conseguiu enviar um artigo ao jornal The New York Times com a mensagem: “Quantos mais de nós vocês prenderem, mais forte ficaremos”.

Ao saber da premiação, o marido de Narges afirmou que ela será ainda mais encorajada a lutar dela pelos direitos humanos. “Este é um prêmio para o movimento pelas mulheres, pela vida e pela liberdade”, ressaltou.

Narges Mohammadi é a 19ª mulher a ganhar o Nobel da Paz, nos 122 anos de existência do prêmio.

As indicações ao Nobel podem ser feitas por algumas pessoas específicas, membros de alguns órgãos e entidades, parlamentares, professores universitários, acadêmicos e ex-recebedores do título, mas a lista completa com o nome dos nomeados é sempre mantida em segredo por 50 anos. Sabe-se, todavia, que este ano eram 350 candidatos.

Leia também:
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Foto de abertura: reprodução Instagram Narges Mohammadi / Reihane Taravati

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