“Criar um futuro melhor para as mulheres significa construir pontes – entre gerações, comunidades e fronteiras. Essas líderes extraordinárias estão trabalhando para um mundo mais igualitário”. É desta maneira que a revista americana Time apresenta as doze personalidades escolhidas em 2023 para receber o título de “Mulheres do Ano”. Entre elas aparece uma única brasileira, Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial.
Segundo a publicação internacional, as dozes mulheres escolhidas estão usando suas vozes para lutar por um mundo mais justo, onde todos, independente de gênero, tenham direitos iguais. Elas pertencem às mais diferentes áreas: o mundo das artes é representado pela atriz australiana Cate Blanchett, o dos esporte spela jogadora de futebol americana Megan Rapinoe e o do ativismo climático pela paquistanesa Ayisha Siddiqa (veja a lista completa aqui).
Já Anielle Franco entrou na política após sua irmã ser brutalmente assassinada no Rio de Janeiro. A vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes foram executados em março de 2018. Até hoje não se sabe quem foram os mandantes do crime.
Cinco anos depois, a professora e fundadora do Instituto Marielle Franco, trabalha em Brasília, a convite do presidente Lula. Assumiu o cargo em janeiro, quando se emocionou ao mencionar a irmã no discurso. “O racismo merece um direito de resposta eficaz. Nós estamos aqui porque temos um projeto de país. Um projeto de país em que uma mulher negra possa acessar e permanecer em diferentes espaços de decisão sem ter a sua vida ceifada com cinco tiros na cabeça”, declarou.
Em entrevista à Time, a brasileira disse que sempre foi mais tímida e via Marielle, cinco anos mais velha, como a líder. Agora, aos 38 anos – idade com a qual a irmã morreu -, diz estar pronta para o desafio. “Perdi o medo quando mataram minha irmã. Agora eu luto por algo muito maior do que eu”.
Quando era jovem, Anielle foi jogadora de vôlei. Começou aos 8 anos, lá mesmo na comunidade onde cresceu, a favela da Maré. Aos 16 anos ganhou uma bolsa para fazer parte do time do Navarro College, no Texas, nos Estados Unidos. Lá teve a chance de não apenas aprender a falar inglês, mas cursar jornalismo numa instituição conhecida pelo engajamento com a comunidade negra. “Eu não imaginava o quão incrível seria. Em termos de cultura, representação e minha compreensão da agenda antirracismo”.
Agora, no comando do Ministério da Igualdade Racial, ela usa a dor de sua perda e todo conhecimento conquistado durante sua carreira, quer dar um basta no que chama de “genocídio da população negra” do Brasil.
“Espero que os negros assumam o lugar de protagonistas em nossa sociedade, e não apenas na primeira página dos jornais como vítimas de um genocídio. Só então o Brasil poderá se tornar o país do samba, do futebol, de tanta coisa boa”, sonha ela.
Anielle, no alto à esquerda, ao lado das demais “Mulheres do Ano” da Time em 2023
(Foto: divulgação Time)
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Foto de abertura: Ricardo Stuckert/Fotos Públicas