Após apresentações em teatros do Rio de Janeiro e de São Paulo, ontem (18), domingo, a atriz Fernanda Montenegro fez uma apresentação única e muito especial, que reuniu o maior público dos seus 80 anos de carreira. Ela levou, para o belo Auditório Oscar Niemeyer e uma grande área externa no Parque Ibirapuera – duas plateias! -, mais de 15 mil pessoas (segundo a organização, foram 15,8 mil), que queriam ouvi-la ler e interpretar trechos da obra da escritora, pensadora e ensaísta feminista Simone de Beuvoir (1908-1986).
Manteve todos absortos pelo fascínio de seu talento, num cenário absolutamente minimalista. No gramado, o público assistiu ao espetáculo por um enorme telão. Hoje, as redes sociais amanheceram lotadas por vídeos produzidos de todos os ângulos, na plateia externa, por fãs da atriz de 94 anos.
Aplaudida infinitas vezes durante o espetáculo, no final, mais emoção: a parede que separa o palco do gramado, e estava atrás de Fernanda, foi içada para que ela pudesse sentir a dimensão do público presente e viver um momento mágico: foram longos minutos de aplausos emocionados, vindos das duas plateias.
E, em seguida, o coro de “Parabéns pra você” para celebrar os 95 anos que Fernanda Montenegro completará em 16 de outubro. “Presente de aniversário!”, disse ela.
“Muito obrigada! Por mais que eu agradeça, não corresponde à emoção que estou vivendo neste momento”, declarou ela, muito emocionada e de mão dada com Fernanda Torres – sua filha, atriz e escritora, que a apresentou ao público antes do espetáculo.
“Os olhos já não são os mesmos, os ouvidos já não são tão bons. Todo o sistema motor também já não está tão bem, mas ainda está sujeito, verbo e predicado inteirinho aqui dentro, entendeu? Então, enquanto isso aqui [mente] estiver funcionando, e eu tiver alguma possibilidade de me expressar, de que maneira for, vocês vão me aguentar. Vão me aguentar porque é impossível parar. Não dá pra parar. É uma vocação, entendeu?”, declarou ela.
Assim, a gente quer, Fernanda. Que você ainda nos surpreenda e nos emocione muitas vezes com seu talento.
Liberdade e revolução
O encontro da atriz Fernanda Montenegro com a obra de Simone de Beauvoir aconteceu quando ela tinha 20 anos. “Essa fundamental feminista é uma personalidade referencial na minha geração”, conta ela.
O espetáculo inicial, baseado em uma de suas obras, foi proposto em 2007 pelo ator e diretor Sérgio Britto – já com a saúde extremamente debilitada -, mas nunca realizado.
“A ideia permaneceu em mim através de outra criação de Simone de Beauvoir: A cerimônia do Adeus. Durante dois anos, organizei rigorosamente essa importante obra”.
O texto ficou pronto e ganhou o título Viver Sem Tempos Mortos, além de encenação referencial de Felipe Hirsch, direção de arte de Daniela Thomas e iluminação de Beto Bruel. Mas, antes de ir para o teatro, Fernanda realizou a primeira leitura da obra em março de 2023, na Academia Brasileira de Letras.
Em seguida vieram duas apresentações no Teatro Poeira, no Rio de Janeiro, “já com aceitação total da plateia”, diz ela, e inclusão de trechos de outras obras da escritora francesa.
“Ao ler, no palco, Simone de Beauvoir, nós nos conscientizamos da liberdade que essa Mulher se impôs e propôs a todas as gerações que a sucederam”.
Para celebrar oito décadas de carreira, Fernanda escolheu uma obra poderosa – leituras, discussões, pensamentos – “cuja temática é a visão libertária, revolucionária e estruturada por Simone de Beauvoir sobre o feminismo e, de forma comovente, sua ligação de vida junto a Jean-Paul Sartre’, descreve o site que distribuiu os ingressos gratuitos.
Fernanda assina a dramaturgia, a direção e a seleção musical do espetáculo. Tudo com maestria. Um primor.
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Foto (destaque): montagem com imagens reproduzidas da TV Globo (Fernanda) e do Instagram de Thyago Nogueira