Uma excelente notícia para começar o ano. Que siga assim! O Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgou nesta sexta-feira os dados sobre os alertas de desmatamento na Amazônia em janeiro. Foi registrada uma queda de 61% em relação ao mesmo mês do ano passado. De 430 km² devastados, a área caiu para 167 km² nos primeiros dias de 2023.
Vale ressaltar que isso está longe de ser pouco. É o equivalente a área da cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte. Todavia, é a quarta menor taxa registrada pelo instituto para o mês de janeiro desde que começaram essas medições em 2015.
A redução no desmatamento em janeiro pode ser explicada pela posse do novo governo, que prometeu combater a destruição no bioma. Mas ainda é precoce acreditar numa reversão do aumento da devastação da floresta e das atividades ilegais na região.
“É positiva a observação de uma queda relevante nos dados de desmatamento de janeiro de 2023 (especialmente na Amazônia), em relação ao mesmo período do ano passado. Entretanto, ainda é cedo para falar sobre uma reversão de tendência, já que parte desta queda pode estar relacionada com uma maior cobertura de nuvens no período. O sistema DETER usa imagens de satélites com sensores ópticos que podem ser afetados pela ocorrência de nuvens. Portanto, precisaremos estar atentos aos dados dos próximos meses”, explica Daniel E Silva, especialista em Conservação do WWF-Brasil.
Esta semana, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, deu início ao trabalho da comissão interministerial que tem como objetivo zerar o desmatamento em todos os biomas do Brasil até 2030. O novo plano desenvolvido para essa missão substitui o PPCDAm, de 2004, tem como meta ainda reduzir emissões de gases de efeito estufa.
“É importante que o Brasil retome o seu papel de liderança ambiental no cenário internacional. Há oportunidade para nos tornarmos referência em produtividade sustentável, agricultura regenerativa, captarmos recursos no mercado de carbono e termos condições comerciais e financeiras diferenciadas por compromissos socioambientais que sejam encampados pelo governo e o setor privado. Chegou também a hora de abrirmos os olhos para os riscos de exclusão de mercados mais exigentes, como o europeu, que fechou as portas aos produtos agropecuários associados ao desmatamento”, ressalta Frederico Machado, especialista em conservação e líder da Estratégia de Conversão Zero do WWF-Brasil.
Desmatamento do Cerrado continua em alta
Apesar da redução nos alertas de desmatamento na região amazônica em janeiro, os índices no Cerrado continuam preocupantes. No primeiro mês deste ano foram destruídos 442 km².
Ocupando quase 25% do território brasileiro, o bioma é o segundo maior do país e um dos mais ameaçados. Chamado de berço das águas, nele estão a bacia hidrográfica do rio São Francisco e três aquíferos – Guarani, Bambuí e Urucaia. Essa savana, considerada a mais biodiversa do mundo, concentra 5% das espécies do planeta e conta com a presença de comunidades tradicionais, que através de ativistas extrativistas, mas sustentáveis e sem impacto ambiental, são exemplo para o mundo.
Em janeiro, Bahia e Piauí foram os estados que apresentaram as mais altas taxas de desmatamento no Cerrado, 156 km² e 124 km². Os dois fazem parte da região conhecida como Matopiba (que engloba Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), considerada a principal fronteira de expansão agrícola no Brasil.
“Os ecossistemas brasileiros foram vítimas de uma política anti-ambiental criminosa, que visou prioritariamente a ‘passada da boiada’ em detrimento da proteção do precioso patrimônio natural pertencente a todos os brasileiros. O Cerrado já perdeu quase 50% da sua cobertura original, e as taxas de desmatamento anual, proporcionalmente, são ainda maiores que os graves números que temos observado para a Amazônia. Isso significa que, por ora, ainda não temos o que comemorar, mas sim muito trabalho a ser feito pela frente”, alerta Machado.
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Foto de abertura: Neil Palmer/CIAT/Creative Commons/Flickr