O Serviço Florestal do Suriname apreendeu nesta semana 29 araras-azuis-de-lear (Anodorhynchus leari) e sete micos-leões-dourados (Leontopithecus rosalia), vítimas do tráfico de animais silvestres, que tinham provavelmente como destino final a Europa, onde seriam vendidos.
Acredita-se que tanto as araras como os micos, espécies brasileiras endêmicas e em risco de extinção – ambas estão listadas na Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies Silvestres Ameaçadas de Extinção (CITES) e constam na Lista Federal de Espécies Ameaçadas do Brasil -, eram provenientes de nosso país e não originários de reprodução ilegal de outros lugares.
Segundo a Freeland Brasil, organização que trabalha pelo fim do tráfico de animais, as autoridades dos dois países já estão trabalhando para repatriar os animais para o Brasil.
Um dos pontos que chama a atenção na apreensão é a quantidade enorme de araras-azuis-de-lear, que de acordo com o último censo realizado em 2022 na Bahia, único refúgio da espécie no mundo, são pouco mais de 2.200 mil aves em vida livre (leia mais aqui).
Já o mico-leão-dourado, um símbolo da conservação no Brasil e que beirou à extinção em décadas passadas, hoje tem uma população estimada de 2,5 mil indivíduos, que vivem numa área de Mata Atlântica nos municípios de Rio Bonito, Silva Jardim e Casimiro de Abreu, no estado do Rio de Janeiro.
Outra questão que surpreendeu especialistas foi a idade dos animais encontrados durante a ação no Suriname. Eles eram todos adultos.
“O tráfico mais comum é de ovos e filhotes”, explica a bióloga Juliana Machado Ferreira, diretora executiva da Freeland Brasil. “Por isso é possível que esses animais tenham passado por várias etapas de cativeiro no caminho”.
Sinal disso, por exemplo, é a cor do pelo dos micos-leões-dourados, que demonstra que eles teriam ficado um tempo em cativeiro.
A investigação ainda está em andamento no Suriname, mas aponta várias nuances importantes.
“Esse caso mostra que o tráfico ainda está acontecendo, os animais estão saindo do Brasil, chegando na Europa, onde existe uma demanda. Isso é uma coisa muito preocupante e é preciso alinhar estratégias com governos europeus e autoridades aduaneiras”, ressalta Juliana.
Acredita-se que na Europa, os animais seriam entregues a criadouros e colecionadores.
A diretora da Freeland reforça ainda que o Brasil precisa estar mais atento à permeabilidade de suas fronteiras, algo que não é fácil porque o país tem uma extensão continental, grande parte dela em áreas de floresta.
“A proteção de espécies endêmicas e de distribuição restrita, como a arara-azul-de-lear, é algo urgente e premente, mas precisamos entender sobretudo como esse tráfico opera, as rotas principais e como fazer para fechar essas lacunas”, alerta a bióloga.
O tráfico ilícito de vida selvagem é estimado em mais de US$ 20 bilhões por ano. Esta é terceira maior atividade clandestina global (em volume de dinheiro), perdendo apenas para os tráficos de armas e de drogas.
Os micos-leões-dourados apreendidos no Suriname: suspeita é que eles já estavam em cativeiro
há algum tempo devido à cor do pelo
(Foto: Suriname Forest Service – cedido à Freeland o direito de uso de da imagem
para divulgação da notícia)
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Foto de abertura: Suriname Forest Service (foi cedido à Freeland o direito de uso de da imagem para divulgação da notícia)