Hoje, compartilho com você alguns dos causos que já vivi com os ribeirinhos. Eles moram em pequenas comunidades, espalhadas dentro da floresta. Sinta-se presenteado pela simplicidade que vem diretamente destas pessoas. Vamos lá?
Eu navegava no barco do Instituto Socioambiental (ISA) quando vi a simplicidade e a alegria juntas, em um só barquinho de madeira quase na fronteira entre Amazonas e Roraima. A mãe comandava o caminho, sentia a direção do vento e desviava dos galhos submersos, enquanto os filhos se seguravam, equilibrando-se entre caixas de comida e as ondas do rio, em momentos de diversão e liberdade. A abertura daqueles bracinhos me trouxe a alegria de viver em simplicidade dentro e fora de mim. Doçura. Momento de pura doçura.
Com essas crianças, me vi de volta aos melhores momentos de minha alma infantil. Quando me viram, fotografei. Ao verem-se na tela da câmera, começaram a rir e pediram mais. Seguimos assim por um bom tempo, nos fotografando e rindo de nós mesmos nas imagens. Esta, que compartilho com você – eu sei que não tem qualidade, mas não importa -, carrego comigo sempre. Ela segue impressa, nas paredes das várias casas onde morei depois daquele encontro. Com suas faces, é como se elas me olhassem e dissessem: “Está tudo bem. Sorria com a gente porque vai dar tudo certo. As coisas não estão tão difíceis assim!”
Na casa do Seu Prachedes eu vi a produção de farinha pela primeira vez. Tem que ter braços fortes para produzir o alimento que, feito da mandioca, é a base da alimentação de muitas famílias ribeirinhas. Nos conhecemos durante uma expedição do Instituto de Pesquisas Ecológicas (Ipe) pelo rio Cuieiras, no Amazonas. Aquele sorriso dele me encantou! Da casa de farinha, ele me convidou para entrar em seu lar e deixei meus chinelos do lado de fora da porta da casinha feita de madeira. Sentamos juntos na sala, com sua esposa e mais dois pesquisadores. Tomamos um cafezinho. Olhei para fora e enxerguei a floresta. Que vida mais abençoada, Seu Prachedes!
Eu a vi e imediatamente me apaixonei. Ela estava na beira do rio com sua cesta enorme. Trabalhava. Lavava frutas. Ela iluminava – sabe quando uma pessoa tem brilho próprio e tão grande que chega a nos dar paz? Me aproximei. Perguntei se poderia tirar uma fotografia. Ela deixou. Quando se viu, reagiu. É que, em uma longa vida cuja idade nem ela mais se lembra, ela nunca antes havia se visto em uma fotografia. No fim das contas, nos olhamos e rimos.
Vida que segue. Vida bonita. Vida simples. Vida ribeirinha.
Fotos: Arquivo Pessoal
Isso me impactou!