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Anitta homenageia ‘Cabocla Jurema’ no Carnaval com figurino produzido por artesãs indígenas

Com tantas informações acessíveis, hoje é inconcebível que alguém ainda se fantasie como indígena para se divertir no Carnaval. Líderes e comunicadores de diferentes etnias têm falado sobre o assunto e esclarecido porquê essa apropriação é desrespeitosa. E a primeira aparição da cantora Anitta no Carnaval de Olinda, no último sábado, visivelmente caracterizada como indígena, trouxe a questão à baila.

Afinal, o que ela fez foi homenagem? Ou apropriação cultural? No dia seguinte ao show, a artista falou de sua intenção e da origem da roupa. E foi reconhecida e celebrada por Sonia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas.

Belíssima, Anitta usou top, saia e adereços produzidos com miçangas e sementes de tiririca. A ideia foi dela, que queria homenagear a religiosidade afro-brasileira, que faz parte de sua espiritualidade, e por isso escolheu a Cabocla Jurema – entidade espiritual cultuada na Umbanda – para representar as guerreiras indígenas nessa festa popular.

Em suas redes, contou: “Esse look em homenagem à Jurema me enche de orgulho, porque a história dela fala muito sobre força. Sempre sonhei em homenageá-la de alguma forma. Fazer isso no Carnaval é muito especial para mim!”. 

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Para chegar ao novo figurino, ela contou com a parceria da stylist Clara Lima, que elaborou o visual e – por indicação de Ana Suely Cabral – encomendou as peças às artesãs Tentehar da aldeia Ypaw Myz’ym [Lagoa Quieta], na Terra Indígena Arariboia, do Maranhão, como forma de reconhecimento de sua cultura e de seu talento.

“Foi assim: de forma muito simples, mas muito dedicada, que produzimos essa peça incrível da Anitta. Dia e noite as guerreiras Iratu Elisa e Marina Guajajara se esforçaram para entregar o melhor para a querida Anitta”, contou o coletivo de artesãs Ma’irTamakyxa no Instagram.

Clara revelou que as artesãs dedicaram dois meses e meio para produzir “essa roupa tão linda cheia de história e amor” e que aceitam encomendas pelo Instagram. “Logo mais faremos um site”, contou.

Reconhecendo o “look lindo feito pelas maravilhosas @mairtentehar“, Anitta fez um convite a seus fãs: “Venha conhecer o trabalho dessas guerreiras do Brasil!”.

Parceria histórica

Assim que a cantora apresentou o novo figurino em suas redes, Sonia Guajajara (que nasceu na TI Arariboia) celebrou a homenagem e destacou a importância desse trabalho, comentando no post da cantora e também em seu perfil na mesma rede social.

“A querida Anitta mostrando como se valoriza a cultura, fortalecendo as artesãs indígenas e homenageando nossa tradição secular de uma maneira linda!”, declarou a ministra.

“Em homenagem à entidade da Cabocla Jurema, Anitta e a estilista Clara Lima se uniram ao talento das artesãs Guajajara (Ma’ir Tentehar) da minha querida aldeia Lagoa Quieta, para construir essa arte maravilhosa. Visibilizando traços fortes que resistem em nosso povo. A parceria é extremamente simbólica e marcará a história”.

Sonia destacou, ainda, que as peças exclusivas foram criadas “com todo o respeito e o consentimento do nosso povo, que não se sente apropriado nesta situação e, sim, fortalecido e reconhecido”. E explicou:

Apropriação cultural se dá somente quando utilizam de nossos costumes e artigos sem o nosso consentimento, o que não foi o caso, aqui, já que temos respeito mútuo e admiração pela talentosa Anitta”.

Sonia ainda contou que as peças foram produzidas “aos moldes Guajajara, com a padronagem especial da festa do mel usando miçangas e titiricas”. E arrematou: “É moda, é arte, é cultura e é isso que a gente precisa, de pessoas que valorizem também esses diversos modos de vida e essa diversidade que é o nosso Brasil”.

Não se trata de fantasia!

O comunicador indígena Tukumã Pataxó é conhecido por disseminar, em seu Instagram, informação e conhecimento sobre os costumes e a identidade dos povos indígenas.

Ele é um dos indigenas que mais têm tentado esclarecer sobre o desrespeito aos costumes desses povos, também no que se refere aos trajes que se apropriam de sua identidade e cultura.

E, claro, comentou o figurino da Anitta, perguntando a opinião de sua audiência. “Vocês viram esse look da Anita? O que vocês acharam? Foi apropriação cultural? Ou valorização cultural?”.

Depois de contar sobre a ideia e a elaboração do figurino, provocou: “Mas ela fez certo ou errado em usar esse figurino no Carnaval?”.

“Não se trata de fantasia! E, sim de uma roupa artesanal confeccionada por mulheres indígenas, valorizando o trabalho dessas artistas”, esclareceu. E simulando mais uma questão que poderia vir de seus seguidores, perguntou: “Mas, Tukumã, por que?”.

Respondeu: “Diversos artistas usam marcas e roupas de estilistas. Por que não usar uma roupa feita por artistas indígenas?”, e convidou seus seguidores a deixarem sua opinião nos comentários. Foi polêmico.

Uns consideraram oportunismo porque Anitta se vestiu de indígena no Carnaval e não na cerimônia do Grammy. Outros entenderam a atitude como uma forma de valorizar as artesãs indígenas porque a cantora deu os créditos e convidou seus fãs a conhecerem o trabalho desenvolvido por elas. Outros ainda disseram que chamar as indígenas de ‘artesãs’ é desmerecer o trabalho delas… Interessante ler todos os argumentos (reproduzo o post de Tukumã abaixo), também de pessoas que se dizem estudiosas de temas étnico-raciais. 

Sem dúvida, devido à sua visibilidade, Anitta ajudou a fortalecer o debate que deve prosseguir por mais alguns carnavais. Mas o que fica deste episódio é que muitos compreendem bem a diferença entre apropriação e valorização de uma cultura.

E você? Qual sua opinião? Anitta explorou a identidade indígena ou ajudou a fortalecê-la?

Agora, veja os posts da Anitta, da Sonia Guajajara e do Tukumã Pataxó.

Fotos: divulgação/Anitta

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