
Faz cinco meses que os moradores do Jardim América, em Belo Horizonte, tomaram conhecimento do destino sórdido de uma das últimas áreas verdes da cidade – classificada no Plano Diretor como Área de Preservação Ambiental -, localizada no Jardim América: 465 árvores estão marcadas para morrer e darão lugar a edifícios, ameaçadas pela especulação imobiliária e pela ganância.
O local abriga grande biodiversidade: além das árvores (algumas são centenárias), centenas de animais silvestres – entre eles o pássaro caneleiro, espécie de ave (avistada pela primeira vez na cidade) -, vivem ali.
Vale destacar que, nesta região, o nível de área verde por habitante não cumpre o mínimo recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que é de 12 m2/habitante. E que o desmatamento, apoiado pela prefeitura, vai de encontro às políticas públicas propagadas e acordos internacionais.
Apoio de personalidades e petição online
Na verdade, este oásis verde está ameaçado há 13 anos, quando moradores da região se uniram pelapreservação da mata. Depois de muita luta e um processo de ação civil pública, em 2019 a prefeitura fez um acordo com os interessados e autorizou que o licenciamento para a construção de duas a três edifícios no local prosseguisse.
Quando os moradores descobriram que o processo de licenciamento estava em andamento (hoje, autoriza a construção de quatro edifícios de 17 andares!), criaram o movimento SOS Mata do Jardim América, que tem o apoio de ambientalistas, artistas, advogados, arquitetos, urbanistas, radialistas, dramaturgos, parlamentares e moradores da região, além de associações e 60 coletivos.
O ator Matheus Solano, o músico Samuel Rosa, a cantora Fernanda Takai, a atriz, diretora e dramaturga Inês Peixoto, a Jornalista Fernanda Ribeiro, o mestre Maurício Tizumba e o diretor, produtor e roteirista de cinema Helvécio Ratton estão entre os apoiadores desta campanha (assista a algumas de suas declarações no final deste post).
O movimento também lançou um abaixo-assinado (petição online) que, até agora (2/6, às 11h58), angariou 39.958 assinaturas. E ainda protocolou, junto ao Ministério Público, manifesto que solicita a anulação do acordo e da licença concedidos pela prefeitura, e também para que haja participação da sociedade e a preservação da área, transformando-a em um parque ecológico.
Como é comum em sua trajetória política, a deputada federal e ambientalista Duda Salabert se uniu ao movimento e questionou o processo por meio de requerimentos protocolados junto à Comissão de Meio Ambiente, Defesa dos Animais e Política Urbana, da Câmara de Vereadores: um para a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e outro para a Promotoria de Justiça de Habitação e Urbanismo de Belo Horizonte.
Em janeiro, a deputada também entregou à Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança Climática, uma carta para solicitar seu apoio e oferecer propostas para a preservação de áreas verdes urbanas.
Na carta, o movimento alega que, “embora o município tente promover uma Política Climática – com a edição de normas legais, a instituição de um Comitê Municipal de Mudanças Climáticas e Ecoeficiência, a proposta de elaboração de inventários e mapeamento das emissões de gases de efeito estufa (GEE) no território e, até, a adesão a uma campanha para zerar emissões líquidas de GEE até 2050 – as ações da sociedade civil para que a cidade se estruture para enfrentar essas mudanças têm sido pouco reconhecidas pelas autoridades, em todos os âmbitos de governança”.
O texto ainda denuncia que as áreas verdes são constantemente ameaçadas pelo mercado imobiliário e defendem que somente o reconhecimento dessas áreas como de proteção ambiental “e o atendimento ao clamor popular seremos capazes de, nos médio e longo prazos, preparar o país e promover o enfrentamento das causas e consequências do desequilíbrio do meio ambiente natural e urbano pela sociedade”.
E completa: “Esses problemas não deveriam ser encarados como questões isoladas, mas como sinais de uma lógica perversa que tem dominado as políticas e a gestão das cidades”. Sim, não é ‘privilégio’ de Belo Horizonte”.
Por isso, é importante que todos os brasileiros adiram a todas as petições online que reivindicam a responsabilidade dos governantes sobre qualquer assunto, seja onde for.
Outro ponto destacado pelo movimento diz respeito à declaração da prefeitura de que será feita “compensação ambiental” das árvores derrubadas com o plantio de novas mudas em outras localidades (desconhecidas). No entanto, isso é uma falácia!
“Nem se fossem plantadas 15 mil mudas haveria compensação”, explica Antônio Lages, idealizador do Projeto Pomar BH. “Estas árvores são muito antigas, ajudam a filtrar a poluição, melhoram a qualidade e a temperatura do ar e ajudam na absorção das águas das chuvas”. No seu entender, no local deveria ser criado “um parque ecológico, uma área de convivência, educação ambiental e preservação”.
Assine a petição online e ajude a salvar a “floresta” do Jardim América, em Belo Horizonte!
A seguir, assista às declarações de Matheus Solano, Samuel Rosa e Fernanda Takai, que apoiam o movimento SOS Mata do Jardim América:
Fontes: Instagram SOS Mata Jardim América, Mídia Ninja, G1
Fotos: reprodução Instagram