Que vitória! Em apenas 16 dias, a empresa coreana Hyundai Construction Equipment (HCE) respondeu positivamente à campanha do Greenpeace Brasil (em parceria com o Greenpeace do leste asiático), que lançou o relatório Parem as Máquinas! Por uma Amazônia Livre de Garimpo e uma petição online (em duas semanas, arrecadou mais de 12 mil assinaturas!), em 12 de abril (como contamos aqui).
O estudo, realizado entre 2021 e 2023, denuncia a presença ostensiva de escavadeiras hidráulicas na Amazônia – presentes nos territórios Kayapó, Munduruku e Yanomami – e a ameaça que representam para os povos indígenas. Cada uma custa 1 milhão de reais e, em 24 horas, faz o trabalho que três homens levariam 40 dias para fazer!
E destaca que 42% delas (75 unidades) são da multinacional sul-coreana Hyundai HCE (Construction Equipment). Mais: que revendedores autorizados se instalaram próximos às áreas de garimpo para facilitar a venda e a manutenção dos equipamentos.
Relatório, petição, ação!
O lançamento do relatório aconteceu na internet de forma simultânea ao protesto pacífico realizado por ativistas do Greenpeace Brasil e lideranças indígenas na entrada da fábrica da Hyundai HCE, em Itatiaia (RJ): junto a um balão inflável, que simulava uma escavadeira, eles seguraram faixas com as mensagens ‘Amazônia Livre de Garimpo’, ‘Pare as Máquinas‘ e ‘Fora Garimpo’, que também foram usadas como hashtag nas redes sociais.
Enquanto isso, na Coreia do Sul, representantes do Greenpeace do Brasil e do leste asiático, na companhia de Doto Takak Ire, líder indígena Kayapó, conversaram com jornalistas em Seul para pressionar ainda mais a Hyundai HCE. E a estratégia deu certo!
Compromisso e medidas
Em 28 de abril, a Hyundai publicou comunicado em seu site (leia o texto traduzido no final deste post), no qual reconhece que “a destruição da Amazônia e a violação do modo de vida dos povos indígenas é um problema sério” e se compromete a “fazer esforços para proteger a Amazônia”.
Para tanto, já deixará de atender os três estados amazônicos onde estão os territórios Munduruku, Kayapó e Yanomami (Amazonas, Pará e Roraima) e de oferecer manutenção e peças na região até que o fortalecimento do “processo de vendas e sistema de conformidade” esteja consolidado a ponto de impedir que suas escavadeiras sejam utilizadas pelo crime na Amazônia.
A multinacional coreana também destacou que rescindirá contrato com a concessionária que fornece equipamentos para os garimpeiros e se comprometeu a cooperar com o governo brasileiro, sempre que necessário.
A Hyundai não é a única!
Para o Greenpeace Brasil, a declaração da Hyundai Construction Equipment – HCE prova que “é possível e viável para o setor privado se comprometer com a proteção do meio ambiente e dos direitos dos povos indígenas da Amazônia, e que as empresas precisam colocar as pessoas e o planeta acima do lucro”.
Sim, mas ainda falta o posicionamento das demais empresas citadas no relatório, que também produzem e fornecem, para o garimpo, escavadeiras que destroem a floresta e seus povos. São elas: LiuGong (25 unidades), Caterpillar (20) e Volvo (Suécia); Sany e XCMG (China); Komatsu (Japão); Link-Belt, John Deere, Case e New Holland (EUA) que, juntas somam 56 unidades.
A decisão da multinacional coreana é uma grande vitória para os povos indígenas, que há décadas lutam para impedir que os garimpeiros invadam seus territórios a cada dia mais devastados. “Isto mostra que a pressão pública funciona!”, nos lembra o Greenpeace Brasil.
E sem dúvida, é resultado do movimento promovido pela ONG no Brasil e na Coreia, que teve o apoio da população por meio do abaixo-assinado (que, como contei no início deste texto, arrecadou mais de 12 mil assinaturas em duas semanas!) e das redes sociais, devido ao compartilhamento da denúncia.
Mas é imprescindível e urgente que as 10 empresas citadas também se manifestem e sigam o exemplo da Hyundai, ajudando a evitar que suas máquinas sejam usadas na destruição da floresta e de seus povos.
“A luta contra o garimpo ilegal é longa e este é um primeiro passo”, destaca o Greenpeace, que acrescenta: “Além do setor privado, também precisamos que o governo brasileiro defina uma solução de longo prazo para evitar que o garimpo se expanda em Terras Indígenas”.
Ações do governo na Terra Yanomami
Apesar da triste notícia divulgada no último sábado sobre o ataque de garimpeiros à comunidade Uxiu, na Terra Indígena Yanomami – onde três indígenas foram baleados (um morreu!) -, é importante destacar o trabalho de desintrusão e de apoio a esse povo, que está sendo realizado pelo governo federal desde fevereiro, com o envolvimento de diversos ministérios e de órgãos como a Funai, o Ibama, a PRF (Polícia Rodoviária Federal), PF (Polícia Federal), Força Nacional, entre outros órgãos.
No domingo, 29/4, a ministra Sonia Guajajara sobrevoou a região com a ministra Marina Silva, do meio ambiente e declarou, em suas redes sociais, que já é visível a melhoria na crise sanitária. É visível o avanço da desintrusão [fotos abaixo] a partir das imagens do sobrevoo”.
E acrescentou: “Trata-se do resultado de uma ação integrada [interministerial], articulada, para devolver a dignidade ao povo yanomami. Cerca de 80% dos garimpeiros já saíram [das terras em Roraima], mas ainda há aqueles que resistem e insistem em permanecer”. Foram estes que atacaram os indígenas e, no dia seguinte, os agentes da PRF e do Ibama (contamos sobre o ataque aos indígena e a viagem das ministras aqui).
Sonia e Marina integram comitiva interministerial – que ainda conta com a ministra da Saúde, Nísia Trindade, e o secretário de saúde indígena, Weibe Tapeba, entre outros membros do governo – organizada a partir de reunião de emergência com o presidente Lula no domingo, que viajou para Boa Vista e para a TI Yanomami a fim de acompanhar a situação dos indígenas, as investigações sobre os crimes e intensificar as ações de desintrusão.
É esse trabalho que precisa ser ampliado para os territórios Kayapó e Munduruku (onde os indígenas fizeram autodemarcação e vigiam suas terras), entre outras pelo país que também estão sob ataque, mas de outro tipo de invasores: fazendeiros, grileiros e madeireiros.
Foto (destaque): Tuane Fernandes/Greenpeace Brasil