Atualizado em 24/8/2021 para incluir duas imagens que a artista publicou em suas redes sociais depois que publiquei este texto e revelam sensações importantes.
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Shamsia Hassani nasceu em Teerã, no Irã, em 1988, mas vive em Cabul, no Afeganistão, desde 2005. Ela conta que faz arte desde que tinha 3 ou 4 anos, como toda criança. A diferença de outras crianças é que continuou pintando e desenhando e levou seu talento para um dos países mais obtusos em relação à arte e às mulheres.
Em 2006, começou a estudar arte contemporânea na Universidade de Cabul e se desenvolveu nesse estilo. Três anos depois, já estava entre os dez melhores artistas do país e fundou, com amigos, a Berang Art Organization para promover a arte e a cultura contemporâneas por meio de programas, workshops, seminários e exposições. Logo começou a lecionar na mesma universidade, na cadeira de escultura.
Seu encontro com o grafite aconteceu no ano seguinte, quando participou de uma oficina com o grafiteiro CHU, do Reino Unido, que ajudou a organizar na cidade. Foi então que se tornou a primeira artista de rua e grafiteira do Afeganistão e encontrou o seu caminho: a arte urbana.
Foi com o grafite que ela popularizou a arte pelas ruas de Cabul, desenhando em paredes de edifícios destruídos por bombardeios nos quais procurou apagar as memórias da guerra da mente das pessoas.
Em seguida, voltou-se para as mulheres afegãs e passou a retratá-las naquela sociedade dominada pelos homens como figuras fortes e independentes, que expressavam poder, ambição e liberdade.
Durante uma década, Shamsia ofereceu “uma enorme onda de cor, de apreço e admiração” por todas as mulheres do Afeganistão. Seu trabalho foi apresentado em diversos países como Austrália, Dinamarca, Alemanha, Irã, Índia, Noruega, Canadá, Itália, Suíça e Vietnã, onde participou de conferências e workshops. E, assim, além de inspirar as pessoas de cada cidade por onde passou, levou esperança às artistas afegãs.
Em 2016, participou de “uma residência artística” no Hammer Museum, em Los Angeles, experiência muito marcante em sua carreira. Nesse período, Shamsia encontrou-se com artistas de rua como Kenny Scharf, pintou um mural na 4900 W. Adams Blvd, e exibiu suas pinturas na Seyhoun Gallery, em West Hollywood.
Mulheres fortes e independentes
As mulheres de Shamsia têm os lábios selados ou bocas invisíveis. Algumas carregam ou tocam instrumentos musicais, como se lhes emprestassem uma voz, uma forma de autoexpressão.
Outras, usam burqa ou hijab em tecidos transparentes, que revelam força e humanidade. Para a artista, usar burca não é o problema: “Não haverá liberdade enquanto as mulheres não puderem falar por si mesmas e serem ouvidas”. Ela quer “desestigmatizar as percepções errôneas das mulheres muçulmanas, ilustrando que remover o lenço de cabeça não é o mesmo que libertar as mulheres”, explica o site do Hammer Museum.
As refugiadas também fazem parte de sua imaginação. Shamsia as leva para uma outra cidade, em outro país, em busca de refúgio do caos de sua terra natal. “Essas mulheres que vivem em um país estrangeiro estão constantemente do lado de fora, olhando para dentro”.
É sua leitura da migração em massa de cidadãos afegãos para os países vizinhos, que ela testemunha diariamente, remetendo também à sua própria história itinerante com a família.
Observando os desenhos mais recentes produzidos por ela, podemos notar um medo maior em suas mulheres. Os dois últimos posts publicados por ela em suas redes sociais depois que publiquei este texto – em 21 e 23 de agosto, respectivamente -, são muito tocantes.
Reproduzo algumas de suas obras neste post, mas indico seu site e seu perfil no Instagram para quem quiser mergulhar em sua obra. As duas obras a seguir foram publicadas por ela em 21 e 23 de agosto e retratam o momento vivido por Shamsia na cidade que escolheu para viver, no Afeganistão.
Foi no Instagram que descobri Shamsia, num post no perfil da escritora Bianca Ramoneda, que chegou à artista por indicação de uma amiga. Bianca escreveu:
“O que acontecerá com todas elas? – pergunta meu coração aflito dia e noite. ‘Hope is always beautiful even when you know you are the looser’, ela escreveu em uma de suas obras (A esperança é sempre bela mesmo quando você sabe que é o perdedor). Recomendo muito uma ida à página dela. Para olhar, admirar e, quem sabe, deixar algumas palavras de afeto e solidariedade em nome do nosso também entristecido país”.
Na mesma rede social, a organização Caritas, que atende refugiados no Brasil, também divulgou a obra de Shamsia, com a seguinte legenda:
“Acompanhamos com tristeza e preocupação a situação da população afegã, principalmente a de mulheres e crianças. O Afeganistão é o terceiro país de onde mais saem pessoas deslocadas para outras partes do mundo, segundo dados do Acnur Brasil (2,6 milhões). Infelizmente, devido aos últimos acontecimentos, é provável que esse número aumente ainda mais nos próximos anos. Esperamos que a comunidade internacional se mobilize de modo mais efetivo por essas pessoas”.
E completou: “Hoje queremos te apresentar ao trabalho da artista afegã Shamsia Hassani, que expressa, através do grafitti e de pinturas, seus sentimentos e sua dor pela situação em sua terra natal. Ela popularizou a arte de rua na capital Kabul, e já fez exposições em países como Índia, Alemanha, Irã, Vietnã, Canadá, Itália e Dinamarca”.
Você pode acompanhar Shamsia também no Facebook e no Twitter. Agora, reproduzo mais algumas de suas obras que selecionei em seu Instagram.
Todas as imagens são reproduções de seu Instagram
As fotos sao lindas! Uma critica contrutiva: o Instagram da artista eh mencionado varias vezes. mas nao ha sequer uma vez um hyperlink para o Instragram dela <3
Olá! Você tem toda razão, claro!
Sempre indicamos as redes sociais das pessoas e das iniciativas sobre as quais escrevemos.
Mais ainda quando as descobrimos nesses perfis, como aconteceu neste caso.
Muito obrigada por me alertar: percebi que faltavam os links do site, do Instagram e das demais redes sociais.
Agora está tudo lá!
Grande abraço e obrigada por nos acompanhar.
Mônica