Assim que se instalaram as medidas restritivas de circulação devido à pandemia da Covid-19, em março de 2020, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) lançou ação de doação de alimentos para atender famílias vulneráveis – nas cidades de Recife, Olinda, Caruaru, Garanhuns, Vitória de Santo Antão, Petrolina, entre outras -, que chamou de Mãos Solidárias.
No início, o atendimento focou em famílias em situação de rua, mas, aos poucos, as dezenas de marmitas que saiam de uma central do MST se transformaram em milhares, em um trabalho diário realizado por militantes e voluntários.
Para se ter ideia da dimensão da iniciativa, só na região metropolitana de Recife foram distribuídas cerca de 1,6 milhão de marmitas.
Ontem, 26/10, o projeto recebeu o prêmio Pacto Contra a Fome, da ONU (Organização das Nações Unidas), organizado por duas de suas agências: a Unesco (para a Educação, Ciência e Cultura) e FAO (para Alimentação e Agricultura).
Na cerimônia, o prêmio foi entregue a Paulo Mansan, um dos idealizadores da ação e membro da coordenação nacional do MST e Fabíola Amaro, integrante do MST e da coordenação do projeto.
“No início da pandemia, com o lockdown, aqui em Pernambuco, dentro do Armazém do Campo do Recife, a gente criou algo chamado Marmita Solidária, que nós poderíamos dizer que foi o primórdio de tudo. Nos arriscamos a dizer, inclusive, resultado de toda a solidariedade nesse período pandêmico do Brasil, não só do MST, mas de várias outras organizações”, declarou Mansan.
Cozinhas Solidárias
A iniciativa Mãos Solidárias cresceu e levou à criação de cozinhas solidárias, bancos de alimentos, hortas comunitárias, farmácias vivas, entre outras ações para o combate à fome e ao coronavírus.
Para tanto, formou mais de 1500 Agentes Populares de Saúde para atuarem em comunidades periféricas urbanas e rurais.
Mesmo com o fim das medidas restritivas, as atividades da campanha do MST tiveram continuidade e foram absorvidas em sua na estrutura organizacional para o combate à fome e à insegurança alimentar.
Neste ano, em julho, as iniciativas das cozinhas do Mãos Solidárias, do MST, e das Cozinhas Solidárias, do MTST – Movimento de Trabalhadores sem Teto (sobre as quais contamos aqui, em março de 2021), tornaram-se política pública devido à iniciativa do deputado federal Guilherme Boulos (PSoL/SP).
Boulos foi relator do Projeto de Lei 2920/2023 – aprovado na Câmara dos Deputados e no Senado -, que, transformado em lei, criou o Plano Nacional de Cozinhas Solidárias, integrado ao PAA – Programa de Aquisição de Alimentos do Governo Federal, que garante a compra de alimentos produzidos por cooperativas, agricultores urbanos e periurbanos, nas periferias da cidade, priorizando a aquisição de produtos orgânicos e sustentáveis.
Na ocasião, Boulos declarou: “As Cozinhas Solidárias serão um dos pilares da política do governo Lula para o combate à fome. Com a iniciativa, o Brasil terá, pela primeira vez na sua história, uma rede de cozinhas com distribuição gratuita de refeições para a população vulnerável”.
Em seu site, o MST conta que, na última semana, durante a celebração dos 20 anos do PAA, foi liberado fomento para o Programa Nacional de Cozinhas Solidárias – R$ 30 milhões – para apoiar experiências em nível nacional.
“A gente recebeu com muita alegria a notícia que as Cozinhas Solidárias se tornaram lei, por conta da iniciativa do deputado federal Guilherme Boulos. Nesse processo fizemos muitas trocas, ajudamos com as cozinhas do MTST também em Pernambuco. Eles têm duas [em Pernambuco], então todo mundo se ajuda. É um grande mutirão de solidariedade e a lei do PAA vai ajudar a potencializar”, destaca Mansan.
A verba foi liberada, mas ainda falta o lançamento oficial do programa. “A expectativa é nós fazermos o lançamento desse programa, agora, no PAA para as Cozinhas: há um pré-indicativo de que isso aconteça no início do mês de novembro”, finaliza.
Foto: MST/divulgação