O uso disseminado de armadilhas fotográficas ao longo das últimas décadas por programas de conservação tem sido uma ferramenta valiosíssima no estudo da vida selvagem, como por exemplo, no melhor entendimento do comportamento de animais e também, no registro de espécies raras ou até, desconhecidas. Esse é o caso, por exemplo, da imagem de um inédito gato-palheiro-pampeano-preto, fotografado no Campo de Instrução Barão de São Borja, território do Comando Militar, no Rio Grande do Sul.
Essa espécie de felino é endêmica do bioma Pampa, no extremo sul do Brasil, Uruguai e Argentina, ou seja, ela só é encontrada ali e em nenhum outro lugar do mundo.
A coloração normal do gato-palheiro-pampeano (Leopardus munoai), também chamado de gato-palheiro-dos-pampas, varia do amarelado ao acinzentado, com listras oblíquas, distintas ou parcialmente distintas, na lateral do corpo, e negras transversais nos membros.
Pesquisadores que analisaram a imagem do gato-palheiro-pampeano-preto feita em 2021, mas que teve sua divulgação em artigo científico realizada agora, temem que a mutação genética, que ocorre por excesso de melanina na pele, pode ser decorrente do enfraquecimento da espécie.
“Talvez possa estar associada à endogamia ou enfraquecimento genético de uma população com menos de uma centena de indivíduos restantes no planeta ou talvez seja fruto de cruzamento parental”, diz Fábio Dias Mazim, zoólogo especialista em mamíferos silvestres e membro do Instituto Pró-Carnívoros.
O gato-palheiro-dos-pampas é classificado como criticamente ameaçado de extinção. Até hoje, a equipe de biólogos que monitora a presença da espécie em toda a sua área de distribuição só conseguiu sete registros por armadilhas fotográficas no Brasil, quatro na Argentina e nenhum no Uruguai.
Segundo os autores do artigo, esta é uma das espécies de felino mais ameaçadas do mundo. De acordo com o Instituto Pró-Carnívoros entre suas principais ameaças estão a transformação de seus habitas em áreas de agricultura e pastagem intensiva; a caça ou abate preventivo por retaliação à predação de aves domésticas; a transmissão de doenças a partir de carnívoros domésticos e os altos índices de atropelamentos em rodovias que atravessam o bioma Pampa.
Como é muito raro, pouco se sabe sobre os hábitos e comportamento do gato-palheiro-pampeano. Sabe-se entretanto que se alimenta principalmente de pequenos roedores
(Foto: Felipe Peters/Pró-Carnívoros)
Os cientistas envolvidos na descoberta do espécime de pelagem negro, entre eles biólogos e veterinários de diversas instituições privadas e públicas, como o Centro de Triagem de Animais Silvestres da Superintendência do Ibama no Rio Grande do Sul e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), pretendem continuar o monitoramento do animal ou de outros indivíduos e se possível, captura para a realização de exames genéticos, ecológicos e sanitários.
Um gato-palheiro-pampeano com coloração normal
(Foto: Felipe Peters/Pró-Carnívoros)
*Com informações e entrevista cedida à Agência Bori
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Foto de abertura: Fábio Mazim/Projeto Pampa Nativo