Nesta terça-feira (01/04) começou mais uma etapa das demissões em massa já anunciadas pelo governo de Donald Trump nos Estados Unidos. Dessa vez, o Secretário de Saúde, Robert Kennedy Jr., ordenou o corte de cerca de 10 mil empregos no Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), no Departamento de Alimentação e Medicamentos (FDA) e no Instituto Nacional de Saúde (NIH). Há um mês, aproximadamente 10% dos cientistas da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA), um dos principais institutos de pesquisa do clima do mundo, foram demitidos também, um ataque claro à ciência que foi denunciado em um editorial pela revista Nature.
E apesar do ambiente de medo que se instaurou no país, quase 2 mil membros da Academia de Ciências, Engenharia e Saúde dos Estados Unidos, entre eles alguns dos principais nomes de suas áreas e professores das mais renomadas universidades, divulgaram uma carta aberta ao povo americano alertando sobre o perigo que as ações de Trump representam.
“Por mais de 80 anos, investimentos inteligentes do governo dos EUA fortaleceram o empreendimento de pesquisa do país, tornando-o invejado pelo mundo. Surpreendentemente, o governo Trump está desestabilizando esse empreendimento ao cortar o financiamento para pesquisas, demitir milhares de cientistas, remover o acesso público a dados científicos e pressionar pesquisadores a alterar ou abandonar seu trabalho por motivos ideológicos”, dizem os signatários do documento.
Os autores da carta relatam o corte do financiamento para agências e trabalhos em laboratórios, término de bolsas para cientistas até a proibição de colaboração internacional. As medidas obrigaram universidades e instituições a interromper importantes pesquisas (incluindo estudos de novos tratamentos para doenças), demitir profissionais e parar de matricular alunos de pós-graduação.
“Vemos um perigo real neste momento. Temos crenças políticas diversas, mas estamos unidos como pesquisadores no desejo de proteger a investigação científica independente. Estamos enviando este SOS para soar um alerta claro: a ciência do país está sendo dizimada.”
Eles denunciam ainda como a Casa Branca está investigando o trabalho de mais de 50 universidades, estratégia evidente de chantagem e dominação, enviando uma mensagem de que se elas não seguirem as novas normas de Trump, perderão investimentos. Foi o caso, por exemplo, da Universidade de Columbia, em Nova York, notificada recentemente de que seu financiamento federal seria retido, a menos que adotasse políticas disciplinares e desabilitasse um departamento acadêmico visado pela administração.
Com medo de serem perseguidos, perderem financiamento, ou até demitidos, muitos cientistas estão retirando seus nomes de publicações, abandonando estudos e reescrevendo propostas de bolsas e artigos para remover termos como mudança climática, já que a atual administração Trump nega o aquecimento global e anunciou, inclusive, a revisão dos impactos de gases de efeito estufa.
“A busca pela verdade – a missão da ciência – exige que os cientistas explorem livremente novas questões e relatem suas descobertas honestamente, independentemente de interesses especiais. A administração [Trump] está praticando censura, destruindo essa independência. Ela está usando ordens executivas e ameaças financeiras para manipular quais estudos são financiados ou publicados, como os resultados são relatados e quais dados e resultados de pesquisas o público pode acessar. O governo está bloqueando pesquisas sobre tópicos que considera questionáveis, como mudanças climáticas, ou que produzem resultados que ele não gosta, em áreas que vão desde a segurança das vacinas até tendências econômicas”, diz a carta.
Ao final do texto, os cientistas ressaltam que o impacto dessas medidas pode levar anos para ser revertido e pedem que a população pressione os políticos de seus estados. “A voz da ciência não deve ser silenciada. Todos nós nos beneficiamos da ciência e todos temos a perder se a pesquisa do país for destruída.”
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Foto de abertura: divulgação White House Flickr
