Se um dia você visse Aristide Kouame, 26 anos, em alguma praia da Costa do Marfim recolhendo chinelos de dedo velhos – feitos de borracha ou plástico -, abandonados pelos banhistas na areia ou subtraídos deles pelas ondas do mar, certamente não imaginaria que o moço é artista.
Muito menos que ele, com ‘aquele lixo‘, produz colagens de impacto bastante valorizadas por especialistas e colecionadores de arte. Cada uma pode custar até mil dólares ou R$ 5.648. Parece que ele é catador de materiais recicláveis, o que não deixa de ser verdade também.
Não faz muito tempo que sua rotina tem sido assim: coletar chinelos nas praias (o que existe em abundância, infelizmente!) e se dedicar a corta-los em pedaços (ou triturá-los), que esculpe com letras e rostos (e outras formas) e com os quais faz colagens incríveis, em grande escala, num beco estreito, onde funciona seu “ateliê”.
Com restos que sobram desses cortes, Kouame produz tintas, e ele faz questão de dizer que sua técnica, além de barata, é “ecologicamente sustentável“.
“Faço arte com chinelos usados e abandonados… é uma forma de dar vida a objetos que poluem as praias. Este é o lixo que as pessoas jogam no mar e que o mar traz de volta porque não o quer”. Como o próprio artista destaca, o que não falta é material para trabalhar. Dá até pra escolher…
Há resíduos de plástico de todo tipo e de outros materiais, como a borracha dos chinelos tipo Havaianas – alguns são dessa marca, mesmo! -, que se espalham pela maioria das praias da África Ocidental. Uma parte desse lixo é descartado pelos habitantes nos canais de Abidjan, capital da Costa do Marfim, onde ele vive, e levado para o mar, chegando à costa com as marés.
Todos os anos, cerca de 13 milhões de toneladas de resíduos plásticos são despejados nos oceanos. A informação é da ONU, que também destaca que dois dos países que mais poluem, no continente africano – Gana e Nigéria – estão na mesma linha costeira atlântica que a praia onde Kouame coleta a matéria-prima de seu trabalho.
Com os resíduos que seleciona, o artista cria grandes retratos de políticos e líderes de movimentos sociais e de direitos humanos como Martin Luther King e Nelson Mandela, mas também obras abstratas e temáticas, que evocam dilemas da atualidade como a crise climática, a pandemia da covid-19 e a eterna desigualdade social e econômica. Todas são grandiosas e podem ser formadas por 140 miniretratos esculpidos por Kouame.
O encantamento dos especialistas pela obra original de Kaoume é recente e o colocou rapidamente em galerias pelo país e no exterior. As redes sociais garantem a popularidade do artista que também é um agente ambiental. “Meu objetivo é levar as pessoas a questionarem o seu ambiente, a fim de criar uma vida melhor”.
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Foto (destaque): montagem com fotos reproduzidas do Instagram do artista
Com informações de Público, G1